Quem circula pela Rota 85 do Rock in Rio encontra algumas referências óbvias. O nome por si só remete à famosa Rota 66, e há ainda uma capela em que Elvis Presley - o que não morreu - celebra a união entre casais. Mas se o passeio acontecer entre às 14h e às 16h, é possível apreciar algo bem brasileiro: a arte dos morros cariocas, mostrada por grafiteiros que ilustram temas importantes para o Brasil em carrinhos elétricos.
Em cada um dos sete dias do festival, sete artistas oriundos de favelas do Rio usam seus sprays para pintar os tuk-tuks, como são chamados os carrinhos elétricos utilizados para o transporte de compras. No sábado, 3, a reportagem do Estadão acompanhou a ação de Thiago Haule, nascido e criado no Morro do Pinto, na zona portuária do Rio.
"Sempre gostei de arte, e acho que o grafite é a forma mais barata de um morador de comunidade começar a produzi-la", disse o artista. "Hoje eu moro no Jardim Botânico, mas meu irmão e filho ainda moram no Morro do Pinto. Eu sou de lá, só não durmo mais lá."
Haule começou a atuar com fotografia popular, mas há cerca de dez anos migrou para o grafite. E ele busca mostrar as coisas de um aspecto muito importante a se discutir no País. "Desde o início da minha produção eu venho retratando povos indígenas. Tenho afinidade com esse tema", explica o artista.
"Esse sempre foi um tema que me pega, pelas questões mesmo que todo mundo sabe. A causa indígena é uma causa de todo mundo, o Brasil é uma terra indígena", ressaltou.
O tema de seu trabalho no Rock in Rio foi a Amazônia. "Sempre viajei nessa possibilidade de conseguir ver do alto dos morros do Rio de Janeiro como seria antes de os portugueses chegarem. O que seria a terra Brasil, terra de Pindorama, sem essa popularização toda", comentou.
O projeto faz parte de uma ação das Americanas, uma das patrocinadoras do evento. Os tuk-tuk grafitados ficam em exibição até o final do evento, e depois serão incorporados à frota da empresa. Segundo a Americanas, os veículos contam com zero emissão de carbono e contribuem para a meta da companhia de ser carbono neutro até 2025.