Marianne Faithfull, lenda do rock, morre aos 78 anos

Cantora britânica ficou conhecida por sucessos como "As Tears Go By" e "Broken English" e teve uma trajetória marcada por reinvenções na música e no cinema

30 jan 2025 - 17h45
(atualizado às 21h36)
Foto: Divulgação/ABKCO / Pipoca Moderna

Carreira começou nos anos 1960

Marianne Faithfull morreu nesta quinta-feira (30/1) aos 78 anos, em Londres. A família da cantora confirmou a informação em um comunicado à BBC.

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Nascida em 29 de dezembro de 1946, em Hampstead, Londres, Marianne era filha de um oficial do Exército Britânico e de uma mãe austríaca com raízes aristocráticas. Seus pais se divorciaram quando ela tinha seis anos, e sua infância foi marcada por episódios de tuberculose.

A cantora começou sua trajetória musical em 1964, apresentando-se em cafés de Londres, onde chamou a atenção do empresário Andrew Loog Oldham, então responsável pelos Rolling Stones. Pouco depois, lançou seu primeiro hit, "As Tears Go By", escrita por Mick Jagger, Keith Richards e Oldham. O sucesso impulsionou sua carreira, levando-a a emplacar outros hits, como "This Little Bird", "Summer Nights" e "Come and Stay With Me".

Ascensão e romance com Mick Jagger

Nos anos 1960, Marianne se tornou um dos maiores ícones da Swinging London. O escritor e jornalista britânico Nik Cohn descreveu a cantora como "o rosto perfeito" na biografia de Oldham, "2Stoned" (2002). "Ela parecia incrivelmente virginal e incrivelmente sensual ao mesmo tempo, e tinha o sorriso mais estranhamente triste que alguém já viu. Quando cantava, suspirava e semicerrava os olhos em poses de infinita pureza lasciva", escreveu.

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Em 1966, após um casamento breve com o artista John Dunbar, com quem teve um filho, Nicholas, Marianne começou um relacionamento com Mick Jagger. O casal se tornou presença constante nos tablóides britânicos e viveu um dos romances mais icônicos da época. Sua proximidade com os Rolling Stones influenciou diretamente a banda, inspirando composições clássicas como "You Can't Always Get What You Want", "Wild Horses" e "I Got the Blues".

No ano seguinte, ela foi uma das celebridades do rock convidadas pelos Beatles para participar do coro da música "All You Need is Love", na primeira transmissão mundial de televisão via satélite, ao lado de Jagger, Keith Moon e Eric Clapton. Em 1968, ela participou do especial "Rock and Roll Circus", dos Stones, interpretando "Something Better".

O sucesso na música logo levou a convites para o cinema. Marianne apareceu interpretando a si mesma em "Made in U.S.A." (1966), de Jean-Luc Godard, onde cantou "As Tears Go By" a capella. Dois anos depois, viveu o papel-título de "A Garota da Motocicleta" (1968), ao lado de Alain Delon, aparecendo em cena num macacão de couro fashionista e também nua. Em 1969, interpretou Ofélia na versão cinematográfica de "Hamlet", dirigida por Tony Richardson, papel que também desempenhou nos palcos.

Escândalo, colapso e vício

Em fevereiro de 1967, Marianne, Jagger e Keith Richards foram alvo de uma operação policial na casa de Richards, em Redlands. A cantora, que estava envolta apenas em um casaco de pele, virou alvo de manchetes escandalosas. A prisão dos músicos por posse de drogas não impediu o sucesso dos Rolling Stones, mas a vida pessoal de Marianne começou a entrar em colapso.

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O relacionamento com Jagger terminou em 1970, agravando uma fase de instabilidade emocional. Marianne sofreu um aborto espontâneo, perdeu a guarda do filho e tentou suicídio no mesmo ano. A cantora descreveu sua música "Sister Morphine" — escrita com Jagger e Richards e também lançada pelos Rolling Stones no álbum "Sticky Fingers" (1971) — como "meu autorretrato num espelho sombrio, minha obra gótica em miniatura, minha celebração da morte".

Nos anos seguintes, a cantora desenvolveu uma profunda dependência de heroína e viveu em situação de rua em Londres, afastada da indústria musical.

Retorno com "Broken English" e reinvenção

Longe dos holofotes, Marianne tentou voltar à música num dueto bizarro com David Bowie em 1973, onde apareceu na TV vestida de freira cantando "I Got You Babe", de Sonny & Cher. Sem o resultado esperado, ela apelou para um álbum country em 1975, que ninguém ouviu.

Então, a cantora ficou punk da vida. Enquanto morava em Londres e lutava contra o vício em heroína, ela perdeu a aparência virginal, a voz ficou rouca e ela passou a andar com jovens revoltados com aparência "assustadora" como Siouxsie Sioux, do Siouxsie and the Banshees, e John Lydon (Johnny Rotten), do Sex Pistols. Marianne absorveu influências desse meio e incorporou elementos do punk e do new wave ao som de seu álbum seguinte, "Broken English", que marcou seu retorno triunfal à relevância em 1979. A agressividade e o tom cru do álbum, especialmente na faixa "Why D'Ya Do It?", refletem essa inspiração. Além disso, o álbum também incorporou influências do pós-punk e da música eletrônica emergente da época, distanciando-se do folk-pop mais delicado do início de sua carreira.

"Broken English" rendeu sua primeira indicação ao Grammy. O disco também inspirou um curta experimental de Derek Jarman ("Caravaggio"), um dos mais lendários diretores do underground britânico, que registrou três faixas ("Witches Song", "The Ballad of Lucy Jordan" e "Broken English") num trabalho conceitual filmado em super-8. A obra é um dos primeiros exemplos conhecidos de um álbum visual - um conceito que só se tornou popular na era de Beyoncé, com "Lemonade" (2016).

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Últimos anos e legado

Nos anos seguintes, ela se reinventou como intérprete de jazz e blues, lançando álbuns elogiados como "Strange Weather" (1987), produzido por Hal Willner. Gravou até com Metallica, fazendo os vocais de apoio na faixa "The Memory Remains", do álbum "ReLoad" (1997), um dos elementos mais marcantes da música. Mas seu trabalho mais interessante dos últimos anos foi "Before the Poison" (2005), uma parceria com dois artistas que ela influenciou, Nick Cave e PJ Harvey.

Outros álbuns se seguiram, como "Give My Love to London" (2014) e "She Walks in Beauty" (2021). Este último foi uma colaboração com Warren Ellis, conhecido por seu trabalho como violinista, compositor e parceiro frequente de Nick Cave na banda The Bad Seeds. No álbum, ela recita poemas clássicos de autores como Lord Byron, John Keats e Percy Bysshe Shelley, acompanhada das texturas instrumentais de Ellis, com contribuições adicionais de Nick Cave e Brian Eno.

Nos últimos anos, a artista também retomou a participação em filmes como "Maria Antonieta" (2006), de Sofia Coppola, e "Paris, Te Amo" (2006), de Gus Van Sant. Ela ainda emprestou sua voz para uma das ancestrais Bene Gesserit no filme "Duna" (2021), de Denis Villeneuve.

Logo após as gravações de "Duna", ela ficou meses hospitalizada por conta da Covid-19 e sofreu nos últimos anos as consequências da Covid prolongada.

Marianne escreveu três autobiografias ao longo da vida, detalhando sua jornada entre o estrelato e a decadência, e sua luta para reconstruir sua carreira. Seu filho Nicholas é seu único herdeiro.

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