Problemas técnicos à parte, o Prêmio Multishow, exibido na última terça-feira (3), consagrou - e com razão - Anitta e Liniker. Embora de estilos diferentes, as cantoras são pioneiras por chegarem - cada uma a seu jeito - em lugares impensáveis para brasileiros na indústria musical.
Anitta chegou a ser considerada uma sucessora de Carmen Miranda (que era portuguesa radicada no Brasil), mas foi mais longe. Construiu um império, fugiu do aprisionamento de estilo ("Boys Don't Cry", por exemplo, flerta com o emo), consolidou parcerias de sucesso, se apresentou em prêmios, participou de programas de TV de sucesso e emplacou capas de revista. Virou um trem imparável e uma personalidade conhecida no exterior. Levou o funk para o mundo.
Já Liniker, com seu jeito calmo e muito talento, provou que é possível, sim, para travestis encontrarem um lugar num mercado ainda tão preconceituoso. Incensada pel crítica e admirada por artistas de renome, fez de "Caju", seu último disco, um fenômeno. Tem lotado shows pelo Brasil inteiro e mostrado que muita arte linda pode ter sido desperdiçada por uma sociedade tão conservadora. Liniker é um sonho possível, a certeza de um mundo melhor, mais tolerante e diverso.
Tanto uma quanto a outra já marcaram seu lugar na história da música popular brasileira. Ambas mostram que o país tem muito a oferecer. Foram pioneiras em seus campos e podem ser consideradas desbravadoras e quebradoras de tabus. Merecem todas as homenagens.