Perdemos a vergonha de rir da desgraça dos outros. Antes, o fazíamos no canto da boca, com a mão na frente dos lábios para disfarçar. Havia pudor no sadismo. Agora, gargalhamos à vontade e ridicularizamos nosso alvo na internet para conseguir engajamento.
O anúncio da separação de Cíntia Chagas, feito pela própria em um textão cerimonioso, depois de três meses de casamento com o deputado federal Lucas Bove (PL), gerou incontáveis vídeos de deboche, principalmente no TikTok. A mensagem, explícita ou subliminar, foi a mesma: bem feito, ela merece ser infeliz.
Empatia? Sororidade? ‘Doeu com uma, doeu em todas’? Esqueça. A antipatia contra a influenciadora de comunicação está contaminada pelo aspecto ideológico. Ela é associada à direita radical, ao bolsonarismo, às elites econômica e intelectual, ao esnobismo dos emergentes, à branquitude, ao complexo de superioridade e à fama que incomoda a quem está inconformado com o anonimato.
Tomada pela passionalidade, a maioria das pessoas não consegue se divertir com o humor politicamente incorreto da personagem à frente da mulher. Não entende que ela se tornou uma versão real das vilãs das novelas, a serviço do entretenimento polarizado na internet – e os atentos podem até aprender mais sobre vocabulário e gramática.
Para alegria de quem a detesta, Cíntia Chagas sofreu um primeiro revés antes do matrimônio desfeito. Em um podcast, a professora confessou “completa frustração” com recente experiência no ‘Chega Mais’, do SBT. Disse que prometeram um quadro, foi testada uma vez ao vivo, elogiada pelo diretor e, na sequência, dispensada sem explicação. Mas afirma manter o sonho de ser a “nova Hebe”.