Foi ao som de vozes como Erikah Badu e Lauryn Hill que a curitibana Karol Conká começou a semear uma ideia ambiciosa: ser uma rapper brasileira de sucesso. Aquele papo de “nunca esperava que isso fosse acontecer” não faz o jeito dela. Karoline dos Santos Oliveira tem grandes planos pra si e encara os desafios como se já soubesse o que vem pela frente. Aos 27 anos, ela voltou de uma turnê na Europa no início do ano, onde caiu na graça dos gringos e foi a primeira artista a gravar em português na rádio BBC 1.
O primeiro flerte com o rap nacional foi há mais de dez anos. As referências eram poucas, mas suficientes para despertar em Karol a vontade de rimar. Dina Di, Negra Li e Nega Giza serviram de inspiração e assim os primeiros versos começaram a surgir. “Elas eram militantes da cultura. Me faziam acreditar que eu poderia também”. Mas Karol queria trazer algo novo para a cena, uma figura feminina mais sorridente, mas que cantava com atitude e firmeza no discurso.
“Em Curitiba, algumas meninas chegaram a me chamar de vagabunda porque eu usava saia e maquiagem no palco. Eu achava estranho não ser natural ser mulher no rap”, lembra Karol, que só se sentia mais fortalecida a cada crítica negativa. Dar a cara à tapa combinava com sua personalidade, e foi uma questão de tempo para que seu jeito “atrevido” começasse a fazer sucesso. A predominância masculina no rap também nunca a assustou, e ela trata a questão como secundária.
Mãe solteira, vinda de fora do eixo São Paulo - Rio de Janeiro, ela está acostumada com os obstáculos. “Não é só no hip hop que a mulher sofre machismo. Mas eu sempre quis ser artista, mesmo as pessoas me dizendo que era muito difícil, ainda mais sendo de Curitiba, mulher e negra”. Mas nada a impediu de mostrar a que veio.
Pouco antes do fim da MTV como todos conhecemos entre 1990 e 2013, Karol ficou em evidência, conquistou um espaço importante no mainstream e conseguiu divulgar seus primeiros trabalhos, Boa Noite e Gandaia. Karol já era desenvolta, segura, mas foi com o lançamento de Batuk Freak, no ano passado, que ela deu seu grito de liberdade e foi eleita Melhor Artista Revelação no Prêmio Multishow.
As parcerias tiveram papel importante na jornada. Um dos maiores produtores brasileiros, Nave, “o cara” dos beats, acompanha a rapper em suas apresentações e cria as batidas perfeitas para embalar a voz de Karol. Ele também é responsável pela produção do disco de estreia, que serviu de passaporte para a sua carreira internacional. Da Europa, ela voltou vitoriosa, e agora está cheia de gás para continuar a missão por aqui. Na França, foi chamada de M.I.A brasileira, em referência à cantora rapper britânica, uma das mais bem-sucedidas do gênero. A comparação não incomoda Karol, que admite ter se inspirado na cantora, mas traz algo totalmente diferente em seu trabalho.
Hoje ela sabe que a responsabilidade é maior. Ela quer inspirar novas artistas, que, diferente dela, talvez não precisem entrar no com o pé na porta para ganhar respeito no rap. “Acho que daqui em diante vai ser mais fácil, porque eu e outras meninas estamos arrancando o preconceito pela raíz”, diz Karol, que já está acostumada a receber mensagens de garotas cujo sonho é alcançar o que para ela é só o começo. “Elas me escrevem, dizendo que assumiram o cabelo, que estão ousando nas roupas. Eu quero incentivá-las”.
Karol aprendeu do jeito difícil que deveria tomar as rédeas da própria carreira. Já foi mais “relax” e deixava a produção tomar as decisões, segundo ela mesma. Até que passou a não se reconhecer mais dentro do seu trabalho, e agora tudo passa pela mão dela. “Quando eu raspei o cabelo, foi simbólico. Era uma nova Karol, que não aceita ser subestimada, que decide as coisas”, afirma. A reviravolta trouxe um frescor para o som da cantora, que hoje parece mais à vontade para expressar seu rap mais “alegre”. Como diz a letra de Sandália, Karol “virou a esquina, correu pra se libertar. Foi absorver toda a adrenalina que tá no ar”.
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