Em julho de 2023, o colunista de TV Tony Goes escreveu o obituário da própria mãe, Maiza Amaral, na ‘Folha de S. Paulo’, onde mantinha coluna diária sobre a programação da TV e publicava entrevistas com artistas e críticas sobre programas e premiações. Agora é a vez dos colegas de profissão redigirem textos em memória do jornalista.
Ele morreu na madrugada desta quinta-feira (15), aos 63 anos, de complicações de um câncer. Inicialmente no intestino, a doença atingiu outros órgãos. Mesmo em tratamento, Tony continuou a trabalhar diariamente, assistir à filmes em sessões especiais para a imprensa, ir a eventos culturais e viajar ao lado do marido, o ator Herbert Richers Jr., com quem estava desde 1990.
O blog que leva seu nome, ainda no ar, sempre foi saboroso de ser consumido. Uma mistura de análises sobre televisão, música e cinema (ele adorava a Mostra de SP) com opiniões políticas, relatos de destinos visitados, histórias do universo LGBT+ e tudo mais que o interessasse. Suas listas de apostas de vencedores do Oscar e Emmy eram famosas. Acertava quase tudo.
Escrevia sempre com humor, sem medo de desagradar, especialmente a respeito de política. Apelidou Jair Bolsonaro de Mijair Biroliro. Votou em Lula, mas reprovava equívocos verbais e de gestão do atual presidente. Via tudo com olhar peculiar, imprimia seu estilo.
No domingo (11), Tony comunicou a seus leitores sobre o acúmulo de líquido na barriga que o levou a ser hospitalizado. “... uma semana atrás eu reparei que ela estava grande mais, tipo gravidez de nove meses. Mais um pouco e eu teria que me mudar para Taubaté”, escreveu, com o característico autodeboche.
Publicitário de formação, ele colaborou na criação de grandes campanhas. Depois se dedicou a roteiros para teledramaturgia e cinema. Trabalhou na redação do ‘VideoShow’ na época em que seu amigo Zeca Camargo comandava a atração. Recentemente, estreou como autor teatral com a peça ‘Quem Tem Medo de Olga del Volga’.
Mesmo doente, o jornalista se animava com planos. Deixa enorme legado. Vale a pena ler ou reler seus posts e matérias. Poucos tiveram tanta coragem de dar a cara a tapa. Em um texto de janeiro sobre o diagnóstico de câncer da personagem Maria Navalha (Olívia Araújo) na novela ‘Fuzuê’, Tony criticou o uso da doença como sentença de morte na teledramaturgia. Mesmo ciente da gravidade de seu caso, e talvez do fim iminente, se posicionou contra a estigmatização de pacientes oncológicos. Um exemplo de sua nobreza.