Em cartaz até 28 de agosto, o espetáculo 'Evita Open Air' tem dado o que falar tanto pela história contada nos palcos, quanto pelos conflitos dos bastidores. O ator Cleto Baccic, de 52 anos, que interpreta o rígido Juan Perón, diz que sofre bullying da comunidade artística.
O motivo? As pessoas acham que ele é beneficiado com grandes papéis por trabalhar por trás dos espetáculos. Baccic é sócio do Atelier de Cultura, empresa que produz o espetáculo, e já deu vida ao excêntrico Willy Wonka no teatro.
"Muita gente não gosta de mim. A minha empresa é a produtora de espetáculos, assim como de 'Evita', porém, todas as peças que faço sou submetido a testes e aprovações", declarou, em entrevista ao Terra.
De acordo com Baccic, mesmo realizando teste dentro da própria empresa, ainda há possibilidade de não conseguir os papéis principais. Isso porque, em espetáculos franqueados, como os de Andrew Lloyd Webber, o elenco principal precisa passar pelo crivo das empresas, geralmente internacionais, que detêm os direitos intelectuais da obra.
Após serem aprovados em etapa nacional, os escolhidos passam para a etapa internacional. Em caso de rejeição, a peneira deve ser refeita. Para evitar insubordinação, segundo Baccic, as empresas costumam mandar seus respectivos CEOs para acompanhar a estreia de cada peça e checar se está tudo realmente como deveria estar.
"Sim, sou favorecido pelo meu aspecto empresarial, mas trabalhei bastante para conquistar meu espaço como produtor e ator. Sofro bullying, o povo acha que protagonizo apenas porque sou produtor dos espetáculos. Até posso ser indicado para o teste, mas bancar o talento na frente da direção é outra história [...] e, mesmo favorecido, eu preciso ser submetido ao crivo dos estrangeiros", diz ele, que venceu o prêmio APCA 2014 na categoria 'Melhor Ator', por sua interpretação de Cervantes / Don Quixote.
A missão e os desafios de Perón
Desta vez em 'Evita Open Air', Cleto Bacci dá vida a Juan Perón, marido de Evita Perón que foi eleito três vezes ao cargo de presidente da Argentina. O musical, montado em uma megaestrutura ao ar livre, no Parque Villa-Lobos, em São Paulo, conta a história da ex-primeira-dama argentina que foi um expoente do feminismo latino. A peça fica em cartaz até 28 de agosto.
Ainda se adaptando com a estrutura ao ar livre, Cleto Bacci segue uma "rotina de atleta" para manter a imunidade em dia. Em meio às adversidades meteorológicas, como uma ventania inesperada, um pássaro que invade o cenário ou até mesmo o frio de São Paulo, ele encara um grande desafio para sua carreira: sair de um personagem excêntrico e espalhafatoso, com Wonka, para um político severo e firme.
"Ter que engolir um gestual que não tem nada a ver com a minha vida é algo que me desafia. Sou totalmente agitado, e me colocar numa linguagem corporal mais altiva é um processo enriquecedor. Além disso, claro, tem a dança e o vocal, que são muito exigidos", destaca.
E em um contexto de polarização política como o do Brasil, Cleto Bacci avalia que 'Evita' não poderia ter estreado em momento melhor. Apesar de contar a história da ex-primeira-dama, o ator e produtor observa que a peça aborda o populismo de maneira vívida e lúdica.
A mensagem que deixa para o público acaba sendo pertinente ao que vivemos. "Os fins realmente justificam os meios?", provoca.
'Evita Open Air' tem sessões de quinta-feira a domingo. O musical estreou em 7 de julho e fica em cartaz até 28 de agosto no Parque Villa-Lobos, em São Paulo. A classificação é livre e os ingressos estão disponíveis a partir de R$ 50,00.
*Com edição de Estela Marques.
