No dia 27 de março, Xuxa Meneghel completa 62 anos de uma trajetória com muitos motivos para celebrar. Ela, porém, evita grandes comemorações. "Fiquei um pouco traumatizada porque por quase 15 anos eu tinha três festas de aniversário: uma em casa com amigos e familiares, outra com pessoas públicas e empresários e uma terceira com os fãs. Já comemorei demais", explica.
Mas a data não passará em branco. Ela marcou para o próximo dia 27 o lançamento do audiovisual Xuxa Só para Baixinhos 14 - Cores. Desta vez, com foco nas cores, o projeto tem 13 músicas inéditas. "Lanço nessa data porque é um presente que estou dando para mim, que é voltar a fazer algo para o público que amo", diz.
A seguir, Xuxa revela detalhes do projeto, fala de cobranças e do sucesso de Deu Petch!, série que apresentou no Fantástico, da Globo. Confira trechos da entrevista da eterna Rainha dos Baixinhos para a Revista CARAS.
Vem aí o XSPB 14! Quem está mais ansioso: os fãs, a Som Livre ou você?
Quero acertar e espero que as crianças, as mães e os fãs gostem.
Quais as diferenças em comparação às edições anteriores?
Usei inteligência artificial, seis desenhistas diferentes, canto com a Angélica… E diferentemente de outros trabalhos para crianças, que vão da música 1 à última faixa, fiz algo distinto a cada canção.
As músicas são do Junno, você se envolve nas letras?
Me envolvo nos pedidos. Por exemplo, questiono por que a rosa se chama rosa se nem todas as rosas são rosas. E, baseado nessa dúvida, o Ju fez A Rosa. Ele disse: 'Você faz perguntas engraçadas, parece criança falando'. Tem outros compositores. Mas como o Ju está ao meu lado, passo tudo para ele, que monta um esqueleto, se une com os outros compositores e eles fazem a coisa acontecer.
Como manter o XSPB atual para falar com as crianças hoje?
É difícil! Busquei desenhistas que tenham a linguagem da internet, como a Rafaella Tuma, profissionais que atuam em grandes empresas, como o Haroldo Guimarães Neto, que faz coisas para a Disney, o Reinaldo Waisman, que já trabalhou comigo... Quero coisas diferentes. Quando descobria que alguém trabalhava com inteligência artificial, pedia para fazer algo para mim. Faço o mais verdadeiro e bonito possível. Assim, tenho menos chance de errar com as crianças de hoje, de ontem e de amanhã.
Entre os processos que envolvem o projeto, qual gosta mais?
O de que mais gosto é a finalização. Sou ansiosa, peço as coisas imaginando a finalização. Entre idas e vindas, até ficar como quero, o melhor é dizer: 'Está feito, manda para a Som Livre!'.
Os primeiros XSPBs foram inspirados em audiovisuais gringos. Hoje, onde se inspira?
Até busquei inspirações, mas não vi nada de interessante lá fora. Parece que o mundo parou de fazer coisas legais para crianças. Hoje falta magia. Talvez, as crianças não queiram ver isso e eu esteja errada. Mas não me inspirei em ninguém, pois não vi nada com meu DNA.
Tem curiosidade de bastidores para contar?
Pedi para um menino, o Pietro, escrever a palavra azul e jogar tinta em um vidro. Mas primeiro, queria dançar, depois jogava tinta, aí queria dançar de novo [risos]. Pedi para as crianças gravarem nomes de frutas que não estavam em A Banana É Amarela, como morango, uva… Uma menina chamada Lu gravou e, depois, disse: 'Xuxa, adoro tomate, mas a fruta que mais gosto é morango'. Achei bonitinho e pedi para encerrarem a música, que já estava finalizada, com esse trecho.
Quando convidou a Angélica para cantar, ela topou na hora?
Na hora! Nós temos um fechamento. Se ela me chamar para fazer qualquer coisa, estarei lá. Ela colocou a voz em menos de 30 minutos. A gente mandava os desenhos e ela aprovava rapidamente. Ela estava viajando, então, provei as roupas, fotografei e mandei, ela curtiu. Ela é incrível!
Qual sua música preferida?
Toda música que eu gravava não saía da minha cabeça. Então, percebi que não tinha preferida. Inclusive, porque cada canção tem um traço diferente. Em Na Natureza, a Doralice estava comigo em uma dog bag e eu andando em uma esteira. A música tocou seis vezes e ela dormiu. Ouço a canção e imagino ela fechando os olhos. Na música com a Angélica, ficou tão legal a gente em desenho animado e inteligência artificial.
Além de lançar o XSPB 14, vai comemorar o aniversário?
Não sou chegada em comemorações. No máximo, um bolinho vegano, eu, Doralice, Ju... Se a Sasha estiver vou gostar, mas se não puder, tudo bem. E embora não goste de aniversário, lanço o XSPB nessa data porque é um presente que estou dando para mim, que é voltar a fazer algo para o público que amo de paixão.
O que a Xuxa de 62 anos mais se orgulha de ter realizado?
Ser mãe. Me orgulho da Sasha, que se formou em Moda e tem a sua própria linha, que está cada vez mais bonita. Me orgulho demais de chegar aos 62 anos e dizer que não errei como mãe, espero não ter errado como filha e estou doida para saber como serei como avó.
Qual é a melhor parte em amadurecer?
Só a experiência. O resto tem lados bons e ruins. O ruim é conviver com a falta de colágeno, a falta de respeito das pessoas por você envelhecer. O bom é ter a cabeça melhor, entender mais a ignorância das pessoas, se abraçar e dizer para si que poderia ter feito algo diferente, mas que tudo bem, valeu a pena para chegar a esse momento com uma boa cabeça. O amadurecimento vem com conhecimento, mas também com coisas desagradáveis, porque o bullying, o preconceito, a ignorância e a falta de respeito está grande. E não digo só comigo, mas com todos. Ao ver mulheres falando mal de outras mulheres, homens machistas, políticos dizendo coisas desagradáveis, pessoas brigando com outras por causa de um Deus que elas criaram, me dá vontade de não entender sobre um determinado assunto para não ver o quanto essas pessoas estão erradas. Se fosse criança ou adolescente, talvez não ligasse tanto para isso. Porém, mais madura, dói ver tudo isso.
Que elogio gosta de ouvir?
Gosto de ouvir da minha filha e do Ju que estou em uma boa fase da minha cabeça e do meu corpo. Gosto quando o Ju diz que estou gostosa [risos]. Primeiro, penso que ele precisa de óculos. Depois, vejo que tenho sorte, que ele me ama. Os verdadeiros fãs também demonstram carinho e respeito por mim. Eles não me expõem e torcem por mim. Me protegem e me aceitam do jeito que eu sou.
Você postou um manifesto no Dia Internacional da Mulher e falou o quanto as mulheres são cobradas. Hoje, quais cobranças você mais sofre?
Vivemos na época do filme A Substância. Ninguém quer envelhecer, as pessoas não perdoam alguém fora do que determinam como padrão e até mesmo alguém feliz. E isso atinge, principalmente, meninas adolescentes e mulheres mais velhas. Muitas meninas tiram sua vida por ignorância dos outros e vejo gente deixando de trabalhar, de ser feliz e fazer o que quer por medo do julgamento. Não serei hipócrita de dizer que, às vezes, não penso que estou velha, principalmente porque trabalho com a minha imagem. Mas depois lembro que existem coisas mais importantes. Deveríamos nos unir para mostrar que é normal cada um ser do jeito que é, que ser diferente é legal. Mas na internet as pessoas se sentem no direito de falar o que querem e quanto mais coisas ruins falam, mais têm espaço.
Em janeiro você se submeteu a uma cirurgia no joelho. Está plenamente recuperada?
Sim. Inclusive voltei às caminhadas de 5 km, fisioterapia, musculação, pilates... Me sinto bem. O joelho direito, que operei, está ótimo, mas comecei a sentir uma dorzinha no esquerdo [risos].
Deu Petch!, que apresentou no Fantástico, bateu recordes de audiência. Ao que você atribui esse sucesso todo?
Acho que a paixão das pessoas por animais e por saberem o quanto gosto de bicho. Todos sabem que queria ser veterinária e gosto mais de conviver com animais do que com pessoas. E, claro, o carinho da equipe toda que fez o trabalho de pesquisa. Quero mostrar não só gatos e cachoros, mas outros animais do Brasil todo.