Os ataques terroristas que ocorreram em Brasília no domingo (8/1) foram realizados com suporte das redes sociais. A convocação do atentado foi feita através do WhatsApp, Telegram, TikTok, Twitter, Instagram, YouTube e Facebook.
Diante disso, a Meta, dona do Facebook, Whatsapp e Instagram, afirmou nesta segunda-feira (9/1) ter decidido remover todo "conteúdo que apoia ou elogia as ações [bolsonaristas/criminosas]". "Estamos acompanhando ativamente a situação e continuaremos removendo conteúdo que viole nossas políticas", declarou a empresa em comunicado oficial.
Mas é por prever esse tipo de reação que os usuários de extrema-direita optam por serviços sem sede no Brasil. A maior parte de ação de domingo foi planejada em grupos do Telegram, que definiram datas, horários e rotas para a chegada das caravanas para o ataque. Num dos prints vazados, um financiador chegou a dizer que precisavam de "2 milhões de pessoas em Brasília".
O TikTok é outro recurso visado e já virou foco de denúncias de supostas fraudes eleitorais, que não aconteceram em nenhuma das votações brasileiras. Pesquisas pelo termo "bolsonaro" levam a vídeos negacionistas.
No YouTube, canais que divulgam alegações de fraude eleitoral receberam dezenas de milhões de visualizações antes de domingo. A empresa do grupo Alphabet (Google) prefere manter o conteúdo, mas desmonetizar seus propagadores, evitando que lucrem com golpismo. Até o canal da Jovem Pan foi demonetizado.
Usando livremente as redes sociais, influenciadores que negam os resultados das eleições presidenciais do país usaram uma frase específica para convocar "patriotas" para o vandalismo, convidando-os para a "Festa da Selma" - ajustando a palavra "selva", um termo militar para grito de guerra, na esperança de evitar a detecção das autoridades brasileiras.
O extremismo nas redes é tão brutal que, no Telegram, um vídeo pedindo que patriotas assassinassem os filhos de esquerdistas do país chegou a viralizar.
Os casos estão fazendo os próprios algoritmos das redes serem questionados. Visando aumentar engajamento, eles privilegiam assuntos polêmicos e seguem direcionando os usuários para grupos que questionam a integridade das eleições e pedem golpe militar.
A Meta, aparentemente, está ciente do problema.
"Antes da eleição, nós entendemos o Brasil como um local de alto risco temporário e estivemos removendo os conteúdos que incentivam o uso de armas ou a invasão ao Congresso, ao Palácio presidencial e outros prédios federais", declarou a plataforma.
O Twitter, porém, vai na direção oposta. Elon Musk, seu novo proprietário, chegou a dizer que foi sensibilizado por extremistas a acreditar que "o pessoal do Twitter tenha dado preferência a candidatos de esquerda".
Para piorar, o jornal americano Washington Post apurou que ele demitiu, após os atos terroristas de domingo, os poucos responsáveis pela moderação de conteúdo da rede social no Brasil. A revista Exame confirmou pelo menos 10 demissões nesta segunda (9/1).
Reflexo dessas atitudes, os negacionistas das eleições brasileiras tem aumentado seu número de seguidores no Twitter, de acordo com uma análise do Rest Of World, uma organização jornalística sem fins lucrativos.
Apesar disso, a Justiça segue derrubando perfis na plataforma, denunciados por difundirem teorias conspiratórias e fomentarem o golpismo no país.
Nesta segunda (9/1), os extremistas começaram a tentar emplacar uma contranarrativa com a ajuda das redes, que culpa o governo Lula e petistas por se infiltrarem nas "manifestações pacíficas" e causarem a destruição vista no domingo, visando virar o país contra os apoiadores de Bolsonaro.
O Washington Post viu paralelos nessa iniciativa com a insurreição de 6 de janeiro de 2021 nos EUA, "quando muitos apoiadores de Trump culparam ativistas de esquerda pela violência".
A diferença no Brasil é que os terroristas se filmaram cometendo os atos de barbárie e publicaram em suas redes sociais, demonstrando claramente o que fizeram. Um desses autoproclamados "patriotas", inclusive, defecou num dos símbolos da Pátria.
Por outro lado, Jiore Craig, que dirige pesquisas eleitorais para o Institute for Strategic Dialogue, um think tank com sede em Londres que rastreia a desinformação online, acredita que o Brasil enfrenta um problema de disseminação epidêmica de fake news.
"Elas não se concentram num lugar específico como nos EUA", disse Craig para a Bloomberg, lembrando o uso do Facebook para sabotar Hilary Clinton, e do Twitter para espalhar hashtags em inglês como #StopTheSteal.
"Grande parte da atividade é multiplataforma", ele explicou, citando que grupos de Whatsapp e Telegram incluem vídeos do YouTube e do TikTok. "Em um lugar, você pode ver a narrativa e no outro você amplifica a narrativa. Derrubar um não derruba o outro."