A não renovação do contrato de Cássia Kis e a anterior dispensa de atores também declaradamente de direita como Malvino Salvador e Humberto Martins esvaziaram a presença de conservadores no elenco da Globo. Sobrou Juliano Cazarré, já gravando a próxima novela das 19h, ‘Volta por Cima’.
Em postagens e entrevistas, o artista defende “valores cristãos”, propaga o Catolicismo e combate pautas progressistas, a exemplo da liberação do aborto. Chamado de bolsonarista, ele negou ser apoiador do ex-presidente.
Sob o tribunal da internet, Cazarré já enfrentou tentativas de cancelamento por elogiar a masculinidade e dizer que o homem possui a obrigação de ser “protetor e provedor” da família. O artista é contra o uso de contraceptivos e já foi criticado por ter seis filhos com a bióloga e estilista Letícia Cazarré.
Em 2021, ele questionou a eficácia das vacinas contra a covid-19 diante da decisão da Globo de exigir a imunização dos atores escalados para novelas. Foi duramente criticado. No início deste ano, afirmou ter dado “todas as vacinas” nos filhos, menos o imunizante do coronavírus.
Ainda que rejeite o progressismo, ele se aproxima dos esquerdistas ao reagir contra o preconceito por orientação sexual. Quando seu personagem Alcides virou alvo do interesse do gay Zaqueu em ‘Pantanal’, o ator classificou a homofobia como “indesculpável”. Em matérias antigas, contou ter sido “chamado de veado” muitas vezes por ser natural de Pelotas, cidade gaúcha associada a homossexuais no folclore urbano.
E por que Juliano Cazarré emenda trabalhos na Globo enquanto tantos outros atores com pensamento semelhante deixaram o canal? Fontes disseram à coluna que, além do talento que serve bem a diferentes tipos de personagens, ele cultiva ótima relação com produtores de elenco e diretores. Diferentemente, por exemplo, de Humberto Martins, que fez críticas públicas sobre “tanta bagunça” nos bastidores da emissora.
Outro ponto a favor: apesar das convicções, o ator não tenta doutrinar colegas. Na época de ‘Travessia’, surgiram notícias sobre a insistência de Cássia Kis em conversar sobre política e religião nos intervalos das gravações, gerando irritação à sua volta. Este tipo de comportamento também gerou desaprovação a artistas militantes da esquerda que estão há anos longe da Globo.
Desde que se tornou popular com o personagem Adauto de ‘Avenida Brasil’, em 2012, Cazarré não ficou 1 único ano longe da tela do canal. Em alguns momentos, chegou a ser disputado por diferentes produções. Sua ideologia de vida, ainda que desaprovada por muita gente do meio artístico, não prejudica a carreira na TV.