O verdadeiro problema atrás da caça às bruxas a sertanejos

A controvérsia não está nos cantores receberem cachês de dinheiro público e sim nas prefeituras usarem milhões dos impostos para pagá-los

29 mai 2022 - 11h18
Zé Neto e Gusttavo Lima estão na mira de quem contesta uso de dinheiro público para shows
Zé Neto e Gusttavo Lima estão na mira de quem contesta uso de dinheiro público para shows
Foto: Reproduções

Quem fala o que quer, ouve o que não quer. As críticas e deboches de Zé Neto contra Anitta e a Lei Rouanet foram um tiro que saiu pela culatra.

A imprensa lembrou que o cantor e sua dupla, Cristiano, estão entre os beneficiados por dinheiro público por meio dos altos cachês de shows recebidos de prefeituras e Estados.

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Esse dinheiro que paga os artistas que se apresentam em festas populares, como rodeios, vem da arrecadação de impostos de empresas e dos cidadãos.

Já a maior parte dos contemplados pela Lei Rouanet, de renúncia fiscal em prol da cultura, vai atrás do dinheiro de cotas de marketing de empresas privadas, como grandes bancos.

Os produtores que usam a Rouanet para executar os projetos não vivem das ‘tetas do governo’, como propagam os inimigos da classe artística.

Além disso, a União tem, de acordo com norma da Constituição, a obrigação de viabilizar a cultura ao povo.

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Por ser um bolsonarista aguerrido, Gusttavo Lima acabou atingido pela caça às bruxas contra sertanejos a partir da verborragia de Zé Neto. Foram feitos levantamentos da quantia recebida por shows.

Causou espanto a revelação de cachês entre R$ 800 mil e R$ 1,2 milhão por apresentações do ‘Embaixador’ em cidades pequenas com orçamento enxuto.

Surgiu um movimento na internet pedindo uma ‘CPI do Sertanejo’ para investigar a relação dos artistas do gênero com o dinheiro público. Há forte contexto político na questão por se tratar da classe musical que mais apoia Jair Bolsonaro.

No TikTok, a juíza Carolina Nabarro, que produz excelente conteúdo educativo sobre Justiça, foi questionada a respeito da aplicação de dinheiro público em apresentações com ídolos.

“Se paga o que a pessoa pede, porque só ela faz aquele show”, explicou. “Geralmente, o que se justifica é que se o Poder Público não proporcionar esse tipo de show, desse valor, pessoas de baixo poder aquisitivo não terão acesso.”

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A argumentação está correta. Um cidadão com condição financeira limitada dificilmente terá como pagar para assistir a uma apresentação de um artista consagrado. Como comprar ingresso de R$ 100, R$ 200, ganhando um salário mínimo?

O artista, seja de qual área for, pode cobrar o que quiser por seu ofício. Cada um precifica seu talento e sua produção como achar melhor. Paga quem quer ou quem pode.

No caso, Gusttavo Lima não obriga nenhum prefeito a comprar seu show. As prefeituras é que o procuram para tê-lo nas cidades.

Por outro lado, Carolina Nabarro lança um questionamento pertinente: qual o limite para uma prefeitura gastar com um show?

Não há regra. Não se faz licitação para esse tipo de contratação. Cada administrador municipal decide qual artista quer e quanto pode gastar. Espera-se bom senso, o que, cá entre nós, raramente acontece.

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Mais rica do País, a prefeitura de São Paulo, por exemplo, contratou shows de no máximo R$ 300 mil para a Virada Cultural deste ano.

Este valor está abaixo do que a maioria dos cantores do primeiro escalão cobra. Importante ressaltar que as apresentações no evento paulistano têm duração menor do que um show convencional.

Ainda a respeito de Zé Neto, ele tem o direito de não gostar de Anitta, do comportamento dela e da música que a cantora produz. Mas erra ao tratá-la com desrespeito. Sua atitude reforça a imagem de machismo no ambiente sertanejo.

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