The Vaccines volta a imunizar Brasil e examina crescimento da banda: 'Nunca nos sentimos parte de uma cena'

A banda europeia fez show único no país nesta terça-feira, 21; apresentação com ingressos esgotados marcou retorno do Vaccines ao Cine Joia após 12 anos

22 nov 2024 - 16h17
(atualizado às 16h29)
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Foto: The Vaccines ( Wrenne Evans) / Rolling Stone Brasil

The Vaccines retornou ao Brasil após 11 anos em grande estilo: formando um círculo completo. A banda fez sua estreia no país em 2012, quando se apresentou no Cine Joia, mesma casa de show que a recebeu na última quinta-feira, 21. 

"É muito surreal. Na primeira vez que viemos aqui, estávamos no line-up do Coachella também, na semana anterior e na semana seguinte. Então, descemos para o Brasil e estávamos super cansados. Foi nossa primeira vez na América Latina", contou Justin Young em entrevista à Rolling Stone Brasil. Ele conversou com a imprensa no camarim horas antes de subir ao palco.

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O vocalista descreveu a experiência como "um verdadeiro turbilhão" e acrescentou: "Não tivemos tempo para fazer ou absorver nada. Mas eu me lembro daqui. Assim que disseram que iríamos tocar no Cine Joia, eu me lembrei. E, na verdade, agora mesmo, eu estava vendo vídeos da última vez que tocamos aqui. É um lugar incrível".

Tocar no mesmo lugar que tocou há mais de uma década foi paradoxal para o Vaccines. Alguns artistas que se apresentaram lá no passado conquistaram tantos fãs que já não cabem mais ali. 

Young admitiu que pensa "com frequência" no sucesso alcançado pelo grupo, que ganhou notoriedade com rapidez, mas se consolidou em 2010, quando a onda indie estava mais branda. "Me pergunto se seríamos muito maiores se tivéssemos surgido em 2003 ou 2004, ou talvez seríamos menores devido à maior concorrência", confessou.

The Vaccines
Foto: Wrenne Evans / Rolling Stone Brasil
Sabe, é impossível dizer. Acho que sempre sentimos como se fôssemos uma ilha, meio isolados, e nunca parte realmente de uma cena. Às vezes, acho que nos sentimos um pouco tristes por isso, mas, em outras ocasiões, pensamos que talvez isso tenha nos ajudado, porque nos permitiu dar um passo à frente e brilhar um pouco mais. Não tenho certeza se tenho uma resposta.

O grupo foi pontual: às 21h15 caiu na recepção calorosa dos fãs, que apinharam o lugar. Young fez questão de ler e tomar todos os cartazes que estavam a seu alcance. Ele deu uma setlist para alguém na plateia quando a performance ainda estava em curso, mas pediu que fosse mantida em segredo até o final do show. "Ninguém quer abrir os presentes antes do Natal", brincou.

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The Vaccines
Foto: Wrenne Evans / Rolling Stone Brasil

YoannIntonti concedeu autógrafos ao final da noite, antes de deixar o palco de vez. Em troca, o público cantou e pulou durante todas as faixas, mesmo ameaçados pelo calor intenso típico do Cine Joia.

Fãs não se acanharam nem mesmo quando foi a vez de faixas do disco mais recente do Vaccines, o Pick-Up Full Of Pink Carnations, lançado em janeiro deste ano. Segundo Young, o título do álbum faz referência à música "American Pie", de Don McLean: "Isso meio que surgiu para mim, e eu não tinha certeza do que significava, mas sabia que soava bem. Algumas semanas depois, percebi que era uma lembrança esquecida de uma letra do Don McLean".

"Isso acabou entrando na música 'The Dreamer', que era meio que sobre o sonho americano e a morte da inocência, da juventude e todas essas coisas. E, obviamente, é disso que a música dele também trata. Então, achei que havia uma certa serendipidade nisso", argumentou.

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A faixa diretamente inspirada por McLean é a preferida, atualmente, de Young, mas o posto já foi de "Primitive Man". Já na canção de McLean, ele canta: "I was a lonely teenage broncin' buck / With a pink carnation and a pickup truck / But I knew I was out of luck / The day the music died" — "Eu era um jovem solitário, um cavalo selvagem / Com uma flor de cravo cor-de-rosa e uma caminhonete / Mas eu sabia que estava sem sorte / No dia em que a música morreu", em tradução livre.

Acho que é um álbum sobre perda, mas também sobre como, através dessa perda, vem o crescimento, o aprendizado de amar a si e, então, encontrar o amor novamente. Acho que, embora haja dor, também há esperança, otimismo e felicidade, sabe?
The Vaccines
Foto: Wrenne Evans / Rolling Stone Brasil

O grupo tocou a maioria das músicas do disco mais recente. As faixas "Love to Walk Away", "Discount de Kooning (Last One Standing)", "The Dreamer", "Heartbreak Kid", "Sometimes, I Swear" e "Lunar Eclipse" entraram na setlist. Houve, porém, espaço para os outros cinco álbuns da banda, principalmente aquele que a alçou à fama: What Did You Expect From The Vaccines?(2011).

A obra em questão foi feita quando o Vaccines conservava outra formação. Justin tocava ao lado de Árni Árnason, Pete Robertson e Freddie Cowan. Robertson foi o primeiro a deixar o grupo. No ano passado, foi a vez de Cowan. Timothy Lanham e Yoann Intonti foram agregados ao longo dos anos. 

"Tim começou em 2014, então ele está na banda há 10 anos, e o Yoann entrou em 2016, então ele está há quase nove anos. Pete ficou por apenas cinco anos. Então, na verdade, já fizemos mais discos juntos, estamos na banda há muito mais tempo", ponderou Young ao ser perguntado sobre sua posição como integrante original do grupo com Árnason.

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O cantor refletiu: "E isso não é algo que muda da noite para o dia. As coisas, eu acho, evoluem lentamente e, por isso, torna-se muito mais fácil se adaptar. Talvez o Vaccines seja como um time de futebol ou algo assim. Se você ama um time de futebol, o time que você amava há dez anos não tem o mesmo técnico, não tem os mesmos jogadores, não tem a mesma camisa, não tem o mesmo preparador, muitas vezes nem o mesmo dono".

"Às vezes, eles mudam de cidade, às vezes jogam com cores diferentes quando não estão no estádio de casa, o logo muda, tudo sobre eles muda", continuou. "Mas é esse conceito que permanece o mesmo. Acho que, enquanto alguém quiser estar no Vaccines, pode estar no Vaccines. E quando isso deixa de fazer sentido para a vida dessa pessoa, ficamos tristes em vê-la partir, mas é isso."

Acho que todo álbum é como uma fotografia de um momento no tempo e reflete onde você está na vida, quem você é, como está se sentindo, o que está ouvindo, o que te inspira. Obviamente, você tem seu processo e coisas para as quais se sente naturalmente atraído como pessoa, artista e fã de música. Mas acho que seria quase impossível fazer um álbum soar exatamente igual três ou quatro anos depois, se você está sendo autêntico com o que te atrai. Fizemos esse disco três ou quatro anos depois do último. Então estamos mais velhos e, espero, mais sábios, e estamos interessados e inspirados por coisas diferentes. Acho que, como resultado, há um pouco mais de musicalidade e uma autenticidade, uma espécie de honestidade que estamos sempre tentando refinar a cada álbum que lançamos. Não sei ao certo.

Young revelou ainda que o disco "foi feito e escrito na Costa Oeste" e muitas de suas faixas "tiveram a primeira fagulha" enquanto ele dirigia. Por isso, provavelmente, a capa e a música de Pick-Up Full Of Pink Carnations pode transportar ouvintes para uma road trip

O vocalista, inclusive, contou que abandonou Los Angeles recentemente. Hoje, ele vive em Londres, assim como Lanham: "Yoann vive em Paris, Árni vive em Reykjavik, na Islândia. Tim e eu estamos morando em Londres agora. Matt [Hitt], que toca guitarra com a gente, mora em Nova York".

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Tratando-se da Europa, trens e voos baratos da Ryanair podem encurtar distâncias com facilidade. No entanto, de acordo com Young, a lonjura não é um problema. "É estranho. Acho que nos vemos tanto quando estamos em turnê — ficamos nessa bolha de turnê —, que acabamos não nos encontrando muito fora desse contexto", disse.

"Mesmo quando todos morávamos na mesma cidade, não nos víamos tanto quando não estávamos em turnê, compondo ou gravando música. Provavelmente, já tínhamos passado tempo suficiente juntos. Então é legal. Você tem a chance de viver sua vida e depois voltar e, de certa forma, funcionar como um só novamente, eu acho", afirmou o artista.

Árni não pôde comparecer ao show em São Paulo. Conforme a banda havia adiantado para fãs que a visitaram na porta de seu hotel, o músico precisou retornar para casa mais cedo devido a uma perda em sua família. Sua falta foi sentida, mas não pesou o clima — o Cine Joia estava em festa. 

Rolling Stone Brasil
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