Em fevereiro de 1986, a Globo colocou no ar o remake de ‘Selva de Pedra’. A versão original, exibida 14 anos antes, foi um dos maiores sucessos da emissora. Nossa indicada ao Oscar Fernanda Torres, então com 20 anos, assumia a personagem interpretada por Regina Duarte, a injustiçada e sofredora Simone.
Com pouca experiência em TV, a filha de Fernanda Montenegro não fazia ideia do que era estrelar uma novela das 8 no maior canal do País. “Odiei, odiei. Aquele papel de mocinha, que ficava chorando, e eu não sabia o volume de gravação”, disse à TV Cultura em 2024.
Ser protagonista significa gravar cerca de 8 a 12 horas por dia, de segunda a sábado. A quantidade de texto a decorar é assustadora. Sobra pouco tempo para a vida pessoal. Há ainda a pressão por desempenho e audiência.
‘Selva de Pedra’ estreou após o fenômeno ‘Roque Santeiro’. Não foi um sucesso imediato. Fernanda Torres recebeu críticas negativas na imprensa. O clima pesou a ponto de a artista ter problemas de comportamento.
“Virei um monstro. Tenho vergonha até hoje do Tony Ramos, eu peço desculpa. Virei uma colega horrível de trabalho, fiquei mal-humorada”, admitiu. Tony era seu galã na trama, o empresário Cristiano.
A experiência emocionalmente exaustiva produziu trauma: Fernanda nunca mais aceitou papel fixo em novela. Em 2001, topou viver sua mãe jovem em algumas cenas de ‘As Filhas da Mãe’, trama das 7 que foi uma catástrofe de audiência. Quase ninguém lembra de sua participação.
Os melhores papéis de Nanda, como é chamada por colegas nos bastidores, foram em séries: a tresloucada Vani de ‘Os Normais’ e a desnorteada Fátima de ‘Tapas & Beijos’. Vale citar também a ambiciosa Maria Teresa de ‘Filhos da Pátria’.
Em recente entrevista ao programa norte-americano ‘Collider Ladies Night’, a artista afirmou ter redescoberto a teledramaturgia ao fazer humor. “Porque eu não precisava chorar”, brincou, relembrando ‘Selva de Pedra’. “É só se divertir.”
Em razão dos papéis cômicos, Fernanda Torres acreditava que nunca mais um diretor renomado a chamaria para um papel dramático no cinema. Eis que Walter Salles liga para ela após Mariana Lima desistir de interpretar Eunice Paiva em ‘Ainda Estou Aqui’. O resto é história. Bela e surpreendente história da reinvenção de uma atriz aos 59 anos.