Esqueça o placar dos primeiros jogos da Copa do Catar. Na internet, o que mais se comentou foi a respeito do visual de Deborah Secco na estreia como comentarista do 'Tá na Copa', do canal SporTV.
Ao vê-la com calça de cintura baixa, camisa do uniforme dos jornalistas customizada como cropped e calcinha à mostra, os donos de mentes retrógradas e olhos invejosos correram para postar críticas e deboches.
Ah, o prazer sádico de julgar, condenar e 'cancelar' uma celebridade! Os dedos coçam diante do teclado... Como resistir, não é?
Incontáveis vezes atacada anteriormente, por figurinos ou comportamentos (ou simplesmente por sua existência incomodar), Deborah Secco publicou mensagens de apoiadores famosos e deixou um recado em post no Instagram: 'Sendo quem eu quero ser'.
Ser o que se é. Poucas, pouquíssimas pessoas têm coragem de dar a cara a tapa e bancar o alto preço de viver como são e do jeito que querem. Quem o faz afirma valer muito a pena.
Aqueles que rotulam Deborah Secco de vulgar e antifeminista pelo traje instigante que ela escolheu usar em um programa sobre a Copa devem ser os mesmos que relativizam atrocidades vigentes na sede, o Catar.
O País que proíbe os LGBT+ de agir conforme sua natureza (sexo entre pessoas do mesmo sexo é crime passível de até 7 anos de prisão), usou mão de obra barata para construir as instalações nababescas do evento (com o sacrifício de incalculáveis vidas de trabalhadores imigrantes), trata mulheres como cidadãs de segunda categoria (elas têm acesso aos estádios pela primeira vez na vida) e onde cocô de camelo possui mais valor do que a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Mas o que importa mesmo é a calcinha cavada da Deborah Secco. Maldita sensualidade! Quem a ataca talvez preferisse vê-la vestindo uma burca, traje compatível com o conservadorismo catari e a hipocrisia de certos brasileiros reacionários.
Ok, a presença da atriz no 'Tá na Copa' não se dá exatamente por seus conhecimentos futebolísticos. A colocaram ali por ser uma celebridade luminosa a emprestar carisma à cobertura. Sabem que ela atrai audiência e — surpresa! — sempre gera repercussão nas redes sociais e na imprensa.
Inteligente, Deborah tem consciência de seu papel. Ao surgir provocativa, entregou tudo o que se esperava dela. De quebra, já gravou seu nome na cobertura deste Mundial. Jamais esqueceremos do episódio da calcinha polêmica. Aliás, bela imagem.
Ao tentar censurá-la, os críticos caíram facilmente na armadilha. Deram, de graça, mais visibilidade a ela e à Globo, dona do SportTV. Engajamento é tudo o que a artista e o canal desejam.
E, inocentemente, os bedéis da web expuseram bastante da própria intimidade sexual. Pois, como explicou Jacques Lacan, "todos os tipos de coisas neste mundo se comportam como espelhos".
Quem desprezou Deborah Secco por causa de uma simples calcinha revelou mais a respeito de si mesmo do que sobre ela. Golaço contra!
Freud riria.