Faz 20 anos desde quando o cantor Latino estourou na mídia com 'Festa no Apê'. O hit dos anos 2000 foi o pontapé para o artista realizar sonhos, mas também lhe rendeu muitas críticas.
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"A gente era muito criticado por usar sample de outros músicos. As pessoas no Brasil não entendiam, mas eu tinha autorização", revela, em entrevista ao Terra.
Hoje com 51 anos, duas décadas de estrada e dez filhos, Latino não tem planos de parar de cantar. Focado no projeto Latinera, inspirado no Tardezinha e no Numanice, ele quer fazer jus ao nome que o consagrou e manter a atenção nos ritmos sul-americanos.
Durante conversa com o Terra, Latino comentou as lições que a maturidade lhe trouxe e os desafios da paternidade. Apesar dos desalinhos com suas crias, ele demonstra clareza quanto ao que a paternidade significa.
"Quando as mulheres que engravidaram e tiveram filhos comigo chegaram a falar nesse tipo de assunto [aborto], eu na mesma hora cortava e dizia: 'Não, eu vou segurar a onda e não quero deixar que isso aconteça'. Não foram muitas, mas talvez umas três ou quatro. Então, eu preferi ter e, dentro das minhas possibilidades, dar atenção. Não vou ser escravo desse amor de pai e filho, porque eu também preciso trabalhar, senão não pago pensão", diz.
Leia a entrevista completa a seguir!
Me fala um pouco sobre a Latinera?!
A Latineira é uma label, é uma festa de música latina que eu tenho expandido pelo Brasil afora. Tem uma pegada da salsa, do merengue, do reggaeton, sabe? Essas tendências que, obviamente, têm um grande espaço no Brasil, só que poucos exploram isso de forma legal. Então, o que eu fiz? Eu misturei a música urbana brasileira com a pegada da música latina. É uma festa que tem muita percussão, tem muitos metais, tem um DJ fazendo umas firulas na bateria eletrônica... É algo que tem funcionado muito aqui no Brasil e em outros países, como Uruguai, Chile, México, Colômbia. Enfim, é até engraçado falar, eu faço uma 'suruba musical', mas com essências latinas, entendeu? Eu canto de tudo: Lulu Santos, Jorge Ben Jor, Maluma... Vou misturando e criando coisas novas.
Falando em misturar. Você é um dos pioneiros no movimento de versões no Brasil. 'Festa no Apê' foi a música que te alavancou ao sucesso. Hoje em dia, a releitura é algo mais do que constante na indústria. Como enxerga isso?
A gente encabeçou o movimento. Eu fui muito criticado na época, lembra? A gente era muito criticado por usar sample de outros músicos. As pessoas no Brasil não entendiam, mas eu tinha autorização. Quando eu estourei a música no Brasil, até os caras da Romênia, que foi de onde eu descobri a música, falaram: "Caramba, tem um cara lá que fez a versão da nossa música e tá bombando". A minha versão era uma versão autorizada.
Obras derrubadas por falta de autorização, inclusive, é algo comum hoje, né?
Por que eles têm obras derrubadas? Porque o trabalho de autorização é um trabalho árduo, ele não acontece da noite pro dia. Por exemplo, eu estou pedindo uma autorização de uma música agora. Dependendo, mesmo eu pagando, com esse trâmite de gravadora, pode levar anos. O que os caras fazem hoje? Como artistas independentes, assumem o risco de perder os ganhos e lançam de forma ilícita. Se bombar, a gravadora derruba, mas até aí, eles já ganharam notoriedade. Eles estão peitando as empresas. Como eles são pequenos, a gravadora tira do ar e pronto. Ninguém vai se preocupar com isso.
Alguém dessa nova geração de músicos já te reconheceu pelo caminho que abriu?
Cara, uma vez eu estava no Domingo Legal e o MC Daniel estava comigo. E ele falou uma coisa muito bacana. Foi até humilde na parte dele dizer: "Se a gente está aqui é graças ao Latino, que abriu essas portas lá atrás para hoje o funk estar sendo perpetuado". O meu primeiro disco, você sabe, foi todo na linha do funk. Foi o primeiro disco a vender um milhão de cópias. Havia um preconceito muito grande com esse movimento e a gente bateu de frente com o sistema, a gente conseguiu perpetuar e fazer com que o primeiro álbum, digamos um disco, álbum cheio, estourasse todas as músicas e trouxemos para o Brasil um movimento novo que é o funk romântico, o funk melódico.
Você completou 51 anos de vida. Como você lida com a maturidade, com o envelhecer?
Eu estou vivendo a melhor fase. Tudo pra mim é uma boa ideia agora. Mas eu acho isso [de idade] besteira. Eu me sinto jovem pra caramba, eu tenho um espírito jovial. Acho que puxei isso da minha mãe, que, aos 70 e poucos anos, dança, pula, dá cambalhota. Eu faço uma média de 80 a 100 shows no ano, então, assim, é uma média boa pra um artista que não é dessa geração. Mas eu acho que o grande segredo de tudo isso é continuar se transformando, é você estar de olho nas coisas, nas tendências, saber o que está acontecendo, impactar não só no carisma, mas no repertório.
E quanto a aspirações e conquistas?
Ah, eu digo que a maior conquista minha foi ter conseguido voltar nos Estados Unidos e cantar pra um milhão de pessoas lá no centro de Manhattan (NY). Pra mim, aquilo ali marcou. Eu chorei muito no palco, porque eu vivi uma infância e uma adolescência muito triste nos Estados Unidos. Minha mãe morava lá, então, eu fui pra fazer o highschool, mas me envolvi em bares, cantava em todos, nas festas também. Cheguei até a trabalhar com David Copperfield, mas fiz algumas merdas [drogas] e lá as leis funcionam, não é igual aqui, né? Então, eu tive que voltar para o Brasil deportado, bem derrotado.
Mas ainda tem algum sonho a realizar?
Não, já realizei tudo que queria e poderia. Até comprar uma Lamborghini e uma limusine de dez portas com banheiro, eu comprei. Tudo que a carreira me proporcionou, eu aproveitei. O maior sonho realizado mesmo foi voltar aos Estados Unidos. Lembro que na época Avenida Brasil estava bombando, 'Dança Kuduro' era tema de abertura, então fui convidado para cantar no Brazilian Day, no Central Park. Então, isso para mim já foi tudo. Foi meu retorno ao país, mais de um milhão de pessoas foram me ver no meio da chuva.
Hoje, após tanto sucesso, você tem uma vida confortável?
Hoje a gente tem o privilégio de poder escolher, graças a Deus, mas, às vezes, eu dou uma de louco. Eu falo: "Tô há muito tempo sem fazer show no Amazonas", aAí eu peço pro meu gestor ligar lá e procurar os contratantes. Óbvio que a gente já passou daquela fase de fazer show em qualquer buraco. Hoje em dia, pedimos pelo menos para ter um som adequado, um palco legal.
Aposentadoria é algo que já pensou?
Eu tenho outros negócios além da música, mas o show é minha cachaça, o show é uma coisa que não pode faltar. Sabe aquele arrozinho com feijão que você come todo dia? E eu gosto de me exibir, eu gosto de estar no palco. Me sinto jovem, me sinto realizado. Se eu ficar só no business, eu não vou estar tão realizado. Então, o show, pra mim, é o segredo da alma, é o que me realiza, é o que me fortalece. É o que me deixa jovem, inclusive.
Como que é gerenciar a vida de empresário, músico e pai de família?
Muitos falam dessa questão de ter dez filhos. É tudo da forma que você enxerga. Eu enxergo por um ponto de vista: vou ter dez filhos pra cuidar de mim quando eu tiver mais velho. As pessoas falam muito sobre isso e eu sou contra aborto, não pactuo com essa coisa de aborto. Então, quando as mulheres que engravidaram e que tiveram filho comigo, quando chegaram a falar nesse tipo de assunto comigo, eu na mesma hora cortava e dizia: "Não, eu vou segurar a onda e não quero deixar que isso aconteça". Não foram muitas, mas talvez umas três ou quatro. Então, eu preferi ter. Eu falei: "Eu vou ter e, dentro das minhas possibilidades, eu vou dar atenção". Não vou ser escravo desse amor de pai e filho, porque eu também preciso trabalhar, senão não pago pensão. Mas sempre quando eu puder, eu quero estar junto com eles.
Tem uns que eu vejo, os mais novos eu vejo mais. Os mais velhos estão cada um encabeçando. Uma filha é minha atriz. A outra é a filha da Kelly, que está lá em Portugal, virou influenciadora. O outro filho joga bola. Enfim, uma é cantora gospel, que é a Amanda. Cada um faz uma coisa diferente, mas estão, sempre que podem, em contato comigo. Me ligam, perguntam "Pai, o que você acha dessa música? O que você acha disso?". Então, dentro das minhas possibilidades, eu sou um pai participativo. Talvez, eu gostaria de ser mais, mas eu não consigo, porque tanto é que eu tenho uma casa em São Paulo, tem casa no Rio. Quando eu estou lá, eu conto com meus filhos do Rio, e quando eu estou aqui, eu conto com meus filhos de São Paulo. Mas eu tenho filho, por exemplo, em Recife. Então, quando eu vou pra lá, eu chamo ele, eu convido. É uma forma que eu tenho de poder estar mais próximo deles. Mas eu não tenho a mínima condição, pelas várias coisas que eu faço na vida, de poder ser um pai extremamente presente como eu gostaria.
Natal e outras datas especiais, a casa fica cheia, né?
Eu reúno aqui. Eu convido e falo: "Ó, vou fazer aqui uma festa de Natal, se vocês puderem estar aqui e tal...". Eu convido, mas não fico forçando aquela barra. O amor tem que ser genuíno, não pode ser uma coisa forçada. Dia dos pais eles me ligam, me dão parabéns e tal. Eu acho que eu tento, da melhor maneira possível, lidar com todos eles. É claro que tem uma ou outra que é mais atirada, ousada e me ameaça, que quer mais pensão. Isso em todo lugar tem, toda família tem. A minha não vai ser diferente. Muitas vezes eles não querem nem trabalhar, eles querem viver de pensão, e aí isso me aborrece, porque eu acho que eu não fiz filho sozinho. Então, quando você dá R$ 10 mil, R$ 15 mil de pensão, tem que entender que a outra parte também tem que dar 15. A gente não faz filho sozinho. E, às vezes, eles têm dificuldade de entender isso. Mas, graças a Deus, são poucos. A maioria é super compreensível, lidam bem comigo.
A Suzanna, que você teve com a Kelly Key, obteve registro para ser oficialmente considerada filha de Mico Freitas. Como você recebe isso?
É plausível que a minha filha veja o Mico como pai, ele quem criou ela. Me assustou na época quando ela quis trocar o nome, mas eu respeitei e achei que está tudo certo. Se essa é uma vontade dela, está tudo certo. Hoje a gente se dá super bem [eu, ela e o Mico], a gente conversa. Essa semana ela até me ligou. A gente tem se dado muito bem. A Kelly eu não vejo há séculos. Não sei se ela está em Portugal, se ela está no Brasil, mas a minha filha, quando pode, ela está se correspondendo com o pai. Sempre das possibilidades. Eu acho que é bacana. Pai é uma pessoa que cuida, que cria, se ela foi criada com o Mico, o sentimento dela vai ser sempre de um pai também.
E de projeto novo, além da Latinera, tem algo em vista?
Eu vou relançar o 'Amigo Fura Olho' dessa vez com o Thierry. A gente gravou um clipe, ficou muito legal. O Thierry é um cantor de uma nova geração. Ele também é conhecido como um grande compositor, um grande intérprete. Ele sempre gostou dessa música e agora estamos fazendo uma releitura. No clipe, eu estou me relacionando com uma mulher casada e isso gera alguns problemas. Eu acho que vai dar muito o que falar. Esse ano também tem a regravação do 'Baby Me Leva'. Pretendo fazer uma versão mais apurada.