Regina Casé chega aos 61 anos com tudo em cima: "sem botox"

Apresentadora comemora data com edição especial do 'Esquenta'

26 fev 2015 - 16h58
(atualizado às 17h09)

Regina Casé está completando 61 anos e vai comemorar seu aniversário no Esquenta de domingo. “Tô achando engraçado porque tudo isso era para ter acontecido ano passado, que era data fechada”. Antes da gravação do programa a atriz e apresentadora recebeu a imprensa para conversar sobre a nova fase da atração, sobre a retomada da carreira de atriz no filme Que Horas Ela Volta, de Anna Muylaert e premiado em Berlim, e sobre as críticas que recebe.

Foto: TV Globo / Divulgação

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Ela revelou também que, mesmo já tenho juntado muita gente diferente no programa, ainda tem um convidado pendente em sua lista: Roberto Carlos. Sobre envelhecer, Regina disse que chega aos 61 anos com tudo em cima e sem botox: “Mexe em mim mexe!”

Festa no programa

Quando eu era pequena a gente vivia viajando. E quando a festa era fora do Rio, minha mãe chamava muita gente, para fazer quórum na hora do parabéns. Nasci numa segunda-feira de Carnaval. Tudo a ver com o Esquenta. Desisti de fazer festa em casa porque estava ficando ridículo. Eu fazia festa em casa e chamava o Mumuzinho, o Arlindo, o Xande. A comida era a mesma que tinha aqui, a roda de samba. Era como gravar duas vezes ou fazer aniversário duas vezes por semana. O Esquenta é filho das festas lá de casa.

Sucesso do Esquenta

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Não imaginada nada. Só imaginava que o programa iria durar três meses, que era o planejado: janeiro, fevereiro e março. Isso porque todos os outros programas que a gente fazia, que a gente inventava, fazíamos o que queríamos, e eles encaixavam na grade: ou sexta de noite, no Fantástico. Ficavam tentando. Mas a grade e muito presa. O Esquenta foi a primeira vez que aconteceu de pedirem algo novo para o domingo, na hora do almoço, animado, para a família, sem ser desgraceira. E fizemos pensando em tudo isso. As pessoas querem rir, se emocionar, contar algo no serviço na segunda-feira de manhã, ou falar algo que não sabia no domingo à noite para pegar alguém. (risos) A música que essas pessoas trouxeram ao programa é incrível. Eu considero música popular brasileira. Mas eles não eram considerados como populares na televisão. Eu achava isso uma distorção. E nesse programa tem tudo. Maria Bethânia veio no Esquenta, maravilhosa. Veio a Fernanda Montenegro e, junto com ela, vieram todos os grupos de pagode, de funk; veio Caetano, Gil, Gal veio e o público adorou. Tem uma frase do Gil que é mote da gente: “O povo sabe o quer, mas também quer o que não sabe”. Você tem que oferecer algo novo, diferente. Encontrei um amigo que trabalhou comigo em São Paulo e ele me disse que detestava meu programa. Mas porque nunca tinha visto. E depois que vi o primeiro

Críticas

Cada vez mais as pessoas criticam sem ver. Todo mundo, hoje em dia, quer ter uma opinião. E quem fala mal parece que é mais inteligente, mais corajoso, que tem opinião. E quem fala bem parece um banana. Parece um boboca. Quando o cara fala mal parece que ele é demais, é muito inteligente. E junto com as redes sociais isso virou uma mistura bombástica. Acho que tem dois tipos de crítica. No casamento do Thiaguinho e da Fernanda Souza, por exemplo, falaram mal do meu vestido. Disseram que era a toalha de mesa da dona Zefinha. Era um vestido da Isolda, de Londres, todo bordado à mão, lindo. Com a roupa eu não esquento. Só fico triste quando falam algo que não aconteceu; que eu estava em tal lugar e eu não estava. Minha filha então, fica arrasada, até chora. Sou muito vítima de maluquice. Já repeti esse vestido duas vezes. Uma no casamento do meu sobrinho e outra em um evento. É super certo e saudável repetir o look. É ruim repetir uma roupa hoje e, outra amanhã. Mas se são pessoas diferentes, não tem problema. Homem usa sempre o mesmo terno e ninguém diz nada.

Foto: TV Globo / Divulgação

Preconceito

Essa roupa que vou usar no programa de domingo: vão falar mal, porque é estampada. O tecido é  de um design sueco. Não é a toalha da dona Zefinha, tá gente. Quem me deu foi Alberto Renault, do programa Casa Brasileira, chique, GNT, não é TV aberta, tá (risos). Fiquei apaixonada e adoro amarelo e rosa. Quando fui à Índia fiquei mais apaixonada ainda. Parece que está na hora do por do sol. É muito chique, tá. Mas não é só isso. Tem o preconceito contra as pessoas que eu trago para a televisão. Tem gente que tem medo de funkeiro, porque é preto, pobre, favelado. Preconceito contra nordestino, porque acham que é caricato, boboca. Sempre acreditei que a TV era o lugar dessas pessoas. A pessoa é preconceituosa e me vê com essa roupa me chama de paraíba, apesar de eu ser carioca. São viagens de muito ácido. Mas acho pior o preconceito contra a idade, porque todo mundo vai ficar velho.

Rio 450 anos

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Todo dia saio na rua, abro a janela, engarrafo na Niemeyer e digo: que sorte. Já pensou onde eu poderia estar engarrafada? (risos) Nem acredito que nasci aqui. Falo pra Benedita todo dia: me agradece porque você nasceu aqui (risos). Acho que sou fosse do Amazonas ou do Rio Grande do Sul, ia ser louca para morar aqui. O Rio é um acontecimento. A floresta é a coisa mais importante para o mundo, mas a Mata Atlântica é de uma diversidade incrível. Se eu morasse na Alemanha ia ter que andar muito para ver algo diferente de um pinheiro. Aqui, num quadrado, tem mais espécies do que viajando quilômetros na Europa. Aprendi isso no Um Pé de Quê, que aliás está fazendo 15 anos. O Brasil foi inventado na Mata Atlântica. Tem uma árvore magrinha, alta, outra mais larga, uma clarinha, uma escura, vários tipos de fruta; a convivência, o diferente tipo de utilização de cada uma. A gente prega no Esquenta contra o preconceito, e fazemos uma festa que celebra a diferença. E na Mata Atlântica você vê isso. Parece que um programa de botânica não tem nada a ver com um programa de samba, mas tem.

Quem falta no Esquenta

Roberto Carlos não veio. Já foi convidado. Já fui no especial dele e já fui a todos os programas da Jovem Guarda. Pronto, agora todo mundo já sabe que tenho 61 anos, sou velha. Ele me adora e eu adoro ele.

Envelhecer

Não tive crise dos 20, 30, 40. Isso acontece quando você para e tem tempo para entrar em crise. Com 59 eu ganhei neném (Há dois anos, Regina e o marido Estevão Ciavatta adotaram Roque). Não tenho medo de envelhecer. Tenho medo é de ficar doente, de deixar de fazer as coisas. Eu achava que aos 61 ia estar velha de bengala. Quando eu pensava no réveillon do ano 2000, pensava que ia ser incrível. Hoje, nem lembro mais onde eu estava. Convivo muito com a Fernandona (Montenegro) e ela foi passar o réveillon lá em casa e ela andou de barco comigo, de noite, com 83 anos e numa boa. Se eu tiver saúde, não vou parar nunca. Inventei o “Um Pé de Quê” para estudar botânica, que era o que eu planejava fazer quando ficasse velhinha. Acho que todo mundo tem que passar filtro solar, mas não passo nada. Gosto de ficar horas com meu filho no colo, gosto de ir à praia, de dançar, de fazer as coisas.

Relação com público

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Um artista, hoje em dia, tem seguranças, carros protegidos, sai de casa no carro e entra no estúdio e volta. Eu ando na rua todo dia. No Carnaval da Bahia vou pro Ilê-Ayê, no Filhos do Gandi, sem proteção, sem chiqueirinho. Estou mais exposta e a relação é mais difícil porque às vezes você não ouve alguém que te chama e podem te criticar. No aeroporto, enquanto espero um voo, às vezes eu tiro 300 fotos. Vou em alguns lugares e me dizem: tá perdida aqui. No dia que eu não puder mais fazer feira, não sei. Adoro andar na rua cedinho antes de ler os jornais, converso com os garis e vou sabendo das coisas.

Foto: TV Globo / Divulgação

Carreira de atriz

Vivemos um momento em que até a empregada tem empregada. Acabou o tempo em que a empregada vinha do Nordeste e deixava o filho pra alguém criar e criava o filho dos outros. O filme da Anna se passa justamente nesse momento de transição e acho tão oportuno que vai dar um gás. Meu personagem, que acho que faço bem e ganhei prêmio, modéstia à parte, é feito em cima da observação. Eu observei isso a vida toda no Brasil Legal: como a mulher catava piolho, como arrumava o cabelo, como penteava o filho, como cortava a cana. Eu guardava tudo e achava que nunca iria usar. Aí veio do filme do Andrucha (Eu, Tu, Eles) e usei. No caso desse filme, mais ainda. Nasci em Copacabana, com pai e mãe trabalhando fora. Eu dormia, depois do almoço, como o irmão da minha empregada na mesma cama. Ele ia filar almoço lá em casa. Eu ajudava as empregadas do apartamento do lado a alisar o cabelo, com aquele pente de ferro que ia no fogo. Adorava o cheirinho. Meu mundo era aquele. Nem precisei fazer laboratório. Vocês não vão acreditar em mim no filme. Hoje em dia, todo mundo é celebridade, é raro você encontrar um ator. Tive que me despir de toda e qualquer vaidade, que já não tenho muita. Cheguei aos 61 anos sem uma gota de botox: tudo em mim mexe.

Fonte: Terra
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