Simaria anunciou uma pausa na carreira para cuidar da própria saúde após uma série de desentendimentos públicos com a irmã, Simone, a quem acusou de controlá-la diante do público e impedi-la de ser quem ela realmente é. Não demorou para que internautas resgatassem entrevistas anteriores da cantora, destacando trechos em que ela enaltece a si mesma e reconhece suas qualidades.
Algumas pessoas foram além e apontaram até traços de arrogância e narcisismo em algumas declarações da cantora. Em uma delas, Simaria diz que, se pudesse, "doaria o dom dela" para a irmã cantar.
"Eu mandei um áudio pra ela [Simone] e disse: 'Se eu pudesse transferir o meu dom pra você, eu te dava'. Não pensa que é fácil carregar isso aqui, mas Deus escolheu", disse Simaria em entrevista ao podcast PodDelas.
A assessoria de imprensa da cantora foi procurada para comentar as montagens, mas não respondeu à solicitação até a publicação dessa reportagem. O espaço segue aberto para manifestação.
O psiquiatra Daniel Bastos vê fundamento na avaliação desses internautas.
"Até mesmo do ponto de vista leigo, é fácil identificar traços de narcisismo. A forma como ela desvaloriza o talento da irmã e se coloca em um pedestal é uma supervalorização do que ela faz e uma desvalorização da irmã. São traços do narcisismo", explica.
Para ele, o Transtorno de Personalidade Narcisista é ligado a celebridades, mesmo que não esteja restrito às pessoas famosas. A atenção e fama inerentes ao meio midiático são ingredientes básicos na fórmula narcisista.
No entanto, é difícil alguém com esses traços de personalidade procurar ajuda.
"A pessoa vive em um mundinho dela, com as características tóxicas ou não adaptadas, e acaba não sendo diagnosticada", acrescenta.
Diagnóstico não é simples
Mas não basta apontar que determinado artista ou outro tem traços do Transtorno de Personalidade Narcisita, até porque esse diagnóstico é clínico e é feito apenas por um psiquiatra, por meio da análise de comportamento. Segundo Bastos, são três as principais características observadas em pessoas com essa condição:
- Grandiosidade: a pessoa se sente "a última bolacha do pacote";
- Necessidade de adulação: precisa ser venerada e reconhecida pelos seus feitos;
- Falta de empatia: ignora os esforços ou necessidades de outras pessoas ao seu redor.
Além disso, mesmo que contraditório, o psiquiatra aponta que essas pessoas geralmente têm baixa autoestima. É por esse motivo, acrescenta Bastos, que elas sentem a necessidade de autoafirmação a todo tempo, com o sentimento de superioridade.
Criação influencia
Estudos médicos indicam a existência de fatores genéticos como a causa para o Transtorno de Personalidade Narcisista. No entanto, psiquiatras reforçam que o principal determinante são os fatores ambientais.
"O ambiente em que você é criado, a forma como você lida com as pessoas, a forma como você é estimulado na infância pode estimular traços de personalidade. Você tem a base genética, mas o fator ambiental acaba por desenvolver esse traço e a forma de você conduzir a sua vida", explica a psiquiatra Gesika Amorim Vianna.
Embora seja comportamental - e apesar do componente genético -, não há cura para o narcisismo. Por outro lado, algumas técnicas podem ajudar o indivíduo a enxergar melhor o mundo e as pessoas que o rodeiam.
"Não posso dar uma pílula que vai fazer a pessoa ter empatia pelos outros, mas tem como fazer com que essa pessoa identifique as ações dela", aponta o psiquiatra Daniel Bastos.
A autocrítica sobre as próprias ações é importante para a convivência com outras pessoas, visto que esse traço de personalidade costuma ser mais danoso para quem convive com o narcisista. De acordo com a psicóloga Deise Cristina Gomes, normalmente quem é narcisista não depende de amor ou afeto de outras pessoas.
"Ela não se preocupa com a necessidade do outro. É uma sensação de direito e exigência de admiração constante e de conquista", acrescenta.
*Com edição de Estela Marques.