Desde que ingressei no jornalismo de entretenimento e, posteriormente, na televisão, tive a chance de conhecer muitas das figuras que cresci assistindo. Ganhei selinho de Hebe Camargo, bebi vinho com Ronnie Von, troquei mensagens privadas no instagram com Gugu Liberato, fiquei amigo de Leão Lobo, dividi programa com Nelson Rubens. Tudo sempre me pareceu um tanto surreal, quando lembro que assistia a todos no interior de Pernambuco, ingênuo que era, mas Silvio Santos sempre me pareceu inalcansável.
Por isso a minha surpresa e alegria quando Maisa Alves, assessora do SBT, me convidou para participar do "Troféu Imprensa". Minha família sempre foi fascinada por Silvio Santos - nota triste: meu avô paterno morreu atropelado por um ônibus quando ia pagar o carnê do Baú. Eu sabia que viveria um momento importante e me cerquei de antecipação. Na época, rezei para o teste de covid na porta da emissora da negativo. Por mais que o dono do canal fosse cercado de polêmicas, ninguém de televisão, em sã consciência, duvida que é ele é o maior comunicador do país.
No camarim, cercado por colegas jornalistas, tive vontade de fazer xixi várias vezes de tanta ansiedade. Evitei beber muito líquido, mas era inevitável. Somava-se a isso o medo de Silvio aparecer bem na hora em que eu estivesse no banheiro. Seria imperdoável. A tensão exisitia porque era claro que ele apareceria na hora que quisesse e seria tudo rápido para já estarmos no palco. Todos teriam de estar prontos e aguardando.
Quando o momento finalmente ocorreu, tudo pareceu extremamente surreal. De certa maneira eu parecia descolado da minha realidade, observando tudo de longe, como se fosse algo impossível para aquele garoto estar na presença do dono do SBT. Silvio entrou no camarim com largo sorriso. Cumprimentou educadamente cada jornalista. Agradeceu pelo tempo. Fez piadas - eu adoraria lembrar de algumas, mas o nervosismo apagou parte desse momento - e fez questão de posar para selfies com todos. Alguns, com vergonha, quando viram que ele estava disposto, logo se animaram a fazer fotos também.
No palco, fiquei fascinado com sua desenvoltura. Ficou de pé, sem parar, exceto para pausas técnicas, durante quase quatro horas. Nas paradas para ajustes ou tirar dúvidas com a direção, sempre retomava com uma técnica óbvia, mas na qual nunca tinha pensado. Campainha (para o silêncio) e aplausos (da plateia). Esse método permitia ao programa sempre retomar de onde havia parado. Funcionava muito. Em dado momento, quando alguém se estendia - aconteceu comigo -, ele tratava de ser pragmático: "seu voto". Na época, eu estava em três veículos diferentes e ouvi dele que era uma lista muito grande e ele não repetiria todos sempre. Ele sabia das coisas. O protagonista era o troféu e não o jornalista.
Quando menos esperei, Liminha me colocou no palco para entregar o prêmio a Danilo Gentili. E, de pé, tremendo mais que vara verde, mas disfarçando, tive a chance de interagir cara a cara com Silvio em frente às câmeras. Lembro de olhá-lo de perto, para ter certeza que eu estava mesmo de frente com o homem mais famoso do país. Ao mesmo tempo em que fiquei à vontade para brincar e fazer piada, torci para o momento acabar logo, por medo de falar alguma besteira - o que acontece quando fico nervoso, sou estabanado.
Quando tudo passou e sentei, vi que minhas mãos estavam geladas, meu pescoço duro e meu pé suava. Eu sabia ali que vivi algo que me marcaria a minha existência para todo o sempre e dificilmente se repetiria. E não se repetiu. Essa foi uma das últimas gravações da vida de Silvio Santos. Que sorte eu tive.