Após mais de 200 anos, um novo manuscrito de Frédéric Chopin foi achado pela Biblioteca e Museu Morgan. A peça é uma curta valsa com uma duração de 80 segundos, ela é datada para algum momento entre 1830 e 1835, época em que Chopin teria por volta de 20 anos. A descoberta foi primeiro noticiada pelo New York Times, que teve acesso direto a uma escaneamento do documento e conduziu entrevistas exclusivas com o museu e especialistas da área.
Assim como muitas, a descoberta se deu por acidente. Robert MacCellan, um curador do museu, estava catalogando uma série de artefatos culturais dentro do cofre do Morgan, que incluía artefatos como cartões postais assinados por Picasso, e cartas de Tchaikovsky, quando encontrou a misteriosa sinfonia.
"Era um pedaço de música amassada do tamanho de uma ficha catalográfica, com uma pequena anotação e um nome conspícuo", disse o curador. "A peça estava com uma anotação dizendo Valse, ou valsa, e tinha um nome escrito em letras cursivas no topo: Chopin. E eu me perguntei 'O que que tá acontecendo? O que é isso' eu não reconheci a música"
MacCellan tirou uma foto do manuscrito e a levou para casa para tocar em seu teclado. Imediatamente o curador desconfiou da peça, ela era muito vulcânica para ser uma melodia do compositor. Mesmo assim, ele mandou uma cópia da fotografia para Jeffrey Kallberg, um especialista nos estudos sobre Chopin na Universidade da Pensilvânia.
Kallberg disse que ficou boquiaberto ao ver a partitura, "eu sabia que eu nunca tinha visto algo parecido antes". após testar o papel e a tinta do manuscrito, analisar a caligrafia e o estilo musical, e consultar especialistas, o museu Morgan concluiu que a partitura provavelmente é uma valsa verídica nunca antes descoberta do compositor polonês.
O manuscrito descoberto realmente é de Chopin?
A descoberta é certa de gerar um grande debate dentro dos círculos de fãs de música clássica, que estão acostumados a receberem fraudes tentando se passar por trabalhos originais. Ao se tratar das composições do polonês, a situação fica ainda mais delicada, pois apesar de ser uma figura famosa no mundo da música clássica, ele não escreveu tantas peças quanto seus pares. Estimativas dizem que o músico escreveu por volta de 250 peças, enquanto figuras como Mozart escreveram quase 600 obras.
Apesar das desconfianças, Morgan garante a veracidade da peça, "O papel e a tinta são consistentes com o que Chopin usava na época. A caligrafia também é consistente com a do compositor, até mesmo tendo as mesmas peculiaridades demonstradas em outras obras. O manuscrito também está rabiscado com um desenho, outra característica de suas partituras."
Além disso, o pianista Lang Lang, que gravou uma performance da valsa a pedido do The New York Times, disse que a melodia soava como algo composto por Chopin. O pianista disse que a grave abertura o lembrava do duro inverno do interior da Polônia.
A suposta origem da misteriosa valsa de Chopin
Uma das maiores peculiaridades do compositor era o seu desgosto pelos grandes palcos, Chopin era conhecido por preferir demonstrar suas peças em pequenas apresentações para nobres e ricos. Durante essas apresentações, era comum que o músico entregasse pequenas cópias das músicas apresentadas para membros da plateia.
A nova valsa pode ter sido composta sobre esse pretexto. Ela foi escrita em um pequeno papel comumente usada para presentes, e a partitura inclui indicações de como a música deve ser tocada, indicando que o Músico esperava que outras pessoas não presentes em suas apresentações a tocassem no futuro.
Mas o manuscrito ainda é recheado de mistérios. Chopin parece não ter se orgulhado do seu trabalho, de acordo com a análise da caligrafia, não foi o compositor quem assinou seu nome na peça. Além disso, existem alguns erros não corrigidos no ritmo e nas notas da partitura.
A hipótese é que a peça não publicada provavelmente ficou nas mãos de colecionadores. Em algum momento, a valsa foi adquirida por A. Sherril Wilton Jr., o diretor de uma escola de design de interiores de Nova York. Ele era um grande colecionador de autógrafos e um fã do compositor polônes.
Anos após a sua morte, em 1972, a esposa de Whiton vendeu parte de sua coleção para um de seus amigos, Arthur Satz, que então a doou para o Museu Morgan em 2019. A coleção permaneceu não catalogada por cinco anos, em parte por conta do coronavírus.
Os mistérios por trás da nova partitura de Chopin
Após a análise conduzida pelos pesquisadores do Morgan, foi possível determinar que a partitura seguia o mesmo estilo musical escrito pelo compositor no início da década de 1830. Além disso, a escrita da palvra Valse e as anotações realizadas no papel são pares a caligrafia delicada pelo qual ele era conhecido.
Apesar disso, não se descartou a possibilidade da obra não ser dele. Talvez fosse uma cópia de algum outro compositor, ou o trabalho de algum pupilo. O início da valsa é a parte mais misteriosa. Kallberg, que ajudou a autenticar a valsa, acha que o acorde da partitura, o A agudo, era um pista a ser seguida. "Esse é o acorde que trazia partes incomuns dele à tona".
As peculiaridades no manuscrito são o suficiente para gerarem debates sobre a autenticidade da valsa. Para John Rink, professor de música na Universidade de Cambridge, o estilo explosivo da partitura é o suficiente para questionar a sua originalidade.
Porém, o professor afirma que a análise da caligrafia, do papel e da tinta são "fatores críticos e decisivos" que comprovam sua veracidade. Para Rink, o manuscrito "Reflete a imaginação de Chopin no seu ápice, um tipo de explosão de criatividade que vem antes de trabalhar em qualquer outra ideia"