Após ver comentarista Ana Paula Henkel, do programa ‘Os Pingos nos Is’, contestar a aplicação de vacinas em menores de 18 anos, por suposto risco de efeitos colaterais, Jair Bolsonaro entrou em contato na mesma hora com o âncora Augusto Nunes para informar que pediria explicações ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.
O próprio Nunes relatou o fato ao público que acompanhava a atração da Jovem Pan transmitida simultaneamente no rádio e na internet. Na live do dia 9 de setembro, o presidente revelou ser ouvinte e espectador fiel de ‘Os Pingos nos Is’. “Que prazer (acompanhar o programa)! Diferentemente da Globo, que eu queria que fosse diferente”, comentou.
A determinação de Queiroga de interromper a imunização de quem tem entre 12 e 17 anos gerou a mais nova crise entre o governo federal e os Estados. Alguns, como São Paulo e Rio de Janeiro, decidiram ignorar a norma do ministro e manter a vacinação dos adolescentes.
Esse episódio ressalta a influência poderosa da Jovem Pan sobre Bolsonaro. A emissora assumidamente apoiadora do presidente se tornou a maior porta-voz da direita na mídia. Há jornalistas com visão progressista em sua equipe, mas a maioria dos apresentadores e comentaristas defende os pilares conservadores e abomina a esquerda.
Ao pautar o presidente e gerar uma mudança relevante no governo, a Jovem Pan mostra que chamar a imprensa de ‘o quarto Poder’ (ao lado do Executivo, Legislativo e Judiciário) não é mera força de expressão. O primeiro veículo a divulgar essa polêmica envolvendo a rádio e o governo foi ‘O Antagonista’, que tem o antibolsonarista e antilulista Diogo Mainardi entre os sócios-editores.
O CEO do Grupo JP, Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha (neto do fundador da TV Record, Paulo Machado de Carvalho), trabalha para lançar ainda este ano o canal de TV da Jovem Pan. Caso o projeto se concretize, deve ser uma antiGlobo, ainda mais defensora de Bolsonaro e da direita do que SBT, Record e RedeTV.