Darryl Jones ocupou a vaga deixada por Bill Wyman nos Rolling Stones em 1993 e não saiu desde então. O baixista participa das turnês e da maioria dos registros em estúdio. Não é um membro oficial do grupo — que hoje segue como um trio após a morte do baterista Charlie Watts —, mas sua experiência ao lado de Mick Jagger, Keith Richards e companhia é única.
À revista Bass Player (via Ultimate Guitar), Jones refletiu sobre as peculiaridades do trabalho com os Stones em estúdio. O processo criativo de Jagger e Richards é bem específico, especialmente do guitarrista, que logo de cara contou a Darryl como tudo funciona.
O baixista diz:
A primeira coisa que acontece é que Mick e Keith se juntam e jogam diferentes riffs e ideias. Keith me disse uma vez que, às vezes ele vai tocar uma velha canção no piano, como algo de Hoagy Carmichael, ou um blues, e suas mãos caem em lugares diferentes. É assim que ele surge com uma música. Então Charlie vinha e eles começavam a adicionar as pessoas."
Sobre o baixo, sua função, Jones revelou que Jagger tem sido mais próximo dele. O músico explicou:
Recentemente, eu tenho discutido linhas de baixo com Mick mais do que nunca, porque ele tem uma ideia melhor do que está procurando. Então tentamos um monte de coisas diferentes. Nós tentamos uma linha completa, nós tentamos dobrar a guitarra - até que tenhamos algo com o qual ele está satisfeito."
Keith Richards enquanto compositor
Já com Richards, Darryl parece ter mais liberdade de criação. Ao mesmo tempo, o baixista sabe o que esperar do guitarrista. Em suas palavras:
Keith delega muito mais. Ele apenas coloca a ideia lá e te deixa desenvolver de uma forma que é mais orgânica para você. A coisa interessante sobre as composições de Keith é que eu sei um pouco de como ele toca baixo, então agora eu tenho um repertório de coisas que Keith faria para suas linhas de baixo, para dar a elas aquelas características do Keith. Como, em vez de tocar a nota fundamental, ele tocaria a terça menor. Eu tento adicionar essas coisas às composições deles, para deixa-las um pouco mais 'stoneanas'."
Relação com Charlie Watts
Como baixista, sua relação com Charlie Watts era especial. Darryl Jones abordou, então, os aspectos técnicos da "cozinha" do grupo — como o "pocket", expressão que designa aspectos do groove da bateria.
É um 'pocket' de rhythm & blues, mas um pouco mais solto. Isso levou um tempo para eu me acostumar. Me lembro de que, no começo, às vezes quando Charlie Watts ia da seção A para a seção B de uma canção, parecia que o ritmo estava começando a se esticar durante algumas partes e eu fazia um ajuste. Mas terminava em um lugar onde eu não queria terminar. Agora eu solidifico isso, mas eu não tocava tão junto a ponto de o som dele não poder respirar. Sempre me diverti muito tocando com aqueles caras."
A carreira de Darryl Jones
Prodígio do baixo, Darryl Jones fez parte da banda do lendário Miles Davis na primeira metade dos anos 1980. Junto do ícone do jazz, gravou os álbuns Decoy (1984) e You're Under Arrest (1985).
Em 1985, entrou para o primeiro grupo solo de Sting, ex-The Police, e tocou no disco Dream of the Blue Turtles. Ainda na década de 80, esteve em Journeyman (1989), de Eric Clapton.
Já com os Rolling Stones a partir de 1993, continuou a participar de álbuns de grandes nomes, como Joe Cocker, em Organic (1996), e B.B. King, em Deuces Wild (1997). Nos anos 2000, apareceu em trabalhos de Rod Stewart, Ziggy Marley, Neil Young e do colega Ronnie Wood.
Nos Stones, tocou em Voodoo Lounge (1994), Bridges to Babylon (1997), A Bigger Bang (2005) e Blue & Lonesome (2016). Não participou do disco mais recente do grupo, o aclamado Hackney Diamonds (2023), onde o baixo foi dividido entre Keith Richards, Ronnie Wood e o produtor Andrew Watt, além dos convidados Bill Wyman e Paul McCartney.
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Colaborou: André Luiz Fernandes.