Fã de rock que nunca se deparou com o discurso "bom mesmo era no passado" provavelmente está tendo uma experiência isolada com o estilo musical. Não quer dizer, porém, que tudo feito no gênero atualmente seja inferior ao que se tinha antes.
Um aspecto em especial do funcionamento interno do rock evoluiu, na opinião de Courtney LaPlante: a presença maior de mulheres na cena. A vocalista do Spiritbox, uma das bandas de metal mais populares da atualidade, abordou o tópico em entrevista ao programa Allison Hagendorf Show (via Blabbermouth).
O assunto começou quando a apresentadora perguntou a LaPlante sobre as mudanças, especificamente no hard rock e heavy metal, nos últimos 15 anos. Antes de formarem em 2016 o Spiritbox, Courtney e o guitarrista Mike Stringer, também seu marido, integraram outros projetos, a exemplo do Iwrestledabearonce.
A cantora, de início, respondeu:
"Quando comecei, não notava o fato de que há muitas mulheres nos bastidores agora, em comparação a quando eu comecei e participei da Warped Tour em 2012 [como vocalista do Iwrestledabearonce]. Foi muito interessante para mim, porque às vezes sinto que é muito difícil para as pessoas terem empatia fora do grupo que elas estão — ou melhor dizendo, nunca foram ensinadas que precisam fazer isso. Já as mulheres, para se adaptar, precisam ter empatia com o padrão, porque não somos o padrão, o que é muito estranho porque somos 50% da população."
Ainda de acordo com Courtney, a presença feminina na "indústria" da música pesada não se limita a cantoras e instrumentistas. Há mais assessoras, empresárias, produtoras e outras profissionais no geral. Trata-se de um cenário que se repete também em outros estilos.
"Outras indústrias agora têm muito mais mulheres nela. Se você olha para o mundo pop, sempre houve domínio das mulheres. Agora, o mundo do rap é dominado por mulheres, o que é muito legal. Isso é algo que mudou muito."
Por fim, LaPlante destacou:
"Se você tem pessoas mais propensas a ter empatia por você, elas são mais propensas a serem capazes de advogar por você. Eu também me cerco de homens incríveis, mas há algo como um aceno de entendimento entre duas pessoas, mesmo antes de se conhecerem, de que ambos provavelmente tiveram experiências semelhantes."
Presença feminina no Grammy de Metal
Pela segunda vez, o Spiritbox foi indicado ao Grammy de Melhor Performance de Metal. Em 2024, a banda concorreu ao prêmio com a música "Jaded", perdendo para "72 Seasons", faixa-título do novo álbum do Metallica. No próximo ano, a disputa será com "Cellar Door", contra "Mea Culpa (Ah! Ça Ira!)" (Gojira com Marina Viotti e Victor Le Manse), "Crown of Horns" (Judas Priest), "Screaming Suicide" (Metallica) e "Suffocate" (Knocked Loose com Poppy)..
Em entrevista à Rolling Stone Brasil, Courtney LaPlante não apenas celebrou a indicação como uma conquista individual, como também exaltou outras duas informações. Além de ser raro ter mais de um artista jovem concorrendo, nenhuma mulher venceu o troféu de Melhor Performance de Metal desde a criação da categoria, com outro nome, em 1989 (com a premiação inaugural ocorrendo no ano seguinte). Desta vez, há três chances de alguém do gênero feminino obter o reconhecimento máximo, tendo em vista as participações da cantora de ópera Marina Viotti na gravação do Gojira para as Olimpíadas e de Poppy como artista convidada do Knocked Loose.
Ela afirma:
"Se nós não ganharmos, adoraria que eles ganhassem. Esse prêmio surgiu no ano em que eu nasci, 1989. Houve um ano em que Lzzy Hale e o Halestorm ganharam, mas naquele período em que se chamava Melhor Performance de Hard Rock/Metal (em 2013). Nenhuma mulher ganhou o Grammy de Melhor Performance de Metal desde que ele foi criado em 1989. Penso sobre isso todo ano. Estou com quase 36 anos e uma mulher nunca ganhou. Agora há mais chances do que nunca para uma mulher ganhar. Espero que a gente ganhe, espero que Knocked Loose e Poppy ganhem, ou, se o Gojira ganhar, tem uma mulher que é cantora de ópera. São três de cinco chances para quebrar essa barreira de vidro."
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