A morte, aos 48 anos de Lee Sun-kyun, ator do filme ganhador do Oscar ‘Parasita’, aumenta a lista de artistas sul-coreanos que deixaram a vida de maneira tristemente estranha. No caso dele, foi encontrado dentro do carro em um parque. Segundo a imprensa de Seul, havia um bilhete de despedida.
Em 2023, outras celebridades do país asiático conhecido pelas bandas de K-pop e as séries do gênero dorama morreram jovens e de maneira não natural. Entre elas, a atriz Jung Chae-yull, 26 anos, e os cantores Moon Bin, 25, Haesoo, 29, Choi Sung Bong, 33, e Nahee, 24.
Matéria recente do The Herald Korea apontou uma explicação para tantas tragédias parecidas: a Coreia do Sul tem a maior taxa de suicídio entre as 38 nações da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Por lá, a taxa de suicídios é de 25,2 mortes a cada 100 mil pessoas, sendo uma das principais causas de óbito entre sul-coreanos de 10 a 49 anos. No Brasil, em 2022, foram 8 suicídios por 100 mil habitantes, 3 vezes menos.
Análise fria das mortes de celebridades indica o óbvio: fama e dinheiro não garantem felicidade e o bem-estar da mente. Aplausos e ‘likes’ não preenchem o vazio existencial. A pressão para estar sempre bonito, alegre e autoconfiante é um veneno que intoxica as fragilidades humanas.
Para um olhar científico sobre a questão, o blog consultou Alexandre Bez, psicólogo com especialização em transtornos emocionais pela Universidade da Califórnia (UCLA) e relacionamentos pela Universidade de Miami.
Por que as taxas de suicídio aumentam tanto em países pobres como nos desenvolvidos, a exemplo da Coreia do Sul?
A conduta suicida é uma questão clínica já intrínseca ao aparelho mental. Pode ser dormente ao longo da vida ou ser despertada por algum estímulo externo, como o desespero pela falta de itens básicos comuns em países pobres (comida, saúde, educação, etc.) ou solidão extrema e cobrança pelo sucesso, recorrentes em países ricos.
A alta incidência de suicídios entre jovens artistas sul-coreanos seria motivada pela pressão imposta pela fama?
A ideia de que sucesso e riqueza fazem as pessoas serem felizes é ilusória, pois as conquistas perdem importância caso o indivíduo seja solitário, ou já tiver desenvolvido algum nível de depressão, componente que potencializa o desejo de tirar a própria vida. A superexposição que vem com a fama também coloca pressões de determinada conduta que a pessoa deve seguir para ser aceita pela sociedade onde vive e seus fãs. Quando existe algum conflito entre o que o sujeito é, faz ou fala, com aquilo que seu público espera dele, vemos os conhecidos cancelamentos e linchamentos virtuais, que podem levar a pessoa pública à humilhação, sendo um forte ‘gatilho negativo psicológico’ para o suicídio. A diferença entre quem consegue ou não passar por situações assim são o equilíbrio emocional interno e a estabilidade química neuro-psicológica.
Vivemos o auge da era da comunicação e, paradoxalmente, as pessoas se sentem cada vez mais solitárias. Como explicar?
As relações da atualidade se caracterizam, em sua maioria, pela superficialidade. Independentemente de serem relações familiares, de amizade, afetivas ou profissionais, a pessoa muitas vezes conhece o outro apenas por aquilo que ele publica nas redes sociais, e quando tem a oportunidade de estarem juntos, pode surgir até um constrangimento com a conversa cara a cara. Esses relacionamentos rasos vão aumentando cada vez mais o vazio interno e podem desenvolver diversos males, como a depressão, que é uma tristeza crônica e constante.
Toda pessoa com pensamentos suicidas apresenta sinais? Como ajudá-la?
Não necessariamente. A principal observação a ser tomada é a verbalização. A melhor ação de prevenção é escutar os relatos e as reclamações do paciente, companheiro, amigo ou parente, dando credibilidade às suas falas. Estar atendo aos que estão à nossa volta faz toda a diferença para ajudar quem passa por situações mentais e emocionais adversas.
Qual orientação a quem está em sofrimento emocional?
Mantenha a mente ocupada diariamente. Pratique exercícios físicos. Faça tratamento psicoterapêutico, conciliando Psicologia e Psiquiatria. Não se isole do convívio social. Evite o consumo de álcool e drogas. Consuma alimentação saudável e tenha boas noites de sono. Procure não se entreter com filmes de drama ou terror. Caso seja possível, não more sozinho. Ter um animal de estimação pode servir como apoio emocional.
Atenção: em caso de sofrimento emocional, você pode ligar gratuitamente para 188. Os atendentes do CVV (Centro de Valorização da Vida) estão disponíveis 24 horas para conversar, sem julgamentos ou críticas, respeitando os sentimentos de quem procura ajuda. Busque tratamento especializado com psicólogo ou psiquiatra para garantir sua saúde mental.