Edi Rock lança álbum solo e fala sobre 30 anos de Racionais

Às vésperas de completar 49 anos, o rapper paulistano Edi Rock reflete sobre sua carreira e o papel do rap na cena musical contemporânea

19 set 2019 - 10h24
(atualizado em 20/9/2019 às 12h32)

No fim da década de 80, a periferia de São Paulo presenciou o nascimento do maior fenômeno do rap nacional: O grupo Racionais MC’s conquistou o Brasil cantando sobre a realidade de marginalização vivenciada pela população periférica, levando o rap para fora das quebradas diretamente para a projeção nacional. “O que a gente acreditava deu certo. Eu via o Thaíde no palco do Clube da Cidade, no palco do Palmeiras, que eram festivais específicos para negros. Hoje, aconteceu o que a gente sonhava. Se expandiu, principalmente com a internet.”

Edi Rock comemora 30 anos de carreira.
Edi Rock comemora 30 anos de carreira.
Foto: Reprodução/Instagram

30 anos depois, o grupo está em uma turnê comemorativa por todo o país, celebrando seu legado. Edi Rock concilia o trabalho com os Racionais à divulgação de seu novo trabalho solo, “Origens”, misturando referências que vão do pagode ao sertanejo. Em conversa com o Terra, o artista fala sobre seu novo trabalho e reflete sobre o legado dos Racionais nos tempos de hoje.

Publicidade

Como surgiu este novo álbum? 

Este trabalho começou faz mais de 10 anos. Eu comecei a fazer os singles há mais de 10 anos, com a ‘Cava Cava Parte 2’ [música lançada em 2015] com o Dom Pixote. Depois eu fiz a ‘Special’, com o Alexandre Carlo. E depois eu recebi uma música de presente do DJ Kalfani e do MC Pedrinho [‘De Onde Eu Venho’] com o refrão e a base prontas, só fiz o meu rap. Ali, eu comecei a ter a ideia do disco e ele começou a ter uma cara. 

A capa do disco é bem interessante. Como foi que surgiu a ideia?

Eu gosto muito de arte. De grafite, de desenho… Me remete muito à infância. Eu gosto de fotografia, mas acho limitado. O desenho não, a arte é sem limite. Você pode ir além do que uma simples fotografia, e eu queria fazer uma capa com desenho, mas não sabia se era grafite ou pintura. Nesse caso, foi pintura, porque o DJ Kefing me apresentou esse mano, Alexandre Keto, que é artista plástico especializado em arte africana. Ele fez um quadro pra mim, inspirado nas minhas influências musicais, de raça e africana. Referências políticas… Tudo isso está representado na capa, como também o resgate dos meus ancestrais. 

Publicidade
"Origens" é o novo trabalho de Edi Rock, lançado em Agosto de 2019.
Foto: Reprodução

Neste disco, há uma mistura de ritmos que vai do funk com participação do MC Pedrinho, passando pelo samba e até mesmo sertanejo. Isto é algo que você sempre teve vontade de fazer?

Essa mistura eu sempre tenho vontade de fazer. Gosto de fazer experiências novas, coisas que eu não fiz ainda. Como eu ouço muita música e tô sempre em processo de composição, eu sempre imagino, quando ouço um som de alguém, a voz daquela pessoa numa música minha. O Alexandre Carlo, por exemplo… Eu sou fã de Natiruts, fiz questão que eles tivessem uma música comigo. Igual Seu Jorge, igual o sertanejo. E aí eu arrisco. 

E falando sobre o rap, como você vê a importância de falar das questões raciais, da violência contra a população negra e contra a periferia?

Eu acho que não só isso, mas tá na pauta. É o que se vive, o que se vê, o que sofre. A gente fala do que a gente vive. O problema social, o racial e o político tão à flor da pele. O povo discute sobre isso. O rap é inspirado nisso, se tivesse tudo bem, não tocaria nesse assunto. Ele tem que assumir um lado. Quando você fala de problema social na sua música, não quer dizer que você seja um cara politizado, mas que você sofre aquilo também e se preocupa com aquilo. E o rap tem sua parcela de força, de influência, de linguagem do jovem que precisa ser dita.  

E você acha que desde que você começou, há 30 anos, a realidade da periferia mudou?

Publicidade

Acho que o problema só aumentou. Hoje somos mais de 200 milhões de brasileiros, e com a dimensão da população triplicada é óbvio que os problemas também se multiplicam. E a periferia também se multiplica. Ainda existe rua de terra, ainda existe desemprego, miséria, fome. Pela última estatística, 5 milhões de miseráveis, abaixo da linha da pobreza. É gente pra c*ralho. Então, o problema só aumentou. 

E como você você vê essa popularização do rap? Quando vocês começaram, era uma coisa meio marginalizada, e hoje o gênero já tomou palcos de festivais como o Lollapalooza.

O que a gente acreditava deu certo. Eu via o Thaíde no palco do Clube da Cidade, no palco do Palmeiras, que eram festivais específicos para negros. Hoje, aconteceu o que a gente sonhava. Se expandiu, principalmente com a internet. Ou seja, deu certo. Seria ruim se isso não tivesse acontecendo, alguma coisa estaria errada na nossa construção. A gente fez uma base sólida, e esses grupos sabem o que fazem. Tão fazendo música boa. Djonga é um deles, BK é outro, [Filipe] Ret, vários outros. 

Vocês abriram caminho para muita gente, e o Racionais continua sendo a maior referência do rap nacional. Qual é o legado do grupo na história da música, agora que vocês completam 30 anos de carreira?

Publicidade

O legado do grupo é ter orgulho de onde você veio. E isso o rap de hoje entendeu bem. Ter orgulho do que você é, de onde você veio, do que você faz. Essa geração tá muito mais instruída, mais inteligente, mais forte, mais saudável, mais informatizada, mais musicada. Na minha época, tinha muita dificuldade. Mas hoje os moleques falam inglês com 15, 16 anos. Evoluiu mil por cento, esse é o legado dos Racionais. 

E das novas gerações, quem você curte mais? Quem você está acompanhando?

Eu gosto de variedade, não gosto de uma vertente só. Ouço Djonga, ouço Ret, BK, Luccas Carlos, as minas também, trap que tá muito forte. E os meus, MV Bill… Tá todo mundo caminhando junto num bloco, os caras não deixam de mandar a mensagem, de fazer música boa. Isso que é interessante, fazer música boa, continuar a essência e evoluir.

O disco “Origens” de Edi Rock está disponível nas principais plataformas de streaming e no Youtube. O cantor lançou nesta sexta (20) um clipe com a cantora sertaneja Lauana Prado, cuja faixa faz parte do novo trabalho. Você pode conferir o clipe abaixo:

Veja também

Após depressão, Rael faz disco de amor "do começo ao fim"
Video Player
Fonte: Redação Terra
Fique por dentro das principais notícias de Entretenimento
Ativar notificações