Trio de garotas do Vidigal fazem rap contra as "recalcadas"

“Hoje os homens pedem para cantar para eles”, diz Alice, do Pérolas Negras. O grupo viralizou na internet com o hit 'Pensando em Você'

24 set 2014 - 11h47
(atualizado às 16h05)

Jennifer ganhou uma vez um CD dos Racionais MCs do tio há alguns anos e passou a decorar todas as letras. Alice confessa que sempre escutou hip hop por causa do pai. Mariana tem a referência de MV Bill. Então, quando você ajudar a catapultar milhares de visualizações de “Pensando em Você” na web, saiba que nada foi à toa. A veia cultural já pulsava nas veias destas três garotas do morro do Vidigal, na zona sul do Rio de Janeiro. Todas já estiveram envolvidas com teatro, por exemplo. Com o funk sob pano de fundo básico de cada comunidade, o rap foi a plataforma que deu certo para escoar o cotidiano local. 

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As Pérolas Negras, como preferem (mas também pode chamar de Pearls Negras), é um grupo de rap formado no projeto Nós do Morro, do Vidigal, base de atores para o premiado Cidade de Deus, além de outros globais. Quer dizer, foi o ponto de encontro para o projeto que começou despretensioso.

Pérolas Negras rimam no Morro do Vidigal
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"Não imaginávamos estar cantando rap”, confessa Mariana Alves, que ao lado de Jennifer Loiola, ambas com 17 anos, e Alice Coelho, 18, compõem o grupo. “Mas aí a Jennifer começou a trazer umas letras”, conta Mariana. Com o apoio fundamental de Jaqueline Ferreira, a Jackie Brown, produtora e “mãe” das garotas, elas perceberam “que era um mundo diferente”. “E nesse caso a gente sempre referência de homens para a gente ter a pegada diferente”, enfatiza Mariana. 

Foto: Terra

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Pegada masculina, mas com muito, muito mais estilo. A profusão de cores domina o grupo na mesma medida em que as letras transparecem atitude. Sem compromisso. “A plateia entende como quiser”, conta Mariana. “Temos originalidade”, continua. “A gente fala o protesto básico, mas fala sobre amor, curtição, sobre a nossa realidade, as garotas que não gostam da gente, dos gatinhos, das festas”, completa. 

Com uma mixtape patrocinada pela Bolabo Record, e nas mãos do produtor inglês David Alexander, encaixaram rimas para lançar “Biggie Apple”. A partir daí tudo mudou. A agenda de shows teve que ser intercalada com os estudos – Alice e Jennifer cursam o ensino médio, e Mariana, o novo ano, antiga oitava série. E as cores vibrantes das botas, dos lenços para as vastas mechas, passaram a ditar moda, o que não deixa de ser uma ironia para as três. 

“As garotas tinham rixa, pois a gente sempre quis se destacar, ousar nas roupas. O nosso estilo é sempre o mesmo. E isso incomodava. Todo o mundo usava short e top, e a gente vinha com colorido”, relembra Alice. “Falavam 'olha que escroto, que ridículo'. Agora, elas curtem a gente, mas não querem reconhecer”, afirma ainda, antes de completar com a análise da ala masculina. 

Foto: Terra

“Antes os meninos riam muito, falavam que a gente tinha fralda ainda, falavam que a gente ia cantar música da Xuxa. Mas agora que a gente conseguiu esse reconhecimento, mudou bastante. Hoje os homens pedem para cantar para eles”, diz sobre o hit Pensando em Você, que junto de Guerreira, dentre outros, formam uma lista já considerada de sucesso que se expande, em suma, pela internet. A viralização do rap feminino direto de uma favela do Rio de Janeiro. 

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Se o começo foi pela batida feminina, hoje, com maturidade suficiente mesmo diante da juventude, sabem apontar as referências femininas e os próximos passos para muito além dos cinco anos em que o Pérolas Negras já está formado. 

“Eu me inspiro na Beyoncé, atitude, jeito de vestir, de defender a mulher", conta Mariana, que sempre anota no celular alguma ideia para uma rima. "Me inspiro na Ciara (cantora americana). Sempre tentava imitar ela dançando, e decidi levar a atitude de palco. É o que eu mais escuto no meu cotidiano”, revela Jennifer. E Alice complementa: “Me inspiro muito na Nicki Minaj. Além de a gente ser super-parecida. Ela canta com homens, e têm muita força, e gosta da ousadia das roupas”. 

No final de agosto, embarcaram na primeira viagem para o exterior: França, Inglaterra, Portugal e Suécia. O sonho das Pérolas Negras teve seu primeiro grande desafio, e logo no Velho Continente. Elas ainda querem atuar, fazer faculdade, e garantir o futuro de uma forma ou de outra. Mas Mariana resume bem o momento: “Não tem um emprego tão gostoso como esse”.

      

Fonte: Terra
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