David Coverdale protagonizou alguns momentos surpreendentes na primeira metade dos anos 1990. Logo no início da década, o vocalista pôs fim ao Whitesnake, que vivia um de seus melhores momentos comerciais. Retomou a carreira oficialmente em 1993, com um projeto ao lado de ninguém menos que Jimmy Page — em uma iniciativa que deixou o ex-colega do guitarrista no Led Zeppelin, o cantor Robert Plant, mordido de ciúmes.
O projeto recebeu o nome Coverdale/Page e rendeu um álbum homônimo, lançado em março do ano citado. As gravações, porém, ocorreram bem antes: entre 1991 e 1992, em um longo processo que englobou quatro estúdios em três países diferentes: Estados Unidos, Canadá e Inglaterra.
Apesar do sucesso conquistado — obteve disco de platina em territórios americano e britânico e chegou ao top 10 das paradas de seis países —, a parceria teve seus críticos. Um deles foi Plant, que não economizou nas provocações tanto durante quanto após o fim do projeto.
De acordo com o livro No Quarter: The Three Lives of Jimmy Page, de Martin Power, Robert fez dois tipos de comentários na época do lançamento. O cantor teceu elogios ao trabalho de Page como guitarrista, mas disse não ter entendido a escolha por Coverdale. O motivo? Em sua opinião, o líder do então finado Whitesnake o copiava demais. Chegou a defini-lo como "David Cover-Version", em mais uma provocação.
Soou, mesmo, como ciúmes — e a continuidade da história parece mostrar isso. Até 1993, Plant se recusava a trabalhar com Page para não alimentar uma possível reunião do Led Zeppelin. Mas logo depois do fim do Coverdale/Page, aceitou trabalhar com o guitarrista no projeto que se tornaria conhecido como Page/Plant.
Em entrevista de 1998 ao Chicago Tribune (via Far Out), Robert revelou por que teve uma reação negativa à colaboração do antigo parceiro com David. O argumento girou em torno do mesmo ponto: parecia com Led Zeppelin de segunda categoria.
"Eu o acho um bom homem [em referência a David], mas sinto que sua integridade agora é questionável. Se o Whitesnake fosse uma banda realmente jovem que tivesse acabado de ver [o filme-concerto] The Song Remains the Same e decidido 'ok, é isso, vamos imitá-los'' eu poderia entender. Houve uma época, muitos anos atrás, em que tentei imitar Elvis Presley. É aceitável. Mas David Coverdale tem quase a minha idade. Ele é do meu gênero musical, mesmo que ele estivesse em muitos grupos abaixo do padrão. Sério, você não deveria fazer isso com sua própria gangue. Quando eu imitava alguém, eram artistas tão remotos, era como se estivessem a milhões de quilômetros de distância."
As reações de David Coverdale às críticas de Robert Plant
David Coverdale não é de ferro e, claro, rebateu algumas das provocações de Robert Plant. Em uma entrevista, por exemplo, disse não ter "amor perdido" pelo vocalista do Led Zeppelin e ainda brincou: "não lhe enviaria comida se ele estivesse morrendo de fome".
Nada como o tempo para amenizar. Em entrevista de 2013 à Uncut, o frontman do Whitesnake revelou que gostaria de "pagar uma bebida para Robert", disse tê-lo "na mais alta estima como ser humano e artista" e pediu para que Jimmy Page: "quando você falar com ele, ofereça minhas mais sinceras desculpas por quaisquer coisas negativas que eu já tenha dito, que foram principalmente defensivas".
John Kalodner, executivo de A&R da gravadora Geffen Records — e responsável por sugerir a parceria com Coverdale a Page —, chegou a escrever uma carta para Plant com um pedido de desculpas. A revelação foi feita em entrevista a Martin Popoff reproduzida no livro Whitesnake: A fantástica jornada de David Coverdale (via site Igor Miranda).
"Tive que escrever uma carta com um pedido de desculpas ao Robert. Page me disse que Robert estava muito chateado comigo, e eu queria lhe dizer que nunca partiria de mim desrespeitá-lo. Ele ficou ofendido por eu ter colocado David Coverdale para cantar com Jimmy Page. Se aquilo o ofendeu, de fato, não foi minha intenção."
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