Ney Latorraca, que morreu nesta quinta-feira, 26, mantinha a sua vida privada o mais longe possível dos holofotes. Foram poucas as vezes que ele falou abertamente do casamento com Edi Botelho, com quem manteve um relacionamento nos seus últimos 29 anos. Registros públicos do casal são igualmente raros, a não sei de produções teatrais das quais os dois participaram.
Relembre trajetória de Ney Latorraca
Antonio Ney Latorraca era natural de Santos, São Paulo. Aos seis anos de idade, fez uma participação em uma radionovela da Record. Durante a década de 1970, atuou em vários espetáculos, entre elas: Hair (1970), Jesus Cristo Superstar (1972), Bodas de Sangue (1973) e A Mandrágora (1975).
Ney Latorraca estreou na televisão como figurante na Rede Tupi, e o primeiro papel de destaque no ator foi em Beto Rockfeller (1968). A estreia na Globo aconteceu em 1975, na novela Escalada, que deu origem a 50 anos de trabalho na emissora, na qual esteve em produções como Memórias de um Gigolô (1986), Grande sertão: Veredas (1985), TV Pirata, Vamp, O Beijo do Vampiro e outras.
Fama e sucesso vieram com a novela Escalada. Na novela de Lauro César Muniz, a primeira de Latorraca, ele interpretou Felipe, que era mudo.
"Ele só balançava a cabeça. E o que aconteceu? Um mês depois que a novela estreou, o personagem fazia tanto sucesso que todo mundo queria saber quem era aquela pessoa jogada pelos cantos, muda. Eu nunca apresentei aquele padrão imposto de galã, que precisava ter uma virilidade explícita. Pelo contrário. Mas Felipe fez sucesso, principalmente com o público feminino. Na época, havia um concurso em nível nacional para eleger o rei da televisão. Em seis semanas, eu já estava concorrendo com Tarcísio Meira e Roberto Carlos", relembrou o ator ao projeto Memória Globo.
Aquele contrato de três meses virou mais de 50 anos de casa.
Vamp, TV Pirata e O Mistério de Irma Vap
Após diversas novelas, como Vamp, em que interpretou o inesquecível Vlad, minisséries e também filmes no cinema, experimentou um exercício diferente com TV Pirata, em que encarnava Barbosa. Sobre o personagem, Ney Latorraca chegou a dizer:
"Era um velho tarado, de cabeça branca, com um pouco de bico. Mas eu comecei a aumentar o bico, tanto que, meses depois, só dava Barbosa e todo mundo imitava. Foi um baita sucesso. Até hoje me pedem na rua para fazer o Barbosa".
Em 1986 estreou, com o ator Marco Nanini o maior sucesso do teatro brasileiro, O Mistério de Irma Vap, que permaneceu em cartaz por mais de 11 anos. Foi o seu maior sucesso e lhe trouxe a almejada estabilidade financeira. "Comprei minha cobertura, passei a viajar de primeira classe e pude dar todo o conforto para a minha mãe, que se foi em 1994, até o fim da vida dela", contou ele, em entrevista ao Estadão em julho.
Também interpretou o divertido vilão Eduardo em Da Cor do Pecado (2004) em uma parceria icônica com Maitê Proença. Zazá (1997), Bang Bang (2005) e Negócio da China (2008) foram outras novelas que contaram com a participação do ator. Em 2013, fez o filme Alexandre e Outros Heróis, depois de se recuperar de uma internação de mais de 40 dias. No ano seguinte, fez uma participação especial na novela Meu Pedacinho de Chão.
Na Globo, Ney Latorraca fez 17 novelas e seis minisséries, além de seriados e especiais.