Na última semana, Carlos Alberto Decotelli da Silva pediu demissão do Ministério da Educação ainda antes de ser empossado no cargo. O motivo? Uma série de inconsistências no currículo do educador, que se apresentava como doutor por universidade argentina sem ter defendido sua tese. A gota d'água, no entanto, foi o surgimento de uma acusação de plágio na tese de mestrado de Decotelli.
A cópia do trabalho de outras pessoas é uma das mais graves acusações no universo acadêmico. No mundo da música, casos de plágio também podem arranhar a carreira de grandes artistas. Alguns dos mais reconhecidos da história, como os Beatles, Elvis e Michael Jackson conviveram com acusações do tipo e chegaram até a travar batalhas da justiça com artistas menos conhecidos. Outros casos colocaram frente à frente gigantes da indústria fonográfica, como Chuck Berry contra os Beach Boys e Stevie Wonder contra Oasis.
No entanto, em algumas situações, grandes artistas gringos vieram buscar "inspiração" em terras brasileiras. Supostos plágios de grandes sucessos, artista admitindo cópia e até mesmo "plágio visual" estão entre as histórias mais intrigantes. Confira algumas delas:
Riff de 'Smoke on the Water' foi escrito por Carlos Lyra?
O rock possui centenas de riffs de guitarra icônicos. No entanto, poucos são tão conhecidos quanto o de 'Smoke on the Water', sucesso da banda britânica Deep Purple lançado em 1972. A canção entrou na lista das 500 maiores músicas de todos os tempos da revista Rolling Stone e foi considerada pelo canal VH1 como a 11ª melhor música de rock da história.
No entanto, em 1964, a cantora Nara Leão gravou um samba-canção chamado 'Maria Moita', composto por Carlos Lyra, um dos grandes expoentes da bossa nova e um dos maiores parceiros de Tom Jobim. A introdução, feita com instrumentos de sopro, é assustadoramente parecida com o sucesso do Deep Purple. Confira:
Lyra jamais se pronunciou sobre o caso que, portanto, nunca foi parar na Justiça. Ainda antes da composição do Deep Purple, uma versão em inglês de 'Maria Moita', batizada de 'Maria Quiet', foi gravada pela cantora Astrud Gilberto. Nessa época, a bossa nova já encantava públicos por todo o mundo.
Black Sabbath copiou Vanusa? Ela diz que não
Em 1973, a cantora Vanusa, um dos maiores nomes da Jovem Guarda, lançava seu álbum de número quatro. No disco, apenas uma canção em inglês, 'What to Do'. Alguns meses depois, os ingleses do Black Sabbath lançavam 'Sabbath Bloody Sabbath'. E é justamente o single que dá nome ao álbum, e é um dos grandes sucessos da história da banda, que causou polêmica no Brasil.
Assim como no caso do Deep Purple e de Carlos Lyra, o suposto plágio fica por conta da introdução da música, que é praticamente idêntica à da lançada por Vanusa meses antes. Ouça:
Apesar da semelhança, Vanusa minimizou o caso quando perguntada. "Eu acho que é uma coincidência musical. Eu ouvi a música pela primeira vez há dois anos, e eu fiquei convencida que eles não me copiaram", disse a cantora, em entrevista ao site plus 55.
Rod Stewart admitiu "plágio involuntário" de Jorge Ben
Lançada em 1978, a música 'Da Ya Think I’m Sexy', do cantor inglês Rod Stewart, conquistou o topo das paradas de sucesso no mundo inteiro. No entanto, o refrão da canção tinha exatamente a mesma melodia de 'Taj Mahal', sucesso do brasileiro Jorge Ben lançada seis anos antes. Veja:
Dessa vez, o caso foi parar na Justiça, com o brasileiro processando o britânico. No entanto, os dois acabaram resolvendo o caso fora dos tribunais, com Jorge Ben ganhando co-autoria de 'Da Ya Think I’m Sexy' e Stewart doando os lucros do single para a Unicef. Apesar de admitir a cópia, Stewart alega que cometeu "plágio involuntário" e que deve ter ouvido a música de Jorge Ben quando passou um Carnaval no Brasil.
Secos e Molhados x Kiss e o "plágio visual"
Formada no ano de 1970, a banda Secos e Molhados mudou para sempre a cultura brasileira, não apenas por suas icônicas canções e pelas misturas de ritmos e estilos, mas também pelo visual transgressor, marcado, entre outras coisas, pelos rostos completamente maquiados. Três anos depois, em Nova Iorque, surgiu o Kiss, uma das maiores bandas de rock da história. A marca registrada? Os rostos maquiados, que fizeram do Kiss uma das marcas mais reconhecíveis e lucrativas do planeta.
O cantor Ney Matogrosso, um dos membros originais da Secos e Molhados, defende até hoje que os norte-americanos copiaram o visual dos brasileiros. De acordo com o vocalista, uma turnê do grupo brasileiro fez tanto sucesso no México que ele chegou a ser convidado para fazer carreira nos Estados Unidos, mas acabou recusando. "Alguns meses depois, o Kiss lançou o primeiro album", contou Ney, em entrevista ao programa Conversa com Bial.
Ainda de acordo com Ney Matogrosso, dois integrantes do Kiss vieram ao Brasil e ficaram hospedados na casa do cantor e compositor Zé Rodrix, que teria mostrado aos rockeiros um álbum do Secos e Molhados e contado a eles que o grupo jamais se apresentava sem maquiagem e que a identidade dos membros era praticamente desconhecida, mesma técnica que acabou sendo usada pelo Kiss. Os americanos, no entanto, negam a acusação. “Nunca ouvimos falar nessa tal banda. Não temos ideia do que seja ou de que tocam”, dise Paul Stanley durante uma entrevista coletiva no Brasil em 1994. Pesquisadores também comprovaram que o Kiss surgiu antes da turnê do Secos e Molhados no México.