Aos 16 anos, MC Gui quer renovar funk e conhecer Bieber

Em entrevista ao Terra, cantor adolescente define carreira como realização de um sonho e não esconde felicidade

3 set 2014 - 15h23
(atualizado às 16h01)
MC Gui falou com a imprensa sobre lançamento de DVD nesta terça-feira (2), em São Paulo
MC Gui falou com a imprensa sobre lançamento de DVD nesta terça-feira (2), em São Paulo
Foto: João Vieira / Terra

MC Gui é o retrato exato do talento precoce. Com apenas 16 anos, o garoto não tem só altura de homem, mas atitude também. Mesmo assim, ao entrar em uma conversa descontraída com Gui, como a que ele teve com o Terra, em um restaurante de São Paulo, nesta terça-feira (2), é possível identificar algumas características típicas de um menino que transborda alegria. Mais ou menos como aquela criança que não segura a emoção ao ganhar uma bicicleta, ou um videogame, na noite de Natal.

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A bicicleta de Guilherme Kaue Castanheira Alves é O Bonde é Seu, seu primeiro trabalho ao vivo, lançado em CD e DVD, e a confirmação de seu sucesso arrebatador. Porém, mesmo com shows marcados em todo o Brasil, Gui não esqueceu do passado. "Eu já cheguei a andar com tênis rasgado, e hoje posso deitar no travesseiro e pensar: ‘poxa, tudo que eu sonhei está acontecendo’", comemora, com os olhos cheios de brilho.

Ainda assim, MC Gui é somente um garoto. Por isso, é observado de perto pelo pai, Rogério Alves, agente e responsável pela carreira do cantor. Ao final de cada encontro com jornalistas, Rogério corre para perto do filho, dá assistência, enche de conselhos e entrega um suco de laranja. "Tem que ter alguém por perto também, que tenha uma boa cabeça. No meu caso, esse alguém foi meu pai", não se cansa de lembrar. A família, aliás, foi fundamental para superar a morte do irmão, Gustavo Castanheira, em abril. Um ano mais velho, Castanheira, que era o melhor amigo de Guilherme, sofreu uma parada cardíaca após abusar do uso de energéticos. Por isso, garçom, desce mais um suco. 

Ambicioso, MC Gui quer mudar a cara do funk no Brasil 

Mas a ambição de Gui vai muito além de shows, DVDs, correntes de ouro e sucos de laranja. Ele sonha em deixar o nome na história do funk, revolucionar e mudar a direção do estilo, um dos mais controversos da música brasileira nos dias de hoje. Sem medo de críticas, Guilherme sente orgulho do caminho traçado até hoje. "Estou passando uma mensagem muito diferente de muitas coisas que existem no funk. Quero passar alguma coisa que seja uma inspiração para todas as idades", afirma. 

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De fato, sua música não é das mais comuns quando se fala de funk. Em Sonhar, por exemplo, um dos maiores sucessos do cantor, a melodia conta com auxílio de instrumentos de corda estranhos ao estilo, como violão e violino. A letra também não faz o estilo "pegador" que muitos nomes do ramo costumam mostrar. "Não nasci na rua, mas me joguei nela. Sou mero aprendiz, na vida de favela. Onde eu tenho certeza, que a fé nunca morre e a vida real não parece novela", começa, utilizando sua própria história como inspiração. "Não pode chegar tão longe. Porque o pai não vai deixar a filha ficar escutando essas coisas, entendeu?", diz ele, sobre letras com apelo sexual que costumam dominar o universo do funk. 

Um sonho? Conhecer Justin Bieber

Dizer "um sonho" talvez seja um pouco injusto. Guilherme transborda desejos, quer realizar todos eles o quanto antes. Mas um, talvez, seja o principal no momento: conhecer o ídolo Justin Bieber. Algo que ele garante que, cedo ou tarde, irá acontecer. "Eu tive chances, mas não o conheci ainda. Ele fez um show em São Paulo, eu também estava fazendo. Ele foi para o Rio de Janeiro e eu estava no Rio de Janeiro também fazendo show. Acho que aquela não era a hora. Mas vai ter o meu dia. E é um sonho", garante. 

Menino, príncipe, galã, celebridade, artista, "ostentador", talvez todas essas palavras caibam para retratar MC Gui. Mas, provavelmente, nenhuma definição seja mais exata do que "um garoto brincando com a bicicleta nova". 

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Confira a entrevista completa

Terra - Você, apesar de jovem, está arrebentando. Todo mundo te conhece, mesmo que você nem tenha chegado nos 20 anos ainda. E a gente vê que muita gente na periferia tem esse sonho de fazer sucesso com funk. Como é para você chegar aonde chegou?

MC Gui - Para mim é muito bom, né? Fico muito feliz de estar vendo o resultado de todo o trabalho que foi feito. Então para mim é muito gratificante estar presente em diversos lugares com todo o meu trabalho, com o resultado, né? Então fico muito feliz, sem palavras.

Terra - Eu estava olhando o seu trabalho e me parece ser muito sincero. Você está fazendo uma coisa que você gosta. Não é aquilo de fazer só para vender, e vejo que você fala sobre muitas coisas, não só sobre mulher e curtição, mas sobre sua vida. De onde saem todas essas inspirações?

MC Gui - É que (fazer sucesso) foi um sonho do Guilherme, não do MC Gui. Um sonho que se tornou realidade, de estar gravando um DVD, de estar nesse sucesso todo que eu estou, então foi uma coisa que eu sempre quis. Que nem você disse, no meio da periferia é o sonho de toda criança fazer sucesso (com música). Foi um sonho que eu tive e, depois da chegada do MC Gui, mais adolescentes, mais crianças passaram a querer esse espaço.

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Terra - Você inspirou esses adolescentes, mostrou que é possível?

MC Gui - Muita gente está se inspirando em mim, graças a Deus. Eu estou passando uma mensagem muito diferente de muitas coisas que existem no funk. Tem aquele funk que fala sobre putaria... já eu quis passar alguma coisa que fosse uma inspiração para todas as idades.  

Terra - O funk do começo dos anos 2000 era uma música de adulto, não é? Agora, com essa chegada de artistas jovens, como você e a MC Pocahontas, acabam dialogando mais (com o público mais jovem). Você pensa nisso? De falar para todas as idades, de não pegar muito pesado (nas letras)?

MC Gui - Eu penso, né? Porque as vezes não pode chegar tão longe. Porque o pai não vai deixar a filha ficar escutando essas coisas, entendeu? Ele quer passar uma mensagem boa para a filha dele, quer que ela seja uma pessoa boa.

Terra - E você acredita que o tipo de música que você faz ajuda a tirar um pouco desse preconceito que ainda existe com o funk? Assim como o rap, o funk veio da periferia, e está encarando essa situação de ser um pouco criminalizado...

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MC Gui - Mas é por isso, por conta das músicas que vieram (antes) que não pertenciam ao funk. E acabou dando esse problema da pessoa perguntar (com desdém): ‘o que você canta?’ ‘Eu canto funk’, ‘ah, essa bosta’, entendeu? A gente quer renovar o funk. É mais ou menos isso que o MC Gui está fazendo.

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Terra - E quanto ao funk ostentação? Essa coisa de ostentar tem a ver com isso tudo? É uma questão de atitude ou só visual mesmo?

MC Gui - Eu tenho uma música que se chama Príncipe da Ostentação, ela fala que a vida é uma roda-gigante. Uma hora você está embaixo, mas depois pode estar em cima. Eu já cheguei a andar com tênis rasgado, já trabalhei no centro da cidade de “plaqueiro” (profissão popular também conhecida como “placa humana”), já fiz diversas coisas. E hoje eu posso deitar no travesseiro e pensar: ‘poxa, tudo que eu sonhei está acontecendo’. Isso é para mostrar para todos que desacreditaram que a vida é bem isso mesmo, o mundo dá voltas. No funk ostentação, a gente tenta ostentar tudo que as pessoas sonham (em ter), um carro, uma corrente, e a gente sua para ter, não é fácil, não. Estar todos os dias nas noites por aí, não é fácil.

Terra - Você acha então que, hoje em dia, tem que ter atitude para fazer funk? O cara precisa se garantir?

MC Gui - Ele tem que acreditar nele mesmo. É o primeiro que tem que acreditar em si mesmo, para poder fazer esse trabalho, esse sonho dele se tornar realidade. Tem que ter alguém por volta dele também, que tenha uma boa cabeça. No meu caso, esse alguém foi meu pai. Porque a gente não pode pensar em tudo sozinho, pensar só em você. Tem que pensar no que você quer fazer e o que aquele pessoal, aquele público que vai estar no show quer ouvir da sua boca.

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Terra - Para finalizar, eu li que você tem o sonho de conhecer o Justin Bieber...

MC Gui - Sim. Eu tive chances, mas não conheci ainda. Porque quando ele veio ao Brasil eu estava trabalhando. Ele fez em show em São Paulo, eu também estava fazendo. Ele foi para o Rio de Janeiro e eu estava no Rio de Janeiro também fazendo show. Acho que aquela não era a hora. Mas vai ter o meu dia. E é um sonho. Não só de conhecer ele, como poder fazer uma viagem para fora do Brasil. 

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Fonte: Terra
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