“Quem é você para querer julgar, com a visão de só alcança um palmo, aquilo que está a mil milhas?”, escreveu o dramaturgo italiano Dante Alighieri.
Baseada em trechos de imagens de câmeras de segurança da orla do Rio e diferentes versões contadas por transeuntes, parcela numerosa da internet se sente confortável para vilanizar Bruno De Luca.
Enxerga o apresentador como um covarde e ‘amigo da onça’ por não socorrer Kayky Brito ao ver o amigo estirado no chão após ser atropelado pelo veículo conduzido por um motorista de aplicativo.
Nas redes sociais, postagens de matérias sobre o acidente geram incontáveis comentários negativos. Há várias teorias a respeito de seu comportamento e da saída rápida do local.
Falam inclusive que teria fugido do flagrante de algo ilícito ou impróprio. As pessoas se sentem confortáveis em julgá-lo – já com viés de condenação – antes mesmo de a investigação policial ser concluída.
Talvez ele tenha sido negligente. Talvez tenha pensado apenas no próprio umbigo e numa possível implicação. Talvez covarde. Talvez, talvez, talvez.
E talvez tenha sentido uma emoção paralisante capaz de bloquear o raciocínio lógico e o deixado desnorteado a ponto de ir embora como uma forma de negar a desgraça que testemunhou. Talvez.
Na dúvida cabem incontáveis hipóteses. E dela podem surgir vergonhosas injustiças. O mais sensato é não aderir ao efeito manada nem vestir a toga de juiz do tribunal da internet.
A única certeza deste caso é o papel de herói. Cabe ao motorista Diones da Silva. Todos os indícios apontam para uma conduta correta ao volante e após o atropelamento. As circunstâncias o colocaram também como vítima.
O gesto de prometer doar parte da quantia arrecadada na vaquinha on-line para consertar o carro faz dele um cidadão exemplar. O melhor a fazer, agora, é torcer pela recuperação de Kayky Brito e aguardar o veredito das autoridades.