‘Mania de Você’ tem vários vilões. Um deles é Yuri, o misterioso golpista que atraiu Michele (Alanis Guillen) e Cristiano (Bruno Montaleone) para um esquema perigoso no Velho Continente.
O personagem consagra Arthur Haroyan como artista na televisão. Nascido na Armênia, país entre a Europa e a Ásia, ele se apaixonou pelo Brasil ao acompanhar as novelas da Globo.
Encantou-se ao descobrir a ascendência armênia da saudosa Aracy Balabanian, grande inspiradora de sua carreira. Após enfrentar guerras e outras dificuldades, desembarcou no Brasil com a cara e a coragem em 2008.
Conseguiu seus 15 minutos de fama ao ser entrevistado no ‘Programa do Jô’. Fez sucesso a ponto de voltar para uma segunda participação. Sua trajetória rendeu o livro de memórias ‘O Armênico’. Agora, já naturalizado brasileiro, ele vive a maior visibilidade da carreira no horário nobre.
Arthur Haroyan, de 41 anos, conversou com a coluna.
Imaginava participar de uma novela das 21h da Globo?
Acho que já estava na hora, e o universo conspirou a meu favor, pois, desde os 4 ou 5 anos, eu queria estar do outro lado da tela. Lembro-me de quando estreou a novela ‘Mulheres de Areia’ nos países da ex-União Soviética, logo após a queda do bloco, e eu anunciei para minha grande e dramática família que iria para o Brasil fazer novelas. Todos surtaram com a minha ideia insana, dizendo que nenhum armênio chegou ao Brasil porque seria impossível chegar tão longe. Mas, quando descobri que no Brasil tínhamos Aracy Balabanian, Stepan Nercessian e uma grande comunidade de armênios, as regras do jogo mudaram para mim.
Como aconteceu o convite?
Estava no banheiro quando meu celular tocou. Não atendi porque era um número desconhecido, mas, graças a Deus, deixaram uma mensagem. Pela primeira vez na minha vida e durante toda a minha carreira artística, não precisei fazer teste. Gente, às vezes, atendam as ligações, mesmo as de números desconhecidos (risos).
Como é a interação nos bastidores com os outros atores do elenco?
Estou amando cada momento! Aprendendo muito, evoluindo, tentando deixar meu personagem cada vez melhor e inesquecível, mas não queria ser como ele na vida real (risos). Encontrar nos bastidores os atores que eu assistia ainda na Armênia, na nossa televisão preto e branco com seletor de canais quebrado, que só girava com alicate – era o único móvel, junto com um piano, que restara após um terremoto destruidor – não tem preço. Contracenei bastante com Nicolas Prattes (que interpreta Rudá) e posso dizer que ele é um dos atores mais responsáveis, exigentes e talentosos que já conheci.
Como é se tornar colega de elenco de atores tão famosos e respeitados?
Volto à minha infância. Fui criado não apenas pelas mulheres da minha família, mas também pelas ‘Mulheres de Areia’, ‘Mulheres Apaixonadas’ e pela ‘Casa das Sete Mulheres’... Pela Nazira, Zoraide, Carminha…
Qual a sensação de fazer parte de uma novela das 9 da Globo, o sonho de todo ator que gosta de TV?
Demorou, mas chegou. Como diz minha mãe brasileira, dona Ana: “O que é do homem, o bicho não come”. É uma imensa realização, conquista, vitória. Afinal de contas, serei um exemplo para meus sobrinhos sonharem tão grande quanto o tio sonhava e continua a sonhar.
Como sua família na Armênia reagiu ao saber que você faria ‘Mania de Você’?
A primeira pessoa que soube foi minha irmã. A conversa foi assim:
— Oi, irmã!
— Oi. Comeu hoje? Não está doente? Mostre sua geladeira, tem comida?
— Vou fazer a nova novela das 9!
— Como?
— Vou fazer a nova novela das 9.
— Me dê 10 minutos, ligo de volta – disse, lacrimejando, e desligou.
Após 10 minutos, ela ligou de volta e não estava mais sozinha. Estava com toda a minha grande família armênia, além de ter chamado as vizinhas próximas que sempre torcem por mim. Não sei como ela conseguiu juntar todos em 10 minutos (risos).
Você já tinha feito participação anterior em alguma novela da Globo?
Uma vez, muitos anos atrás, ainda como um imigrante que juntava grana para sobreviver nessa selva de pedra e que corria atrás da Aracy Balabanian para dizer que ela foi uma das minhas grandes inspirações, recebi uma ligação de uma agência para fazer uma participação na novela ‘Passione’, onde Aracy interpretava o papel da Gemma Mattoli. A gravação iria acontecer no Conjunto Nacional, na Avenida Paulista. A agência pediu que eu levasse uma calça social preta e uma camisa branca ou azul-claro. Não tinha nada disso no meu guarda-roupa. Tinha poupado um pouco de dinheiro para gastos cotidianos e, na mesma tarde, fui ao Shopping Ibirapuera, onde consegui comprar uma camisa branca por R$ 39,90 e uma calça social preta por R$ 59,90, ambas na promoção! Chegando ao local, meus olhos começaram a girar 360 graus em busca da Aracy. Tinha muita gente lá, muitos figurantes e uma grande equipe técnica. Aproximei-me de uma jovem da equipe:
— Olá, senhorita – com acento no ‘o’. Eu sou da Armênia, do país! – sublinhei para não haver confusão com a estação de metrô. — Aracy está por aqui?
— Quem? – perguntou, enquanto falava com alguém no rádio.
— Aracy Balabanian!
— Querido, você é figurante, não é? – perguntou.
— Sim, mas só por hoje! – respondi.
— Então, passa para trás, fica lá com a galera. Quando for a sua vez, eu te chamo – disse, com desprezo.
— E a Aracy Balabanian? Eu sou da Armênia! – como se a frase “sou da Armênia” fosse resolver todos os meus problemas…
— O que isso tem a ver? – perguntou.
— Ela é minha tia – foi a primeira coisa que veio à minha cabeça, e imediatamente me arrependi por ter falado a coisa mais estúpida do mundo.
— Você trouxe o figurino? – perguntou.
— Já estou de figurino! – respondi.
— Vamos trocar por azul-claro!
O encontro com a Aracy parecia uma aposta de loteria com zero probabilidade de ganhar. Perguntei e soube que ela estava gravando na Itália, com o Tony Ramos e a Fernanda Montenegro. Meu plano de encontrá-la desmoronou mais uma vez, mas valeu a pena estar lá e apreciar ao vivo a lindíssima Maitê Proença.
Mudou-se de São Paulo para o Rio devido às gravações de ‘Mania de Você’?
Ainda só gravo e volto, mas tenho um grande amor pela Cidade Maravilhosa. É um dos emblemas do nosso Brasil. Eu tinha um pôster do Rio pendurado no meu quarto e dizia para a minha mãe que iria comprar uma casa lá, perto do Cristo. Ela achava que algo estava completamente errado comigo (risos).