Ney Latorraca teve uma carreira que poucos atores tiveram e terão. Foi galã, foi engraçado, foi vilão. Não se prendeu a um único rótulo e, por causa disso, conseguiu alcançar grande sucesso mesmo já tendo superado a juventude. É difícil enumerar um único papel que o tenha marcado, em especial, mas certamente alguns podem ser enumerados: Vlad, o vampiro de "Vamp" (1991), Barbosa, da "TV Pirata" (1986).
Vlad fez tanto sucesso e marcou uma geração inteira de tal jeito que acabou sendo trazido de volta em "O Beijo do Vampiro" (2002) para rivalizar contra Tarcisio Meira, que interpretava Boris. Sua versatilidade o levou para musicais e parcerias inesquecíveis.
Ousado, chegou a interpretar uma cena de estupro com Vera Fischer no começo dos anos 80 e ficou mais de uma década em cartaz no teatro ao lado de Marcos Nanini, em "O Mistério de Irma Vap".
Ney sempre chamou atenção nos bastidores por sua personalidade afiada. Era melhor amigo de figuras icônicas como Sandra Bréa, reconhecidamente um homem divertido entrre seus pares. Talvez por isso mesmo tenha preferido passar os últimos anos isolado, longe dos holofotes. Em depoimento recente, Maitê Proença afirma que ele "cansou" de ser sempre o engraçado. Os tempos recentes foram em casa, na companhia do marido, Edi Botelho, com quem era casado havia 30 anos.
Mesmo sem transformar-se em um ativista, tornou-se, silenciosamente, um ícone queer. E fez com muitas pessoas o admirassem ainda mais. Seu legado estará sempre aceso por meio de personagens e entrevistas icônicas, como a que, ironicamente, fingiu estar noivo e prestes a ser pai, no "Planeta Xuxa". Ney era gigante.