Embora pouco conhecido na televisão, o coach Paulo Vieira tem números expressivos em outras mídias. Ele já vendeu 10 milhões de livros, fundou uma empresa que já formou outros 40 mil coaches e se prepara para seu primeiro megaevento, em que deve reunir 33 mil pessoas em um estádio de São Paulo.
Paulo ostenta roupas de grife, jatinho e, agora, o título de coach que fez a cabeça das filhas de Silvio Santos.
A vice-presidente do SBT, Daniela Beyruti conheceu Vieira na academia do condomínio em que ambos vivem, em Alphaville, na Grande São Paulo. Ela gostou do seu método de controle de inteligência emocional e o levou para o SBT. Em junho deste ano, mais de 200 executivos do Grupo Silvio Santos e diretores de programas da emissora paulista lotaram um estúdio da emissora para um treinamento de 12 horas com Paulo Vieira.
A apresentadora Patricia Abravanel também levou produtores do Programa Silvio Santos e assessores pessoais para um treinamento de três dias. A filha "número três" de Silvio Santos contratou a Febracis, empresa de Paulo Vieira, para uma parceria com "vários treinamentos pessoais e profissionais". Desde então, comerciais do coach têm sido exibidos pelo SBT.
Segundo informações apuradas pelo site Notícias da TV, as sessões de treinamento com Vieira tem uma mistura fé, família, reprogramação de crenças pessoais e dinâmicas de grupo, nas quais era pedido que se abrissem para desconhecidos, incomodou profissionais que esperavam um evento mais corporativo. Alguns participantes ainda identificaram traços machistas na fala do coach.
Quem é Paulo Vieira?
Paulo Vieira nasceu em Fortaleza, mas cresceu no Rio de Janeiro. Diz em vídeo em seu site que foi "campeão de barco a vela" e passou a maior a maior parte de sua adolescência surfando e se "divertindo nas praias" cariocas.
"Estudei em ótimos colégios, até que um dia meu pai quebrou. Ou, como eu gosto de dizer, as pessoas não quebram de repente, elas vêm quebrando. E só percebi isso quando tinha 17 anos. E, dos 17 aos 30 anos, minha vida virou uma grande m*. Endividado, divorciado, vivendo de favor na casa de parentes, a ponto de doar meu cachorro para um desconhecido. Mas tudo mudou aos 30 anos, quando eu dei um verdadeiro chega", conta no vídeo.
O coach fundou o Instituto Paulo Vieira no Ceará, em 1998, que mudou para Febracis, em 2009. Hoje, a Febracis fica sediada em Barueri (SP), com franquias em quase todo o Brasil, além de Miami, Madri, Lisboa e Luanda.
Com mais de mil funcionários, a Febracis se apresenta como a "maior escola de negócios do Brasil". Ela realiza eventos (mais de 715 mil sessões de coaching, em diferentes formatos, com mais de 1,8 milhão de pessoas treinadas), escola de novos coaches (já formou mais de 40 mil), consultoria empresarial e editora --sua loja virtual vende livros de Paulo Vieira (13 publicados até agora), planners, camisetas e até boné com o grito de guerra do seu fundador: “Yes, yes, yes”.
Os cursos de formação de coach tem duração de 268 horas, com certificação emitida por uma universidade norte-americana, a Florida Christian University, onde Vieira estudou. Esse curso custa R$ 8.997 à vista. A empresa ainda vende pós-graduações.
Paulo Vieira é considerado o maior coach do Brasil e há quem o chame de "pai da inteligência emocional" no país. Em suas palestras, adora dizer que é "multimilionário", que tem casa nos Estados Unidos e que comprou recentemente um jatinho.
O "master coach", como se autodenomina, espera reunir 33 mil seguidores no Allianz Parque em O Poder da Ação Experience, baseado em seu principal livro, que já vendeu 6 milhões de cópias, um dos mais comercializados do país durante cinco anos. O evento vende ingressos que custam entre R$ 169 a mais de vinte mil reais.
No YouTube, é possível ver vídeos de palestras Paulo Vieira na Igreja Batista da Lagoinha, do pastor André Valadão. Há também vídeos em que divide a tela com o coach Pablo Marçal, alvo recente de uma ação da Polícia Federal para investigar supostos crimes eleitorais e lavagem de dinheiro.
O Ministério Público do Ceará realiza uma investigação que apura uma denúncia de que a Febracis exibiu, em um treinamento interno de recrutadores de novos funcionários, realizado em Fortaleza, um slide onde a empresa afirmava que não contratava “petistas, comunistas ou pessoas que façam parte de religiões como candomblé".
A denúncia foi feita por uma funcionária que diz ter sido demitida por não ter declarado voto em Jair Bolsonaro nas eleições do ano passado. Além do MP, a denúncia chegou à OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e ao Ministério Público do Trabalho.
A investigação de crimes por discriminação política e religiosa começou em abril deste ano e segue em sigilo de Justiça, segundo o Ministério Público. A Febracis negou as acusações em nota.
