Existem marcos na cultura recente do país, antes da virada do milênio, que são impossíveis de não serem lembrados. Foi assim com o impeachment de Fernando Collor, em 1992, com a criação do Plano Real, em 1994, e também a morte de Ayrton Senna, no mesmo ano. Desde que perdeu a vida num trágico acidente televisionado mundialmente, o piloto, que já era um ídolo, tornou-se uma lenda.
Agora, finalmente, uma série se dedica a contar sua história. E, ainda que de maneira um tanto sintetizada, "Senna", da Netflix, se mostra um acerto retumbante. Um dos maiores do audiovisual brasileiro. Isso se deve, claro, ao orçamento generoso, que mostra que não se economizou esforço para investir na produção. Mas o grande triunfo é outro: transportar o espectador da ficção praticamente para o mundo real, com corridas e disputas emocionantes, graças a direção de Vicente Amorim.
As sequências de alta velocidade não ficam a dever a nenhum filme estrangeiro, mas é na dose de emoção que se concentra seu grande trunfo. Impossível assistir a algumas das disputas do brasileiro e não cair no choro ou, pelo menos, ficar emocionado. Senna era um homem privilegiado, sim, mas extremamente carismático e dedicado ao que fazia. Uma das poucas exceções num esporte milionário que não dava a latinos o mesmo tratamento que europeus e americanos.
Por si só, suas histórias no esporte renderiam uma boa série, mas a Netflix ainda pincela um pouco de sua relação familiar e seus amores. A primeira esposa, Lilian (Alice Wegmann), Xuxa (Pamela Tomé, assustadoramente idêntica) e Adriane Galisteu são retratadas - a última, como era de se esperar, surge numa figuração de luxo, praticamente. Apesar do boicote à apresentadora, o seriado não se deixa ofuscar. Celebrar a história de Ayrton Senna é mais importante, assim como introduzi-lo às novas gerações. É obrigatório para todo brasileiro assistir.