Levar o popularesco para a televisão nunca foi exatamente novidade para o Brasil, que desde muito cedo transformou em sucessos programas como "O Povo na TV", "Flávio Cavalcanti" e "Aqui Agora". Um polimento no formato, no entanto, acabou ocorrendo nos anos 90: sob falso pretexto de debater e resolver situações, os talk shows diurnos acabaram importados dos Estados Unidos para cá. O que fez sucesso com Oprah Winfrey e Ricki Lake, no entanto, evoluiu para algo inesperado: a exploração do mundo cão, com Jerry Springer.
Ex-prefeito e ex-âncora de telejornais, o apresentador decidiu ceder ao apelo fácil por audiência e transformou seu programa em um fenômeno. E também em um show de horrores. É o que mostra o documentário "Jerry Springer: Brigas, Câmera, Ação", que acaba de estrear na Netflix.
Para se ter uma ideia, o que antes eram brigas de casal evoluiu para pessoas nuas no palco e bizarrices, como o dia em que um homem foi ao palco e disse ser casado com um pônei, a quem beijou na boca em frente às câmeras, para total choque da plateia e da crítica especializada. O que se vê é que esse tipo de programa preparava os participantes de maneira absolutamente desonesta: embebedando, estressando e até mesmo chantageando caso tudo não acabasse em briga, que era o grande chamariz da audiência.
Um dos casos, que não terminou numa luta livre, acabou ocasionando até mesmo um assassinato. Aqui no Brasil, talvez o maior expoente do gênero tenha sido comandado por Márcia Goldschmidt, que SBT levou barracos ao ar e, na Band, episódios como o do "menino-peixe", todos sem desfechos fatais, ainda bem - embora a própria apresentadora tenha sido feita de refém ao vivo na TV por um homem armado.
Já no final da vida, Springer, que ganhou muito dinheiro com o mundo cão, se mostrou arrependido. Disse que sentia vergonha de assistir ao próprio programa. Deveria, de fato. O estrago, entretanto, já estava feito. Era tarde demais. Vale a pena ver o documentário para entender exatamente o que não fazer na televisão.