A década de 1990 viu a explosão dos discos acústicos na música brasileira — fenômeno também observado no exterior, graças à MTV em ambos os casos. Para se ter ideia, o álbum ao vivo mais vendido da história foi feito com violões: Unplugged (1992), gravado por Eric Clapton para a emissora citada, com mais de 25 milhões de cópias. Em território nacional, bandas como Titãs, Capital Inicial e Kid Abelha também chegaram ao patamar de milhões com seus trabalhos neste formato.
Curiosamente, o Skank nunca lançou um disco desplugado, embora tenha vivenciado seu auge de popularidade entre os anos 1990 e 2000. Em entrevista ao G1, o vocalista e guitarrista Samuel Rosa definiu álbuns do tipo como "pontes de safena" — em referência ao procedimento que visa restaurar o fluxo sanguíneo no corpo humano.
O assunto foi abordado após Rosa apontar que seu grupo, encerrado em 2023, nunca sofreu qualquer grave interferência das gravadoras com as quais trabalhava. Reconheceu, por outro lado, que lidar com um grande selo "é sempre uma negociação", mas ainda assim conseguiu fugir dos álbuns inteiramente gravados com violões.
Conforme transcrição da Rolling Stone Brasil, ele disse:
"Lançar um disco de 2 em 2 anos não foi uma exigência da gravadora, mas nos anos 1990 até meados dos anos 2000 achávamos que seria bom — mesmo nem sempre contando com inspiração da banda. Mas não me lembro de ser uma exigência. Eu me lembro de quando estourou aquela onda de acústicos, que chamávamos de 'ponte de safena'. Quando a banda não ia muito bem, 'faz uma ponte de safena que é gravar um acústico' e, pá, estourava — apesar de termos, na história, discos acústicos muito bons."
Um dos entrevistadores, Braulio Lorentz, mencionou uma teoria curiosa de Dinho Ouro Preto: segundo o vocalista do Capital Inicial, os acústicos serviram como a "semente" do sertanejo universitário que explodiria nas décadas seguintes. Rosa enfatizou que o colega tem propriedade para falar sobre o tema, visto que, graças a seu álbum desplugado, "a banda voltou de um tamanho que não teve nos anos 1980".
Em seguida, o frontman revelou que a Chaos, gravadora subsidiária da Sony à qual o Skank estava vinculado na época, fez "grande pressão" para o lançamento de um disco acústico após Maquinarama (2000). O quinto trabalho de estúdio do grupo trouxe músicas como "Balada do Amor Inabalável", "Três Lados" e "Fica", mas não repetiu o sucesso de seus antecessores.
"Lembro da grande pressão da gravadora para fazermos um acústico após o Maquinarama, que não foi um campeão de audiência por assim dizer. Foi um disco de ruptura: o Skank abdicou dos metais, do reggae radiofônico, para entrar em algo mais de canção, com aqueles sons de teclados e guitarras. Comecei a explorar mais as guitarras e o Henrique [Portugal], os teclados. Começamos a sofisticar um pouco mais os vocais. É um dos primeiros discos brasileiros de indie rock. Com aquela mudança de som, a gravadora ficou meio com o pé atrás, pois tínhamos rompido com o formato comercialmente vencedor. Ficaram um pouco assustados: 'já que vocês lançaram esse disquinho mais conceitual, que tal se fizermos agora um acústico?'."
Skank dribla a gravadora
No fim das contas, o Skank encontrou uma alternativa para não ter que recorrer à "ponte de safena". Samuel Rosa relembra:
"Fizemos uma 'meia concessão': dissemos que não tem como fazer direto um acústico sem fazer um ao vivo. Aí eles, um pouco relutantes, falaram para fazer o ao vivo primeiro. A praxe da época era a banda se lançar com um disco de estúdio e o segundo ser ao vivo ou acústico, mas o Skank demorou cinco álbuns para fazer seu primeiro 'álbum de projeto'. A gravadora queria muito que fosse o acústico e nós falamos para fazer primeiro ao vivo. Foi aí que nasceu o Ao Vivo em Ouro Preto, gravado na Praça Tiradentes em julho de 2001."
Rosa ainda brincou que seu grupo segue enganando a gravadora. O motivo? Mesmo após o álbum ao vivo, não gravou o acústico. E concluiu:
"Talvez o Skank seja uma das únicas bandas do pop rock brasileiro que não tem acústico em seu currículo."
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