Identidade e pertencimento são os temas centrais de American Eid, curta-metragem que integra o Launchpad: coletânea de pequenas histórias lançadas pelo Disney+ com o objetivo de levar às telas perspectivas marginalizadas.
O curta conta a história de Ameena, uma menina muçulmana que deixou o Paquistão para viver nos Estados Unidos com a sua família. Ao acordar no dia em que é celebrado o Eid al-Fitr (Festa do Desjejum em tradução livre para o português) e descobrir que terá de ir para a escola, ela fica desolada e parte em uma missão para transformar a data em feriado escolar.
O Eid é uma das principais celebrações dos muçulmanos. É o dia em que se comemora o fim do Ramadã (mês sagrado no qual é realizado o jejum do nascer do Sol até o escurecer). O encerramento desse ciclo é um momento de agradecimento e celebração marcado pelos encontros familiares, uma festa com direito a presentes e comida. Entre as religiões abraâmicas é uma data de similar importância a Páscoa para os cristãos ou o Yom Kipur para os judeus.
Mas Ameena não vive mais em uma local majoritariamente muçulmano, os seus costumes, crenças e festas passam a ser "desconhecidos" nesta nova realidade. American Eid é sobre a Ameena e também é sobre as sensações e impressões que marcaram a vida de Aqsa Altaf, roteirista e cineasta que assina a história. “Sempre quis ver um filme da Disney sobre o Eid, um feriado que nunca vi representado na mídia convencional. Quando era uma garotinha crescendo no Kuwait, lembro-me de pensar ‘por que não temos histórias sobre pessoas que se parecem comigo e têm uma vida como a minha?’. Tudo o que assisti me educou sobre um mundo que não era o mundo em que eu ou qualquer pessoa ao meu redor vivíamos. Também me lembro de concluir inconscientemente que talvez nossas histórias não tivessem valor para a plataforma convencional”.
Não é de se estranhar que em muitos momentos American Eid busque educar o público sobre o significado e a importância da data para os muçulmanos. Mas ele não para por aí. Ameena e a irmã também representam formas distintas de navegar as diferenças e desafios que envolvem a migração. Enquanto a pequena segue usando roupas mais tradicionais paquistanesas e com muita saudade de casa, daquilo que sempre lhe foi familiar, Zainab é uma pré-adolescente tentando se encaixar. Ela omite suas origens, apresentando-se para os novos colegas apenas como Z. Ela também não tem coragem revelar o verdadeiro motivo da sua ausência dos ensaios de dança: o impacto de praticar uma atividade física durante um período de jejum total (de água e comida).
As irmãs buscam, cada uma a seu modo, uma forma de pertencer neste novo espaço, nesta nova realidade. Ameena não têm questões com a sua origem, o seu desafio é aceitar a mudança, a possibilidade de criar novas memórias. E, assim, ela ajuda a irmã a não ter vergonha da sua herança paquistanesa, reforçando o vínculo entre ambas que antes parecia fragilizado. Um curta otimista que opta por não só informar sobre outra cultura, mas por ressaltar que o desejo de pertencer é universal. Nas palavras de Aqsa: "O lar é onde você pertence, mas também é onde você consegue quem você realmente é".