Em seu livro, Rita Lee não escondeu polêmicas sobre sexo, drogas e rock’n’roll

Cantora contou sobre a violência sexual vivida ainda na infância, o aborto que fez, e as vivências com a família

9 mai 2023 - 13h19
(atualizado às 16h05)
Foto: Mix Me

O Brasil perdeu Rita Lee aos 75 anos. A rainha do rock, sempre além de seu tempo, não omitiu as polêmicas de sua vida no livro Rita Lee – Uma Autobiografia, lançado em 2016. A cantora contou sobre a violência sexual que sofreu quando criança, o uso de LSD, o aborto pelo qual passou, e as cenas de sexo protagonizadas com o marido, Roberto de Carvalho. 

Rita nasceu em 1947 em São Paulo. Era a terceira filha de pai norte-americano e mãe brasileira. A rainha do rock foi estuprada aos seis anos de idade, por um técnico de máquinas de costura, que foi até a casa de sua família para consertar o equipamento da mãe, Chesa. Em um momento, ela ficou sozinha com o suspeito, e foi quando ocorreu o abuso. 

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"O telefone tocou, ela saiu para atender. Quando voltou, me encontrou sozinha no mesmo lugar, olhando petrificada para o cabo de uma chave de fenda enfiada fundo na minha vagina, de onde escorria uma gosma vermelha", escreveu. Segundo ela, o homem sumiu. 

Rita Lee, cantora
Foto: @ritalee_oficial_

"Foi o grito alucinante da minha mãe que me tirou o torpor e, vendo ela se desesperar, eu abri mó berreiro também. Não lembro de ter sentido dor, nem do que aconteceu em seguida, certamente deletei esse capítulo. Só sei que desse dia em diante as mulheres olhavam pra mim como a pequena órfã. A dor delas certamente foi muito, mas muito maior do que a minha. Chesa, Balú e Carú guardaram a tragédia como o grande segredo do fim do mundo de todos os tempos", relembrou.

Família

Sobre o romance com o marido, a cantora afirma que eram “casal de coelhos”, e que viam graça em transar em locais inusitados, como banheiros de avião, praias desertas, escadas de incêndio e elevadores de serviço. O casal teve três filhos: Beto, Antônio e João Lee

“Com essa bagagem erótico‑musical, partimos para um novo disco, o Lança perfume, a consagração total das nossas parcerias, cada vez mais autobiográficas. Éramos crème de la crème para voyeurs auditivos, com os sugestivos 'me vira de ponta cabeça, me faz de gato e sapato, me deixa de quatro no ato, me enche de amor...', 'Misto-quente, sanduíche de gente, empapuçados de amor...' e 'Me deixar levar por um beijo eterno, mais quente que o inferno'. E assim caminhava a paixonite sem pudores de dois famintos diante de pratos cheios de sedução, mergulhados na gula da paixão."

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Em seu livro, ela também falou sobre perder alguns momentos dos filhos ainda pequenos por conta dos shows. Afirmou que isso “doía no coração”.

Rita Lee, cantora
Foto: @ritalee_oficial_

“Quando Beto estava com cinco anos, Juca com três e Tui com um, tentamos carregá‑los numa turnê junto com Balú [sua madrinha]. Misturar filhos à loucura que rolava em shows não era lá muito saudável, se é que me entendem. Para compensar nossa ausência física enquanto estavam em aula, os destinos de nós cinco nas férias eram sagrados: São Paulo‑Manaus, Manaus‑Miami, Miami‑Caribe. Primeiro mostrar a eles o Brasil belo e selvagem, depois um rolê nas magias da Disney e, por fim, o paraíso das praias caribenhas de mar azulzinho e areias brancas."

A frente de seu tempo

Rita não deixou de citar coisas polêmicas de sua vida. Falou sobre o uso de drogas, e também ao aborto que recorreu. Ela escreveu que “nenhuma mulher faz aborto sorrindo”, e que é um decisão somente dela escolher seguir ou interromper uma gestação. 

"[...] Assim como de segurar sozinhas as consequências moral, espiritual e oskimbau. Me refiro ao 'sagrado feminino', de nós meninas que temos um buraco a mais no corpo para administrar, do nosso universo complexo demais para machos, religiosos e políticos meterem o bico, esses para os quais prevalecem mais o direito do feto que ainda nem nasceu ao da mãe que não deseja pari-lo por motivos que não nos cabe julgar, psicológicos, econômicos, neurológicos, até mesmo espirituais.”

Rita Lee, cantora
Foto: @ritalee_oficial_

“Aborto não é uma mutilação no corpo da mulher. [...] Parir e abandonar o bebezinho numa lata de lixo é criminoso. Parir e pôr para adoção é irresponsavelmente confortável. Parir e criar em condições sub-humanas é indigno”, continuou. 

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Quando as drogas, a cantora contou sobre a vez que desembarcou no aeroporto de São Paulo com um “mimoso colar de muitas voltas feito com 'miçangas' de pedrinhas de LSD coladas pacientemente uma a uma num cordãozinho de algodão”. Segundo ela, a ideia era vender a droga, mas acabou usando metade do “estoque”. 

“Aconteceu que eu, a muambeira, consumi metade do estoque, a outra foi distribuída entre os frequentadores das festinhas de arromba na casa de Guarapiranga, point da crazy people da Pauliceia, com aquela cena manjada de gente desbundada amanhecendo pelos quatro cantos da casa”, declarou. 

“Quando o psicodélico batia transformando a existência num caleidoscópio de consciência infinita, o ego despertava do mundo da ilusão dando de cara com o realismo fantástico do Higher Self, onde um mero grão de areia te explicava o omniverso. E você lá de alegre só sendo Deus. Aliás, desde que me decepcionei com religiões não sentia a presença do Divino tão acachapante. LSD não é para maricas materialistas."

Leveza

Rita Lee confessou que passou de “mutante para meditante”, e que estava preocupada com outras coisas ao invés do rótulo que as pessoas lhe davam por toda a personalidade que representava. Estava curtindo a vida com a família, lendo, assistindo a novelas, e caso sobrasse um tempinho, compondo.  

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"Sei que ainda há quem me veja malucona, doidona, porra-louca, maconheira, droguística, alcoólatra e lisérgica, entre outras virtudes. Confesso que vivi essas e outras tantas, mas não faço a ex-vedete-neo-religiosa, apenas encontrei um barato ainda maior: a mutante virou meditante. Se um belo dia você me encontrar pelo caminho, não me venha cobrar que eu seja o que você imagina que eu deveria continuar sendo. Se o passado me crucifica, o futuro já me dará beijinhos. Enquanto isso, sigo sendo uma septuagenária bem‑vivida, bem‑experimentada, bem‑amada, careta, feliz e... bonitinha”, . Lucky, lucky me free again*. Tempo para curtir minha casa no mato, para pintar, cuidar da horta, paparicar meus filhos, acompanhar minha neta crescer, lamber meus bichinhos, brincar de dona de casa, escrever historinhas, deixar os cabelos brancos, assistir novela, reler livros de crimes que já esqueci quem eram os culpados, ler biografias de celebridades com mais de setenta anos, descolar adoção para bichos abandonados, acompanhar a política planetária, faxinar gavetas, aprender a cozinhar, namorar Roberto e, se ainda me sobrar um tempinho, compor umas musiquinhas."

Fonte: Redação Terra
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