No primeiro momento, a notícia do choro de Gisele Bündchen em uma rodovia dos Estados Unidos foi erroneamente interpretada na imprensa e nas redes sociais.
As lágrimas seriam de uma mulher famosa e milionária contrariada por ser tratada como reles mortal por um agente da lei ao ser enquadrada por uma infração de trânsito (excesso de velocidade).
A top model recebeu críticas. Foi chamada de “mimada”, “descontrolada”, “estressada”. Pouco depois, a divulgação das imagens gravadas pela câmera corporal do policial revelou o drama real – e absolutamente compreensível.
Gisele cai em prantos pela perseguição feita por um carro de fotógrafos. Demonstra exaustão emocional. Sente-se imponente diante da recorrente invasão de privacidade e da cassação do direito de ir e vir sem ser monitorada, bisbilhotada, flagrada.
“Eu não posso fazer nada”, diz, em visível sofrimento. “Eu quero apenas viver a minha vida.”
Imediatamente lembrei de Britney Spears e da Princesa Diana, duas mulheres igualmente vítimas da ação invasiva dos paparazzi. Assim como Gisele, elas tiveram crises em público por não suportar o desrespeito à intimidade.
A cantora acabou internada em uma clínica para tratar a saúde mental. Nunca se recuperou totalmente daqueles anos loucos em que foi a celebridade mais acuada pela imprensa de Hollywood. Hoje, ao surgir em vídeos caseiros, parece uma triste caricatura de si mesma.
Diana morreu em consequência do acossamento de fotógrafos em Paris. A tentativa de despistar as equipes dos tabloides de fofocas – associada à embriaguez de seu motorista e à falta do uso do cinto de segurança – gerou o acidente fatal.
Todos nós – jornalistas de entretenimento e consumidores anônimos de notícias sobre artistas e subcelebridades – temos parcela de culpa nessa dinâmica cruel de caçada aos famosos para a produção de fotos e vídeos.
Os veículos de imprensa faturam com a publicidade ligada aos cliques nas matérias, os repórteres/editores/fotógrafos/cinegrafistas garantem o emprego e o leitor sacia o interesse sádico de ver as personalidades midiáticas em situações banais ou embaraçosas.
Algo vai mudar? Provavelmente não. Desde que o mundo é mundo, o ser humano indica ter mais curiosidade sobre a vida alheia do que em relação à própria existência.
Gosta de ver um ídolo ‘perfeito’ sendo desconstruído, a exemplo da deusa das passarelas chorando de cara limpa ao volante e sendo tratada como uma pessoa comum. A fama exige que Gisele pague um preço alto – e, do lado de cá, nós assumimos com prazer o papel de cobradores.