Com uma carreira de 30 anos, o Sonic Youth deixou seu nome na história como um dos maiores expoentes do noise-rock e do movimento alternativo, inspirando bandas da geração grunge como Nirvana e Pearl Jam. Quase uma década depois do fim da banda, o guitarrista e membro-fundador Lee Ranaldo avalia o legado do Sonic Youth: “Acho que nós inspiramos muita gente. Nossa música chegou na América do Sul, em particular, em uma época em que as fronteiras se abriram e as pessoas procuravam inspiração na cena da qual fazíamos parte.”
No auge dos seus 64 anos, Lee Ranaldo lança um trabalho mais maduro em relação aos seus tempos rebeldes e busca inspirações na música eletrônica experimental, em parceria com o produtor espanhol Raül Refree. Em entrevista ao Terra, o guitarrista reflete sobre o legado do Sonic Youth e discorre sobre o novo trabalho. Confira o bate-papo a seguir.
Minha primeira pergunta, na verdade, é sobre o Sonic Youth. Vocês, junto com outras bandas, praticamente moldaram o que seria conhecido como o rock dos anos 90. Em retrospecto, como você vê o legado da banda hoje em dia?
Eu não sei, cara. É difícil falar sobre legado porque é mais algo que pessoas do seu lado da linha determinam. Nós enxergamos o que fizemos no passado, mas também sentimos que somos artistas ativos, seguindo em frente. Mas eu sei que muita gente ficou ligada no que estávamos fazendo e, através de nós, acabou sendo exposto a muitas outras músicas e outras coisas que nos entusiasmavam. Nirvana foi a mais óbvia [a ser influenciada pelo Sonic Youth].
Muitos dizem que o Rap, o R&B e o Hip Hop tomaram o lugar do Rock and Roll de falar para as novas gerações. Você acha que o rock perdeu a força como movimento mainstream?
Bem, certamente ele foi apagado na cultura popular pelo R&B, Hip Hop e por novas formas de música Pop. Sabe, o Rock And Roll é um estilo mais antigo a esta altura, e muitas vezes eu acho, quando escuto bandas de rock, que elas soam como se quisessem ser uma banda de 20 anos atrás, tem algo nostálgico ali. Mas ainda há muitas pessoas no rock que estão fazendo coisas novas, experimentais, e movendo a forma do gênero adiante. De certa forma, acho que o que estou fazendo em minha parceria com o Raul Refree, especialmente com meu novo disco, é pegar elementos do Rock e misturar com muitas outras coisas, trazer isso para novas direções.
Sim, e isso me traz para a próxima pergunta. Seu novo álbum soa muito diferente com o que você fazia com o Sonic Youth, com todas aquelas guitarras pesadas e afins. Você poderia falar um pouco sobre o processo de trabalhar neste álbum? Você está buscando um novo tipo de som?
Bem, eu tenho uma nova parceria agora, com o Raul Refree. Nós fizemos alguns discos no passado, como o Electric Trim (2017). Acho que aquele álbum foi o início para começar a buscar novos sons. Quando começamos a trabalhar naquilo, a visão de Raul foi tipo “Ok, você saiu dessa banda lendária, duas guitarras, baixo e bateria.” e meus primeiros trabalhos solos eram neste formato, que é o que eu conheço. E ele estava tipo “Vamos pegar sua música e colocar em uma nova configuração.” Nova instrumentação, novos arranjos, novos ritmos. E foi isso que fizemos com aquele álbum, e foi o início de um período experimental. E acho que este novo disco, “Names Of North End Women”, está levando ainda mais longe as experimentações e incorporando sons e batidas eletrônicas, samples… Talvez seja o disco que, na minha carreira, tenha a menor quantidade de guitarras.
E você acha que a tecnologia ampliou as fronteiras do que é possível fazer com a música? Porque agora você tem tantas ferramentas no estúdio para experimentar. Isso mudou a maneira que você faz música?
Bem, talvez um pouco. Digo, neste álbum nós começamos com muitos dos mais modernos dispositivos eletrônicos. Isso muda a maneira de trabalhar, mas as ferramentas são apenas ferramentas, o que manda é o que está por trás delas, o quão criativo você é com essas ferramentas. Porque todo mundo tem acesso a elas em algum nível, e não é o trabalho de todo mundo que é interessante. Então, as ferramentas são meio que metade da história, algo que descobrimos nesse disco é que além de usar esses equipamentos super modernos, nós usamos também aparelhos de fita de 60 anos de idade, fazendo uma mistura de tecnologias muito modernas e muito antigas. No fim, qualquer um pode ir a uma loja e comprar um martelo, mas nem todo mundo consegue construir uma casa com ele.
Confira abaixo a faixa "Light Years Out", que faz parte do novo álbum de Lee Ranaldo: