Ao descer do barco, na tradicional chegada das estrelas de cinema ao Festival de Veneza, Angelina Jolie atraiu todos os olhares e flashes. Com cabelos loiros, usava vestido da designer australiana Tamara Ralph e estola de pele falsa. Na boca inconfundível, batom vermelho-vivo.
A atriz, de 49 anos, divulga o filme ‘Maria’, do diretor chileno Pablo Larraín. O roteiro acompanha os últimos anos de vida de Maria Callas, a mais famosa cantora erudita de todos os tempos. Sua vida foi tão dramática quanto os libretos das grandes óperas.
(Sugiro ao leitor não iniciado no universo lírico a ouvir a popular ária ‘O Mio Babbino Caro’, interpretada por Callas, em vídeo disponível no YouTube; um dos momentos magistrais do repertório da artista.)
No primeiro vídeo de ‘Maria’, lançado nas redes sociais, Jolie aparece falando inglês com forte sotaque grego e postura de prima-dona. Fisicamente, é difícil vê-la parecida com a personagem verídica. São belezas bastante diferentes.
Nascida em Nova York, filha de imigrantes helênicos, Maria Callas foi criada em Atenas, onde estudou canto e se descobriu uma soprano. Atingiu o estrelato em montagens na Itália. Rodou o planeta aplaudida por plateias lotadas. Foi Gioconda, Medeia, Tosca, entre outras protagonistas.
A cantora viveu um grande e doloroso amor pelo armador grego Aristóteles Onassis. Primeiro, foi amante; depois, ele se separou para ficarem juntos. Mas levou um duro golpe ao ser abandonada: o magnata preferiu se unir a Jacqueline Kennedy, viúva do presidente norte-americano John Kennedy, assassinado ao lado dela em Dallas, anos antes.
Biógrafos afirmam que a cantora foi vítima de um relacionamento abusivo. Era constantemente humilhada pelo companheiro. Ao se ver sozinha e sem realizar o sonho de ser mãe, Callas se deprimiu. Sua carreira perdeu o brilho.
Apresentou-se pela última vez em 1974, no Japão. No ano seguinte, a morte de Onassis produziu nela um mergulho em profunda tristeza. Encastelou-se em seu apartamento no número 36 da Avenida Georges Mandel, no 16º arrondissement, a região mais chique de Paris. Não foi mais vista em público.
Passou os últimos três anos de vida com as cortinas fechadas. Não quis que ninguém a visse envelhecida, esquálida e prostrada. Morreu de parada cardíaca – ou, se preferir, de coração partido – em setembro de 1977, aos 53 anos. Virou mito.
Coincidentemente, Angelina Jolie também se abateu com uma grande decepção romântica: o casamento com Brad Pitt terminou em brigas e rancor. Por sorte, ela conseguiu se levantar e agora mostra ao mundo as glórias e dores de Maria Callas.
Em palcos brasileiros, a cantora foi vivida por Marília Pêra no espetáculo musical ‘Master Class’ na década de 1990. Em entrevista à ‘Folha’, na época, a atriz comentou sobre a homenageada. “Tenho a impressão que o maior problema dela foi o abandono da grande paixão da sua vida (Onassis). Isso destruiu não a voz, mas o ego dela, que, para uma diva, é a morte.”