Entrevistei Dudu Braga algumas vezes. As pautas sempre eram o programa de rádio ‘As Canções que Você Fez para Mim’, exclusivamente com músicas de Roberto Carlos, e o projeto social Meninos do Morumbi, com ensino de música, prevenção de doenças e terapia familiar. A cada nova conversa, ele se mostrava mais entusiasmado com suas atividades.
O sorriso aberto era a marca registrada do filho de Roberto Carlos. Reflexo de seu bom humor, com saborosa autoironia. Ele sabia rir das próprias limitações por conta da deficiência visual. Na época, tinha apenas 5% de visão de um olho e não enxergava nada do outro. Mesmo assim, fazia questão de conversar ‘olhando nos olhos’, oferecendo atenção máxima.
A paixão de Dudu pela vida era contagiante. Apesar de ver tão pouco do mundo ao seu redor, o radialista e produtor musical exalava alegria genuína simplesmente por existir. Filho do maior ídolo da música brasileira, ele não se importava de sempre perguntarem sobre o pai, às vezes deixando-o em segundo plano.
Nunca demonstrou se sentir subestimado. Pelo contrário: além de ser o fã número 1 de Roberto Carlos e seu maior divulgador, demonstrava orgulho crescente pelo “paizão”, como se referia ao cantor. Espirituoso, chegava a imitar a voz do ídolo – e caía na gargalhada. Diferentemente de muitos filhos condenados a viver à sombra de pais famosos, Roberto Carlos Segundo (apelido ‘Segundinho’) tinha luz suficiente para brilhar sozinho.
A resiliência desenvolvida na juventude, ao longo da batalha para tentar manter a visão, foi ampliada ao ser diagnosticado com câncer, enfrentar metástase e recidiva. Mesmo em tratamento, participava de lives para falar, com entusiasmo infinito, sobre a vasta obra do ‘Rei’. Solícito e sorridente. Artista da vida, Dudu Braga encarou a finitude iminente com coragem e discrição. Viveu apenas 52 anos, porém, com rara grandeza. Foi um prazer tê-lo conhecido.