Todo mundo que já se sentiu um estranho no mundo se identificava com PC Siqueira

Youtuber que fez sucesso na MTV representava a superação de quem sofreu bullying e foi subestimado pela sociedade

28 dez 2023 - 07h10
(atualizado em 2/1/2024 às 10h23)

“Esse menino não vai dar em nada.” 

Na frente ou pelas costas, muita gente ouviu isso na infância e adolescência. Desde cedo, sentimos a pressão familiar e social para sermos inteligentes, bem-sucedidos, populares e inabaláveis. Se houver beleza, melhor ainda. 

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Esse estereótipo da perfeição machuca no íntimo. Provoca ansiedade, medo e frustração. Quantos atingem expectativa tão alta? Poucos. A maioria até tenta, mas falha. 

PC Siqueira representava o esquisito, o diferentão, o rebelde antissistema. Um estranho no ninho, o patinho feio. Quem nunca, assim como ele antes da fama, não se sentiu solitário e excluído, deslocado e esnobado? 

Era divertido se identificar com aquele rapaz magrelo, estrábico, com a fragilidade corporal escondida sob tatuagens, fazendo da autoironia o charme possível e cimentando seu espaço em um mundo que despreza aqueles que não se encaixam no padrão irreal. 

Trancado em seu quarto (seu mundo), o garoto nerd usava o YouTube para se comunicar. Projetou-se pelo carisma. Foi parar na MTV, a emissora dos VJs modernos e admirados. Tornou-se a versão possível daquela imagem sonhada por toda família em relação a qualquer filho. 

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O sucesso na internet e na TV serviu como justiça – ou vingança – pelos anos de discriminação, perseguição e desprezo na infância e adolescência, fases de onde poucos de nós saímos ilesos emocionalmente. 

Depois, fora da televisão, ele experimentou desrespeito tão cruel quanto o bullying na escola: o cancelamento sumário. Colaram em sua imagem o rótulo de pedófilo. Mesmo provada a inocência em investigação policial, jamais se recuperou. 

PC teve a coragem de falar abertamente na web de seus transtornos, como a depressão e a Síndrome do Pânico. Certamente ajudou muita gente a buscar ajuda para tratar as feridas invisíveis da alma. 

Sua morte, aos 37 anos, serve de alerta: precisamos prestar mais atenção ao sofrimento silencioso das pessoas ao nosso redor, combater duramente o assédio virtual e cuidar de nossa própria saúde mental. 

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Não é justo sucumbirmos às pressões no trabalho, no relacionamento amoroso, nas redes sociais, na vida em geral. Não podemos aceitar que nos matem em vida como fizeram com PC Siqueira.

Atenção: em caso de sofrimento emocional, você pode ligar gratuitamente para 188. Os atendentes do CVV (Centro de Valorização da Vida) estão disponíveis 24 horas para conversar, sem julgamentos ou críticas, respeitando os sentimentos de quem procura ajuda. Busque tratamento especializado com psicólogo ou psiquiatra para garantir sua saúde mental.

PC Siqueira furou a bola e conheceu o sucesso, mas também experimentou o lado desumano da fama e a impiedade do tribunal da internet
PC Siqueira furou a bola e conheceu o sucesso, mas também experimentou o lado desumano da fama e a impiedade do tribunal da internet
Foto: Reprodução
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