Dois casos que marcaram a história recente do Brasil ganharam uma investigação detalhada por meio de documentários na Netflix e Disney+. Até hoje, as histórias de Eliza Samúdio e Priscila Belfort nunca ganharam um desfecho porque ambas nunca foram encontradas - vivas ou mortas. O que se vê, no entanto, é que o deslumbre com a fama dos personagens envolvidos nas tramas, a influência social e o machismo dominaram as diligências. E atrapalharam - muito.
No caso da ex-namorada do goleiro Bruno, até então um astro do Flamengo, não adiantaram os muitos apelos que ela fez. Eliza foi à polícia, ao Ministério Público, à televisão. Ninguém a ouviu como deveria ou a protegeu. Enquanto mesmo acusado de assassinato o atleta era celebrado por fãs, a mãe de seu filho recebia um julgamento pela mídia, como se fosse mais uma "maria chuteira".
No documentário com uma hora e quarenta minutos de investigação, fica claro como o machismo dominou toda a conversa. Ninguém quis contar seu lado dos fatos como deveria, pelo contrário. Até hoje, aliás, há o mito de que o corpo de Eliza foi devorado por cães, algo negado pela perícia científica.
No caso de Priscila Belfort, sendo ela irmã de um lutador famoso, apresentadores de TV tomaram à frente do caso e chegaram a oferecer recompensas. Um deles chegou a declarar que mandaria câmeras e uma equipe na casa de quem fizesse a denúncia. Assustadoramente, houve quem passasse informações falsas para paquerar o delegado.
Mais esquisito ainda é o fato de a Polícia Civil não ter autorizado nenhum agente a dar depoimento para a série, que, aliás, cita o namorado dela na época, mas não diz seu nome por ser ele filho de umn político famoso no Rio de Janeiro. Há fios soltos na investigação, que precisam ser retomados. para defender poderosos, estas linhas de diligência não foram perseguidas.
Nenhuma das histórias tem fim. Nenhum dos supostos envolvidos esclareceu tudo. Ser mulher no Brasil ainda é estar sob constante julgamento. E é muito triste comprover isso quando cidadãs não tiveram nem mesmo o direito de ganhar despedidas de suas famílias - ou serem encontradas.