Geovanna Tominaga cresceu no universo artístico: foi modelo fotográfica infantil e participou de caravanas do Bozo. Mas a virada na carreira se deu aos 12 anos, quando estreou como Angelicat, apelido dado às assistentes de palco de Angélica, no Clube da Criança, na extinta TV Manchete. "Eles queriam um grupo de quatro meninas. Uma negra, uma japonesa, uma ruiva e uma loira e eu entrei para trabalhar. Eu tenho orgulho de ter sido Angelicat porque foi onde eu aprendi tudo de televisão. Quando a Angélica veio com a mistura, eu nem tinha a consciência sobre representatividade, mas eu achei muito legal. De repente eu virei uma referência para muitas outras orientais. Eu nunca tive essa figura. Eu acho, inclusive, que essa é a minha força, é a minha diferença", relembra a artista e celebrante e entrevista ao Terra.
Naquela época, há mais de 20 anos, representatividade nem era pauta ou um assunto amplamente discutido. Tanto que a ex-apresentadora mirim não sonhava em ser paquita, como tantas outras crianças da sua geração. "As paquitas eram todas loiras. Quem não era loira tinha que pintar o cabelo. Eu não tinha essa referência. Eu nunca quis ser paquita porque eu não me via ali. Tanto que quando eu dublava alguém, enquanto todo mundo escolhia a Angélica, a Xuxa, eu dublava a Fernanda Abreu. Foi o máximo que eu cheguei perto de uma japonesa", acrescenta.
Em pleno 2020, a diversidade de etnias na tevê ainda é escassa. Agora, o tema envolvendo as pessoas de traços orientais ganhou força após Daniele Suzuki ter perdido um papel de protagonista na novela Sol Nascente (2016). Ainda que toda a polêmica tenha supostamente a ver com a idade da atriz e a falta de experiência à época, muita gente tem se perguntado: por que atrizes orientais nunca ocupam papeis de destaque?
Geovanna Tominaga afirma que ainda existe preconceito racial na televisão. "Eu nunca me vi diferente. Eu acho que eu sou igual a todo mundo, só os meus olhos que são diferentes. Mas existia preconceito, existe ainda hoje. Tanto que você não tem muitos artistas orientais em destaque, mas eles existem e precisam de mais espaço. Quando eu era chamada para novelas era só para fazer papel de oriental. Eu não podia ser amiga da amiga. Eu tinha que ser a japonesa que era a filha do japonês, que é o pasteleiro ou dono da floricultura. Tinham essas caricaturas. Quando eu fiz Malhação, tentaram encontrar um pai para mim na novela. Só que não encontram um pai japonês com a idade que ele tinha que ter. Aí colocaram um alemão, um cara loirão, para justificar a mistura de raças. Isso é pouco falado, mas é um preconceito que ainda existe. Eu acho que a gente vai quebrando barreiras lentamente", avalia.
Para a artista, seus traços de ascendência japonesa, herdados do avô paterno, não são uma questão, mas uma característica que carrega com orgulho. Ela também não se importa em ser chamada de "japinha" ou "japa", expressões que para muitos pode soar xenofóbica. "Eu adoro, tenho muito orgulho. Quando eu estava apresentando o Video Show, rolou até uma discussãozinha na internet sobre isso porque o André [Marques] me chamava de japinha. Um dia ele falou no ar e um telespectador achou um absurdo. Mas e eu não sou? Eu acho que o que dói é a maneira como a pessoa fala e não exatamente o termo. Eu sempre fui chamada de japa, japinha de uma forma muito carinhosa. Pela Angélica, pelos amigos, pela família".