A maioria dos jornalistas demitidos pela Globo vai às redes sociais para criticar a emissora. Alguns não disfarçam a decepção e o rancor. Não é o caso de Camila Silva.
Quando foi dispensada, em 2018, após 8 anos no canal, ela fez elogios. “É um ótimo lugar para se trabalhar e fazer amigos”, disse. Nos anos seguintes, o olhar positivo se manteve em posts nas redes sociais.
Escreveu ter se tornado melhor produtora, editora, cinegrafista, repórter, coordenadora e professora graças aos anos de expediente na Globo e GloboNews, entre o jornalismo cotidiano e a cobertura esportiva. “Não foi uma vida, mas parece uma vida inteira... Uma escola, nem sempre reta, mas uma escola.”
Em sua época na TV, Camila era uma das poucas negras no vídeo. Surgia nas matérias com o cabelo afro num tempo pré-transição capilar, em quase todas as jornalistas com fios crespos recorriam ao alisamento. Várias vezes, ouviu que deveria fazer chapinha para aparecer diante das câmeras.
A jornalista se multiplicou após deixar o canal. Foi comentarista de podcast na HBO, redatora publicitária, trabalhou no jornal digital Nexo, fez pesquisa de roteiro para a transmissão do Oscar no Brasil, atuou em projetos de diversidade e inclusão e tornou-se colunista da revista ‘Carta Capital’.
Como empreendedora, lançou a linha de camisetas com estampas étnicas Wokemi. Expandiu sua expressividade estuando na arte dramática. Define-se “atriz aprendiz”. Além disso, comanda sua própria produtora de cinema, onde dirige documentários com contexto social.
No Instagram, Camila Silva apresenta relevante conteúdo antirracista e de promoção das religiões de matriz africana. Defende o respeito aos praticantes do Candomblé, Umbanda, Quimbanda e Jurema Sagrada.
Em fotos, aparece em cerimônias espirituais vestindo belos trajes típicos. “Sou filha de Oyá duas vezes. Sou filha de Oxum. Através delas, com elas, sendo, me resgato. Imagine uma coroa dessas? Não é sorte. É orixá. É uma riqueza desmedida, infinita”, postou.
Certamente por temer o preconceito (inclusive de chefes nas redações), a maioria dos jornalistas adeptos de religiões africanas não comenta a respeito publicamente. Por isso, Camila Silva presta valioso serviço à sociedade ao mostrar como vive livremente seu axé.