Nas suas seis décadas de carreira, Rita Lee foi fenômeno uns dois anos, 79-81, e sucesso popular mais uns quatro ou cinco. Pouco depois, 1991, já se autoparodiava na MTV. O novo som eram comportadas e lucrativas versões bossa nova de seus hits. Tinha 43 anos.
Dali foi pra DVD “Acústico”, compilações caça-níquel, versões bossa dos Beatles e, oficialmente, personagem. Foi a longa fase “tia doidona”, depois avó.
Difícil desgostar da querida, inofensiva Rita madura. Fácil esquecer nesta fase a Rita imatura, que esfregou na cara do Brasil um novo tipo de mulher - e em três décadas diferentes.
Era inexplicável na tela da tevê a menina no centro dos Mutantes. Era inédita a moça valente à frente de uma banda de rock machão, o Tutti Frutti, anos e anos longe do sucesso.
Nunca tínhamos visto parceria musical-matrimonial em que a liderança inconteste era da mulher, Rita e Roberto. Ou sua liberdade com temas que ditadores e padres proibiam ― mulher à vontade com sexo? Onde já se viu? Na boca de Rita Lee.
Duro explicar os diversos impactos dela pra quem não viveu esse tempo. Fica pras novas próximas gerações a música de Rita. Vários momentos do nosso mais irresistível, transformador pop. Escolha os seus.
E pelo menos dois clássicos para entrar em qualquer antologia da nossa canção, em qualquer século, e das canções que muda vidas: “Panis Et Circensis” e “Ovelha Negra”.