Ulysses Cruz dirigiu Tarcísio Meira em seu último trabalho no teatro, a peça O Camareiro, em 2015, em São Paulo. Tarcísio viveu Sir, um ator decadente que, mesmo durante os bombardeios sobre Londres durante a Segunda Guerra Mundial, insistia em interpretar Shakespeare. A pedido do Estadão, Cruz se recorda daquele momento:
"Tive o privilégio de trabalhar com o grande Tarcísio Meira, que fez história na TV , no teatro e no cinema . Fizemos juntos a peça O Camareiro, em 2015 . Me lembro que, quando o ator KiKo Mascarenhas e eu fomos convidá-lo para viver o Sir, ele nos olhou perplexo e perguntou: "Vocês acham mesmo que eu seria capaz de fazer um personagem como esse ?"
Tarcísio era assim - não sabia o poder que tinha como ator e nem o tamanho de seu talento . Eu me lembro que, nas primeiras leituras em seu apartamento no Rio de Janeiro, sentada discretamente, num lugar que não a víamos, estava Glória Menezes, a companheira de toda a vida , ouvindo nossas tentativas de dar vida ao lindo personagem por horas a fio.
Cúmplice. Sim, o amor. Quando ela viu o ensaio geral com a viga do cenário despencando sobre o palco, destruindo simbolicamente tudo o que aquele personagem representava, ela se pôs a chorar e não havia como fazê-la parar.
Tarcísio desceu para a plateia, pegou-a pelas mãos, levantando-a da cadeira e deu o mais lindo e longa abraço que já vi até que ela se acalmasse da emoção.
Ele disse: 'Somos atores, nós compreendemos o que é a paixão'. E riu.
Mesmo aos 80 anos, aquele sorriso eternizado pela TV estava intacto. Quando ele queria algo que sabia que seria uma batalha para eu concordar, sorria. Eu dizia: 'lá vem o sorriso do Capitão Rodrigo...' Não havia nada a fazer - como resistir? Era um homem gentil, generoso, amigo querido."