Iuri Rio Branco é um dos nomes mais comentados na música brasileira nos últimos anos. O músico, produtor, compositor e diretor musical brasiliense está envolvido em projetos de peso e colaborou em projetos como o álbum de estreia de Marina Sena, De Primeira (2021), Eletrocardiograma (2017), de Flora Matos e, mais recentemente, Caju, de Liniker e Acrônico, de Jean Tassy, ambos lançados em 2024.
Para ele, se tornar conhecido como produtor é importante para toda a classe, especialmente para que as pessoas se interessem "primeiro por saber o que é produção musical," que é uma pergunta que ele recebe com alguma frequência. Apesar de entender que a ideia do papel do produtor venha se popularizando com a presença dos beatmakers em ritmos como o rap.
"O fato de estarmos ficando mais conhecidos se dá devido à importância da produção musical na carreira dos artistas," reflete Iuri, que faz questão de destacar a importância de outros profissionais que trabalham com ele, como músicos e técnicos. "Movimentamos todo um mercado."
Talento de família
O interesse pela música vem da infância. Os tios eram músicos amadores e sua casa tinha instrumentos como bateria e guitarra. Ele não lembra exatamente qual foi o momento, mas desde pequeno se apaixonou pela bateria, incentivado pelo tio. "Com oito, nove anos já estava lendo minhas partiturazinhas, ensinando para os meus primos mais velhos como fazia."
Aos 12 ele passou a estudar música e com 14 dava aulas de bateria. A primeira gravação em estúdio aconteceu por volta dos 13 anos. À época, Iuri tinha uma banda de rock. A paixão por outros tipos de música veio mais tarde, quando começou a se interessar também pelo reggae e também por produção musical.
Iuri se formou em publicidade porque entendeu que poderia unir isso à paixão pela música, e assim aconteceu. Ele trabalhou criando trilhas para comerciais e em paralelo, produzia artistas de Brasília e até Cabo Verde.
De repente, quando eu vi, já tinham passado os anos, eu já tinha feito um monte de discos e me mudado para São Paulo. Hoje em dia eu quase não faço publicidade, só quando alguém vem atrás de uma música específica que tem a minha cara.
Fã e ídolo
Iuri tem como referências nomes como Quincy Jones — desde a infância havia algo na música de Michael Jackson que encantava o produtor. "Aqui no Brasil o [Daniel] Ganjaman, Apollo 9, essa galera que eu acompanhei desde moleque," conta o artista, que também é fã de nomes como Tom Capone, Carlos Eduardo Miranda, J Dilla e Lee "Scratch" Perry.
Com os anos de carreira e o envolvimento em projetos de grande sucesso, o produtor passou também a se tronar referência para fãs de música. Quando questionado sobre se ver no lugar de ídolo, ele conta que tem conseguido se ver em tal posição "de uns anos para cá."
"Desde que eu comecei com a Flora Matos no Eletrocardiograma já veio um monte de gente atrás de mim," relembra. "Quando você vê a molecada mais nova tá falando 'você é uma lenda', não sou uma lenda," diz aos risos
A nova geração do rap formada por nomes como Duquesa, Ryu, The Runner, Dudu MC são alguns dos nomes com os quais Iuri tem trabalhado e, para ele, foi um sinal de que estava se tornando referência, quando passou a ser parado na rua e abordado em shows com pedidos de fotos. "Eu fico 'c***lho, que doideira'!"
Trap, o som do momento
O trap é definitivamente um dos gêneros mais populares dos últimos anos. Iuri ouviu falar do ritmo pela primeira vez por volta de 2013 e considera que a popularidade se deve, entre outros fatores, ao momento no qual ele vem acontecendo. "A humanidade está sempre caminhando em BPMs diferentes, né? Tudo rolou, como já rolou com o boombap nos anos 2000."
Mas ele percebe que o ritmo furou bolha e tem se misturado a outros gêneros, como o sertanejo, por exemplo. Na visão dele, a onda do trap deve durar mais algum tempo, mas não será soberano. "Vai ser mais uma batida que vamos usar, não vai ficar do tamanho que é para sempre. Posso estar enganado, mas acho que já, já vem outra onda."
O produtor entende que o boombap é uma tendência que vem crescendo novamente, além do reggae. "Seja em efeito, em sample, alguma coisa da Jamaica tem. Sempre tem," reflete. "Sempre que o reggae aparece ele vem e domina."
A nova onda do pop brasileiro também é um assunto de interesse de Iuri, que participa ativamente do movimento com suas produções. "Agora está muito evidente essa onde de ter um pouco de trap no pop, ter o dancehall, house. E nisso a gente acaba participando muito. Eu acho legal pra caramba porque é um jeito da gente contribuir."
Iuri entende que o pop genuinamente nacional fortalece a identidade do país. "Com a internet a gente consegue passar por mais gente sem ter que passar por intermediários," explica o produror que vê nisso um ponto positivo para a música nacional.
Acrônico
Um dos grandes parceiros de Iuri é o cantor Jean Tassy, também de Brasília. Os dois se conheceram pela internet e lançaram o primeiro projeto em 2018, o EP Ontem (2018). Eles trabalharam juntos nos anos consecutivos e em 2024 lançaram Acrônico, segundo álbum do cantor.
"O que ajuda a gente é a parada de sermos muito ligados em música," reflete sobre a parceria. "Temos sempre alguma coisa para trazer de outros gêneros que a gente consome." Como no caso do disco, em que foram buscar nos efeitos de dub misturadas a características brasileiras.
Projetos futuros
Sempre cercados de projetos, Iuri trabalha no próximo álbum de Don L, um dos maiores nomes do rap do cenário brasileiro. "Fiz uma música para o disco novo do Rael e três para o disco da Rachel Reis. Essas são as coisas que eu posso contar," ri.
Além desses projetos, o produtor trabalha também em um disco próprio, que deve ficar pronto ainda no primeiro semestre deste ano. "Ainda não posso falar quem vai estar, mas devem ter pelo menos uns 12 artistas em 10 músicas," adianta o artista.
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