Em dezembro de 2018, a atriz Regina Duarte postou uma foto em seu Instagram que repercutiu nos sites especializados em cobertura da vida de celebridades. Na foto, ela aparece de maiô no Mar Morto. O registro foi feito durante uma viagem a Israel, organizada pela reverenda Jane Silva - que, nesta quinta-feira, foi indicada pela própria atriz para ocupar temporariamente o cargo de secretária adjunta da Secretaria Especial de Cultura. A reverenda é a atual secretária de Diversidade Cultural da pasta e ocupará o cargo de número 1 da Cultura interinamente, até que haja uma definição sobre a nomeação de Regina Duarte.
A relação de Regina Duarte e de Jane Silva se fortaleceu durante essa viagem a Israel. Na ocasião, a reverenda entregou a medalha de "embaixadora da paz" à atriz. É possível que Regina tenha sido "iniciada" no meio conservador e religioso por André Duarte Franco, de 49 anos, seu filho mais velho - que tem proximidade com lideranças do movimento de direita Nas Ruas, do qual faz parte a deputada Carla Zambelli. Aliás, na mesma viagem, a deputada também recebeu essa homenagem.
A atuação da mineira Jane Silva em defesa de Israel tem início nos anos 90. Em uma série de entrevistas, ela declarou ter morado dois anos em Israel e lá estudado e se aprofundado em assuntos bíblicos. Por conta desses estudos, ela teria se transformado em uma referência no tema e palestrante em igrejas do País. Paralelamente, ela se dedicava a organizar viagens de turismo para Israel. Ela também é presidente da Associação Cristã de Homens e Mulheres de Negócios e da Comunidade Internacional Brasil & Israel. Por dois anos, atuou como presidente da International Christian Embassy Jerusalem no Estado de Minas Gerais.
A militância política da reverenda, pelo menos de forma mais pública, começou nas eleições de 2014 - quando fez campanha aberta contra Dilma Rousseff e a favor do então candidato tucano Aécio Neves. No Twitter, Jane escrevia mensagens como "sou mineira, sou 45". A partir de 2015, ela entrou de cabeça na campanha pela prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Em um vídeo no YouTube, Jane acusa o governo Lula de construir a embaixada da Palestina no Brasil e "financiar o terrorismo" no País.
Foi a promessa de transferência da embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém que despertou o bolsonarismo na reverenda Jane. A partir dessa promessa, ela se transformou em uma forte aliada do presidente. Em agosto de 2018, ela foi protagonista de um ato pró-Bolsonaro na comemoração dos 70 anos de Israel, que foi realizado na Igreja Batista da Lagoinha - a mesma igreja da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves. A partir daí, ela também teria se aproximado do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) - principalmente por conta da promessa de mudança da embaixada em Israel.
Jane foi nomeada no fim de novembro do ano passado pelo então secretário Roberto Alvim. A primeira ideia da reverenda no cargo era a de conversar com artistas e cantores para resgatar o "romantismo entre homens e mulheres" e os "valores da família e do casamento". Até o vídeo com citações nazistas que derrubou Alvim, Jane dizia que o secretário estava resgatando a imagem do Brasil no exterior.
Depois de demitido, Alvim não apareceu mais nas postagem de Jane - apenas textos reafirmando a ligação dela com Israel e o povo judeu. No último dia 20, ela postou uma foto com Regina Duarte em seu Facebook: "Como Secretária da Diversidade Cultural dou maior apoio para Regina Duarte aceitar o convite do JB (Jair Bolsonaro)".
Três dias depois, nesta quinta-feira, Jane se transformou em secretária adjunta da Secretaria Especial de Cultura. Entre seus ídolos, figura o presidente americano Donald Trump.